segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Febre

Queno, Kamouraska, Quebec (2010)

Hoje não me encontro. Deixo-me ficar sossegada á espera que os olhos adormeçam, imitando o corpo dorido e dormente. Hoje não encontro nada em mim para além da febre que me impede de dormir. Imagino coisas sem sentido e essas coisas sem sentido tomam conta de mim. Deixo de estar aqui, descubro-me em sítios improváveis, em conversas impossíveis e nada é real, para além do corpo demasiado quente, invadido por histórias febris que não domino. Hoje não me encontro na minha vida de todos os dias. Hoje procuro um fio condutor e digo coisas sem nexo com a lógica de quem procura água num deserto árido. Hoje adormeço em miragens que me invento e que não distingo entre si. Não dou conta de mim, ardo em febre e queima-me o coração que seguro nas mãos como quem salva coisas de um enorme fogo.

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