quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Linha de água

Queno, Lac Nominingue - Quebec, 2011

Afogo os pés cansados de sonhar caminhos e de, passo a passo, percorrê-los na imaginação, detrás para a frente e ao contrário. Descanso e respiro o ar que nunca me chega porque o ar é raro neste sítio alto onde os sonhos nunca perdem asas. No céu, estranho a ausência de estrelas, porque sei que existem e já as vi por aqui e nos meus olhos guardei-lhes a luz que nunca chega ao fim. Não preciso de ver, guio-me por instinto. Encontro tempo para ficar suspensa numa ou noutra ideia à espera de precisão. Sentada neste não-lugar onde o universo inteiro acontece devagar em mim, chego mais perto da essência das coisas que o são porque eu as penso, de outro modo não existiriam. Ter alma é uma extravagância, alimentá-la é um luxo. Quando olho em meu redor as ruas estão desertas de pessoas, embora cheias de gente indistinta. Deixo-me à beira da água, os passos que dou no mar não me custam chão. Troco terra sonâmbula por mar adentro para chegar mais perto do que me pressinto.

2 comentários:

rv disse...

adorei este texto A. acho q é provavelmente dos que mais gostei por aqui :)

Always disse...

Obrigada, R. :) Ás vezes é assim, a inspiração flui seguindo o ritmo e a intensidade do sentir! Beijos!