quarta-feira, 24 de julho de 2013

Em quem não sobra o perdão

 
Anton Okički

Sentou-se no seu canto à espera de envelhecer. E depressa envelheceu, mais depressa do que o normal. Cresceram-lhe cabelos brancos dentro da cabeça e o olhar foi ficando baço até que perdeu toda a luz que antes o transbordava. Deixou de ver, de falar e de sentir também. Ficou quieta no mesmo sítio até não lhe sobrar mais nada de juventude, como quem desiste da inquietude da vida e abraça a tranquilidade da morte por antecipação, incapaz de assumir o risco e o desconforto dos dias incertos. Envelheceu uma vida dentro da sua própria vida por opção. E enquanto vai desaparecendo de si mesma, segura de mão fechada ressentimento e o desperdício de acreditar que tem outra vida para viver. Olho-a à distância, tento chegar-lhe e caio sempre no chão, magoo-me. Já parti, por ela, vezes sem conta o coração.

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