quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Arrecadação

Anabark, Espreitar (JAN2010)

Guardo tudo o que vejo e sinto na alma como se parte de mim soubesse que o mundo que conheço acaba amanhã ou no dia a seguir. Guardo quase tudo de forma arrumada, mas há dias em que me faltam horas ou, se calhar, acordo tarde e, nesses dias, deixo cair partes sem dar conta da dasarrumação que me fica nos intervalos de cada passo para o dia seguinte. E a parte de mim que teima num fim do mundo eminente estremece em sobressalto e recomeça, por onde pode, a juntar o disperso espalhado em meu redor. E recolho no que encontro outros sentidos, outras lógicas de arrumação. Na alma mantenho a calma de saber onde estou e, embora o tempo me seja cada vez mais curto e pouco para me guardar em tudo quanto me abriga a existência, reconheço útil o esforço de aprender e guardar o que vou vivendo. Tudo quanto conheço terá fim. Até mesmo a alma, engrandecida por tudo quanto aprende e segura, um dia acordará exausta e perdida na imensidão acumulada. Porque guardo tudo, não esqueço nada. Não me abandono de sentido nem de propósito, mesmo quando acordo cansada das noites em que teimo não dormir para ter a certeza de que, no dia seguinte, o mundo amanhece para nova hipótese de vida.

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