sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Ao lado

José Paulo Andrade, More red and green

Somos o que somos, o que aprendemos e o que nos acrescentamos todos os dias,  mas também o que não somos, ou a incapacidade de ser o que nos projectamos e que gostaríamos de cumprir. Somos também o que falhamos e só uma inconsciência adolescente nos distraí dessa condição inevitável. De resto, vagueamos no desassossego do que não chegamos a ser e do que perdemos por não ter sido suficientes. Talvez porque nunca deixamos de querer o que não somos. Talvez porque aquilo que conseguimos, aquilo em que nos satisfazemos nos seja pouco e, por vezes, por aproximação. Ou porque queremos pouco o que temos, ou porque tendo o que queremos não o amamos. Porque o que amámos e perdemos, seguimos a amar o que, antes, não reparámos por inteiro, aquilo que não amámos completamente apenas o pensávamos como uma emoção. Porque o coração parado não sente, pensa e perde por omissão. Somos desejo infinito e erros também. E, às vezes, aprendemos na perda o quanto não somos.

2 comentários:

whitesatin disse...

Hoje faz-me mais sentido que ontem...
O mundo distorcido em que vivemos que nos ensina a ser o que não somos, a querer o que não queremos nem precisamos...
Até a ideia de Amor nos é transmitida de forma deturpada.
O Amor não é dependência mas sim Partilha, não é necessidade mas sim Vontade, não é conformismo mas sim Liberdade!
Tomar consciência e reencontrar o que de melhor existe em cada um de nós é reposicionar-me no Universo e inverter os ciclos padronizados no ADN.
Sofremos a dor da perda quando vivemos na ilusão de que pensávamos que queriamos e/ou precisávamos de algo que nem sabemos muito bem o que é...aquela sensação de incompletude...
Eventualmente, mas nem sempre, alguns de nós acabam por compreender que, na realidade, aquilo que perderamos até nem o queriamos assim tanto nem precisávamos realmente...era uma emoção falsa provocada por uma ideia ilusória...e é nesse momento que o espírito acorda e "aprendemos na perda o quanto não somos".
Sim, hoje faz mais sentido que ontem, pelo menos para mim,
porque hoje sei mais um bocadinho de mim. :)

Grata pelo tanto que me tens ensinado, dear friend! :)

Um abraço cheio de gratidão!

Always disse...

Nat,
Acho que disseste tudo... Quando percebemos que construímos a ideia de alguém e que esse alguém construído nem sequer existe, dói porque amámos a ideia como realidade.

O Amor adulto será amar não apenas da ideia, mas, sobretudo, aceitar o desvio à ideia - porque ninguém é perfeito como idealizamos. E, nesta perspectiva, é preciso aceitar em nós 'o quanto não somos', ter noção de nós mesmos e da nossa própria imperfeição, para não exigir do outro a perfeição que não temos.

Um abraço reconhecido! :)