O frio que, lá fora, despe as árvores até à próxima estação e pinta o chão de folhas em tons de Outona quase Inverno, aconchega-nos num abraço que queremos sempre mais quente e mais demorado. O calor que procuramos no corpo uma da outra prolonga-nos a vida numa estação única e a certeza da escolha - o Amor escolheu-nos e nós escolhemos o Amor. Sinto, no abraço que nos recolhe ao fim do dia, a essência desse encontro feliz que nos devolve a vida que antes de 'nós' só existiu enquanto promessa. Sinto, no beijo em que nos damos e recebemos por inteiro, a alma e o corpo encontrados e a eternidade que ouvi dizer, sem acreditar, tantas vezes antes de ti. Hoje sei que o Inverno é apenas uma estação do ano e que a lã das mantas que nos cobre, embrulhadas uma na outra, não nos deixa passar frio. E que depois do Inverno virá a Primavera e assim sucessivamente. Tenho sorte, porque, às vezes, a vida é um deserto de gelo onde o sonho esmorece e morre, porque ouço dizer a alguns que o Verão é uma apenas promessa. Eu acredito no calor que me aninha todo o ano. Tenho-te a ti, não dependo da meteorologia.
sábado, 29 de novembro de 2008
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Sem lugar
Recordo a rua que nos encontrou ou em que nos encontrámos pela primeira vez. Já não existo no mesmo sítio e faltam-te poucos dias para deixares a vizinhança que me tem ausente. Pouco importa quando conquistámos um mundo depois disso. Para trás ficam instantes feitos de primeiros momentos, coisas nossas que não morrem no tempo. Para trás ficam apenas lugares que continuam nossos para além do espaço que ocupam. Nada se perde numa partida de mãos cheias. Os dias que aí vêm são o resto da nossa vida e será sempre assim. Tu e eu existimos em todos os cantos do mundo, tu e eu não temos nem tamanho nem distância porque não existe medida quantificável que nos contenha no que vivemos por debaixo da pele que nos embrulha numa só. Os dias que aí vêm são mares infinitos por onde nos navegamos de corpo e alma. O lugar que nos acolhe é a nossa certeza de ser sempre sem limite e incondicionalmente. A rua que, um dia, nos encontrou continua no mesmo sítio, mas nós, que deixámos de por lá passar, existimos muito para além dessa recordação do princípio. Somos os dias por vir e a esperança de que o tempo não tenha fim. Recordo a rua pelo prazer eterno de te revisitar ao meu encontro pela primeira vez. Será sempre assim.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Na terra inteira
Está escrito em todo o lado, nas paredes, nos muros, no chão, o que corpo reconhece infinito no coração. Tudo à minha volta me fala de ti. Está escrito em toda a parte que tem de ser para toda a vida, que nós somos sem tempo em todas as dimensões. Este nós em que crescemos cada vez mais uma é um estado de existência superior. Porque crescemos para além de um 'eu' e aprendemos a melhor parte de nós. Porque nos cumprimos, partilhando. Porque o ser é mais inteiro por ser capaz de integrar o outro e renascer nessa união. O Amor para toda vida é capacidade de nos reaprendermos uma na outra num nós forte e adulto. A minha vida é hoje infinitamente mais rica pelo que te aprendo e o que dou de mim. Eu e tu somos em tudo mais porque amamos e sabemos a importância do Amor. Está escrito na terra inteira que tu e eu somos um lugar infinito, um caminho único, um universo por descobrir. Debaixo da minha pele o nós é imortal.
sábado, 15 de novembro de 2008
Cá em cima
Lá fora, as horas avançam de um lado para o outro e ignoram-nos. Espreitamos cá de cima o que não nos apetece e ficamos coladas à janela ausentes do tempo que, lá fora, não é nosso. Aqui, onde nós estamos, o tempo é História - a nossa era, passado, presente e futuro. Por debaixo da janela, na rua, onde as horas correm apressadas, as pessoas vivem indiferentes a esta ideia de imortalidade. Tu e eu sentimos e vivemos uma outra dimensão, onde a medida de tempo é o ritmo cardíaco do teu toque na minha pele, do teu beijo no meu coração. E nesta eternidade de sentidos em que nos concebo, nada nos interrompe. Nesta História heróica e exemplar vivemos muitos anos, ontem, hoje e depois disso. Tu e eu somos o espaço e o tempo do Amor - indiferente à vida e à morte, absoluto e incondicional. Para além do Amor, não há matéria nem outro tipo de partículas - só vazio, escuridão, o nada.
domingo, 9 de novembro de 2008
Am(arte)
Haverá arte maior do que o rendilhado do Amor? Porque a malha que o tece exige-nos uma inegualável disponibilidade e porque somos absolutos e verdadeiros para nós mesmos quando amamos. Se te sinto de forma plena nada me faz desistir da parte que és em mim, porque sem ti não sou eu, sou apenas um estado de existência transitório. Amar-te é ser mais do que apenas eu, é acreditar que tenho um sentido e que me cumpro na arte de viver. Porque o Amor é vida e o contrário é morrer. Sem ti cuidei que morria e morri todos os dias e todos os dias sobrevivi porque acreditava que eras tu a minha vida e que, um dia, me voltarias. Porque, apesar da dor do longe e da distância, acreditei em nós, porque o Amor vivia em mim e sempre soube que em ti também. Haverá maior arte do que esta que me esculpe, no coração, o teu nome?
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Mistério
Assim, no meio de uma paisagem aberta ao infinito, visto-me de céu e saboreio o vento que me empurra. Tenho a sorte de reparar na brisa e nos diferentes tons de azul que me espreitam lá de cima. O espaço que ocupo é pouco mais do que o meu tamanho e, por pouco que seja, não preciso de mais porque não sou mais do que eu mesma, logo dispenso o excesso ao qual não serei capaz de dar uso. A dimensão das coisas é a grandeza da vida interior que as habita e não o que a física torna lei. Do tudo ao nada vão muitas vidas num só tempo, vidas de nada e vidas de tudo. A existência perfeita é aquela em que coincidimos no que somos com o que os outros nos reconhecem. É difícil, senão impossível - somos múltiplos em nós mesmos e nos outros uma imagem apenas. Numa paisagem deserta, embrulhada de vento, tudo parece mais simples e inteligível.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
A fragilidade das horas
A fragilidade dos dias é vivida hora a hora, segundo após segundo. De um momento para o outro a luz pode tornar-se noite escura, impossível de navegar e, por vezes, definitiva. E nem sempre nos damos conta deste estado de fraqueza que é passar pelo tempo sem perceber que os dias passam sem retorno. Esbanjamos o que não é nosso, deitamos a perder o que jamais conseguiremos ganhar. De uma hora para a outra perdemos tempo de vida a pensar que temos uma vida cheia e adormecemos indiferentes à contagem decrescente que, irremediavelmente, caminhamos. Consumimos tempo por tudo e por nada menos pelo que é essencial. Ou porque achamos que os dias não têm fim ou porque não sabemos o que é importante. Passamos pela vida sem cuidar do jardim cujo o verde primavera, um dia, terá fim. Não chegaremos a tempo de salvar coisa nenhuma se não soubermos a medida exacta de cada segundo que respiramos.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Do lado de fora, o Inverno
Agora que o Inverno se aproxima da cidade onde tu e eu somos uma, dou-me conta que esta é a primeira estação fria que passamos em nossa casa. As minhas mãos frias nas tuas, tão geladas quanto as minhas, encontram debaixo da tua pele um verão tão longo quanto o Amor que nos embrulha indiferente às estações e à mudança de cor da paisagem. O tempo frio e as tempestades são meros intervalos que nos engrandecem o aconchego de um nós sempre quente e pulsante como a vida que anima as montanhas de fogo. Em nossa casa há mantas quentes em cada corredor da alma e no quarto abraça-nos um sol permanente como o centro de luz que organiza galáxias e dá forma ao Universo. O frio não nos chega, o calor que vem de dentro retem o Inverno à porta de casa. O Amor embrulha o teu corpo quente no meu e quando adormecemos sonhamos com a luz intensa que nos abraça o passado, o presente e os dias por vir.
sábado, 1 de novembro de 2008
Things to remember

"...Love Anything
Use a metaphor and tell us that your lover is the sky
Sometimes
Sometimes nothing often means the beauty of the human experience
These things are to be remembered
To be remembered"
Use a metaphor and tell us that your lover is the sky
Sometimes
Sometimes nothing often means the beauty of the human experience
These things are to be remembered
To be remembered"
PETER MURPHY, "Things to remember"
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Lá estaremos no Coliseu, hoje à noite, para lembrar com o mesmo prazer de sempre...
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Ao relento
Hoje senti frio a caminhar pelo dia soalheiro que nos amanheceu. Senti o frio de não te encontrar nos meus olhos durante o intervalo que deixámos por fazer. E o dia foi passando por mim a reclamar por atenção, indiferente ao frio instalado debaixo da pele que só aquece ao pé de ti. Agora que as horas mudaram e é quase noite sem o ser aqueço as mãos uma na outra, para que o sangue me regresse nesta pressa que tenho de chegar-te a casa. E tu, que corres mais depressa contra o tempo que não te sobra e estarás à minha espera, poderás reparar no arrepio dos dias sem ti, que disfarço no calor destes braços urgentes para te aconchegar. O meu abraço queima da impaciência que o dia me acrescentou. Se as palavras falham tantas vezes a eloquência de te fazer saber o que sinto, os braços que te abraçam têm a força de ontem e a confirmação de amanhã. Hoje celebro a certeza de que é em ti que quero morar em todas as estações do ano.
domingo, 26 de outubro de 2008
Segundo a segundo

A vida é a soma das horas e do que deixamos construido nelas. Depois do fim dos dias, seremos apenas o que deixarmos ficar da nossa presença no tempo que percorremos dentro e fora de nós. Nada acontece sem consequências, tudo é um princípio um meio e um fim. Cada gesto, cada palavra contam, fazem a diferença de um antes e um depois na distância que vai daqui a ali. A vida é esse contra-o-tempo em que corremos todos os dias de olhos fixos no relógio. Por vezes, perdemos tempo e envelhecemos nessa inconsciência. E quando damos por isso é tarde demais para regressar ao ponto útil das coisas, porque o momento certo não se repete, é único e quando acontece é nossa missão fâze-lo durar para toda a vida. Sensatez e sabedoria é perceber que o tempo que dispomos, que é tão pouco para o tanto por fazer, é valioso em cada segundo.
sábado, 25 de outubro de 2008
Escada
Subimos e descemos quilómetros de vida. Aqui e ali paramos e depois continuamos, nem sempre descansamos. Subimos e, por vezes, caímos. Descemos e, por vezes, escorregamos. Por vezes magoamo-nos e magoamos. Subimos e descemos quilómetros de incerto, de corpo tremido pela dor dos estilhaços da queda. Subimos e descemos em círculos e partimos e chegamos ao mesmo sítio incansavelmente. O caminho é uma escada em caracol, porque a vida não é uma recta. São montanhas e planícies que nos olham de frente como desafios à grandeza da alma.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Sem igual
Sabes o que é tão único como o inexplicável do Amor? É encontrar em cada beijo teu uma nova casa com a dimensão de lar. Nos lábios que se queimam neste encontro de almas há uma transcendência que apenas alguns poderão testemunhar. Tenho a sorte de aprender contigo a vida e o que houver depois disso, se alguma coisa houver depois de nós. E se nada houver, viveremos em tudo o que ensinarmos agora. O que é urgente é este Amor infinito que torna caminhos de pedra em passadeiras de veludo. A minha pressa é apenas essa, percorrer-te passo a passo como um milagre que me faz maior por dentro e mais inteira pelo entendimento da verdadeira essência das coisas. E vejo-te crescer como eu e repouso nessa tranquilidade de quem tem a mesma terra debaixo dos pés. Sabes por que é, afinal, tão único e inexplicável o Amor? Porque nos abraçámos por debaixo da pele contra todos os improváveis. Que outra coisa existirá com a mesma força de infinito?
sábado, 18 de outubro de 2008
Noite e dia
Porque queremos tudo ao mesmo tempo e desejamos infinitamente o que não conseguimos ter no mesmo momento. Porque inventamos caminhos e pintamos de nós o céu e a terra por onde viajamos. Porque procuramos canções em que a rima vem de dentro e não da forma arrumada das palavras. Porque acreditamos uma na outra mesmo quando o que dizemos, desastradas, não faz muito sentido. Porque sabemos que não há vida sem nós porque tu e eu somos uma. Porque sentimos para além da pele a aflição da ausência e sabemos que sem nós morremos. Porque a vida só é vida quando o sonho existe. Porque vivo um sonho. Porque tu existes, porque te encontrei. Porque nos temos. Para sempre e mais um dia. Sweet dreams are made of this...
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
Quinta Dimensão
Olho à minha volta e para dentro também. Observo as marcas, os rasgos na paisagem que vai mudando na sucessão dos dias. Tudo acontece naturalmente como uma queda de água durante o degelo que anuncia a Primavera. Tudo é tão inevitável, tão cheio e dramático também. À minha volta observo objectos envelhecidos e todas as outras coisas que, a seu tempo, chegarão ao fim maltratadas pela inevitabilidade dos anos que passam. O tempo envelhece por fora mas nem sempre por dentro, nem sempre nós e o tempo que nos assiste caminhamos em simultâneo. Nós, por exemplo, respiramos à margem do tempo e vivemos para além dele. Nós, por exemplo, rejuvenescemos por dentro ao cumprir cada beijo que nos falta dar, porque te devo, e tu a mim, todos os beijos que não demos antes de nos encontrarmos. Nós, por exemplo, abraçamos o Amor como se os dias tivessem pouca importância na força do abraço que é sempre mais intenso e mais demorado, imenso. Nós, por exemplo, não somos o tempo, somos a força de vontade contra a qual o tempo nada pode. Porque queremos passado, presente e futuro tudo na mesma hora, porque o que nos habita não é tridimensional. O Amor é a nossa dimensão de corpo e matéria sem fim.
sábado, 4 de outubro de 2008
Toda a vida
Se 'para-toda-a-vida' fosse uma paisagem, eu seria o farol a abraçar-te o caminho, a olhar-te por ti incansavelmente, da noite escura às manhãs cheias de sol, através do nevoeiro ou da transparência dos dias de cristal, sempre no mesmo sítio de porto seguro, de terra firme onde podes descansar confiante de que o nosso abraço vale a eternidade. Sou essa vontade de horizonte sem fim, de braços estendidos para um nós cada vez mais além, forte e infinito como tudo o que nos prometemos com absoluta certeza do que sentimos. Se 'para-toda-a-vida' fosse o instante de beijo apaixonado, eu beijar-te-ia com o desejo de quem te descobre os lábios pela primeira e última vez, como se não houvesse mais dias a não ser o momento exacto em que duas almas se encontram e se fundem num único corpo. O que tenho como certo é que 'para-toda-a-vida' é hoje e o que sabemos ser hoje, o que aprendemos agora, o que damos de nós livremente e recebemos com a mesma vontade. Vivemos no encadeado dos dias, sei que o resto da minha vida é feito de hoje e, hoje, eu aposto tudo.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Inexistência
Se o mundo, amanhã, chegasse ao fim teria pena, muita pena, pelo tempo que não tive contigo, pelo tempo que não nos sobrou, pelo tempo que tardámos desencontradas. Este tudo que tenho em nós me parece sempre pouco, porque o Amor não tem medida e nada esgota a vontade de mais longe e mais além, de mais caminho, mais luz e mais céu e terra ao mesmo tempo. A imensidão que me embrulha em ti não tem fim, porque não tem princípio senão na essência do que sou, de tudo quanto me começa e me acaba. Sem ti não seria eu, porque eu sou aquilo que sinto e me define e este tanto que te quero e que me faz sentir vida é a minha própria certeza de existir. O Amor é tudo o que vale a pena, o resto são formas de enganar o vazio de quem se procura sem se encontrar. O Amor dá-nos a certeza de um lugar próprio e um sentido que nos cumpre e nos completa. Eu-sem-ti é uma vida impossível, porque não há vida para além de nós. Sem ti, só imagino a inexistência.
domingo, 28 de setembro de 2008
Lembra-te...
A nossa casa, sem pedra nem ferro, tem a força das árvores que rompem o chão, debaixo para cima, num abraço a tocar o céu cada vez mais alto e aberto. A nossa casa é feita de um querer segurar e por a salvo todas as pequenas e grandes coisas que embrulhamos no tempo e nas recordações que coleccionamos. E enquanto escrevo, recordo o que, ontem à noite, te embalei ao ouvido: deixa-me abraçar-te com a imponência da vontade que o Amor fortalece e nunca põe em causa. Quero abraçar-te e passar o resto da minha vida a tornar mais alto e mais aberto este abraço permanente e este querer-te sem medida. Ainda que nem sempre me acredites as palavras, a verdade vem de dentro e o que escrevo vem do centro da alma que não sabe mentir nem inventar com talento suficiente o que o coração sente simplesmente. Assim te sinto eu, sempre infinita no ar que me mantém viva. E porque te encontro em toda a parte em mim, sinto que a nossa casa é feita da vida que, ambas, desejamos e acreditamos sem fim.
sábado, 27 de setembro de 2008
Algures

Adalberto Tiburzi, Looking East, 2005
Há dias em que tenho dificuldade em acordar. E não acordo. Passo pelo dia sem abrir os olhos, lenta e inconsistente, sem que as horas, as coisas e as pessoas cheguem a dar por mim. Há dias que acordam a minha indisponibilidade e, por mais que eu tente arrastar-me para fora desse quarto perdido dentro da minha cabeça, não depende de mim mas de uma chave nem sempre combinada com a fechadura. E os meus olhos fechados, ainda que reconheçam o ruído de um relógio que me dá notícias do mundo lá fora, revestem-me o corpo de uma invisibilidade necessária, que me protege da não-presença das coisas e das pessoas como eu as imagino. Porque, às vezes, só existem as horas e, nelas, imagens que não nos abraçam e nem reparam nós.
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