segunda-feira, 30 de abril de 2007

Regresso

Linda Alstead, Coral Bark Maple 2, 2003

Amanheço sempre no abraço infinito em que me guardas a noite inteira. Lá fora, ainda que chova, a paisagem reflecte cores vivas que escapam do sorriso dos teus olhos. Acordo mais cedo para que me chegues mais depressa e embrulho-te em sonhos felizes antes mesmo de adormecer. E os dias confundem-se com as noites porque nos sonhamos o tempo inteiro e no que sonhamos todos os momentos são verdadeiros. Passamos pelos dias multiplicando os instantes plenos em que tudo acontece para além do imaginável, porque neles acontecemos por inteiro em pouco tempo, como quem vive a vida num só dia. Roubamos o tempo para dividi-lo em fracções a nosso favor e existimos em horas diferentes das contadas pelo mundo. Existimos no relógio do Amor, que não tem ponteiros, nem horas nem dias. Somos o intemporal que escapa à matémática do tempo. Somos a parte real de um conceito abstracto que não sabemos descrever. Mas sentimos, sempre mais, sem peso nem medida. Nem os dias são dias nem as noites são noites, o tempo só existe quando nele nos encontramos. Depois de nós existem apenas intervalos em que o mundo fica suspenso até que nos regressemos em cores vivas de sol pendurado no olhar.

sábado, 28 de abril de 2007

Começas-me os dias

Stephane Bouchard, I Miss You Tonight, 2006

Hoje o dia chegou sem ti.
Minto.
Os dias nunca chegam sem ti. Tu estás sempre presente mesmo nas horas que passo sem ti. O dia não chegou propriamente sem ti porque tu chegaste logo a seguir.
Minto.
Não chegaste logo a seguir. Não chegaste simplesmente, porque estiveste sempre aqui. O dia chegou quanto tu entraste por ele adentro e me enconcontraste à tua espera.
Minto.
Eu não estava à tua espera, porque tu nunca chegas a partir. Não sei como o dia começou realmente, apenas me lembro de te ter sempre comigo. Só sei desta saudade infinita como os dias que chegam sem ti. Sei que o dia chegou e eu amanheci nesta promessa constante de nunca partirmos do que somos... eternamente Uma.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Dentro e fora do copo

Stephane Bouchard, Splash, 2005


Enquanto dormes fico a olhar este copo que transborda do que julguei perdido. Dentro de um copo vazio passava-se um universo de amor à tua espera, que era infinito como eu te prometi. E hoje, neste copo que componho com o que somos e sempre fomos, guardo o amor sem peso nem medida em que nos redescobrimos. O vazio foi ausência, falta e a tortura das saudades que nunca chegam ao fim. O vazio foi sentir-te na distância dia após dia. O vazio era saber que existes e não poder partilhar essa existência. O vazio era muita coisa e o nada que me sobrava por detrás do vidro. O vazio era uma escada de palavras para te chegar e dizer o que te digo hoje ao ouvido. Dentro do copo vazio estava apenas eu e o sonho de me voltares e te deixares ser comigo. E tu dormias, sonhavas e amanhecias ao meu encontro dentro do copo. Um dia acordámos juntas a vontade de abreviar o vazio e deixar o Amor escrever-se a si mesmo. Hoje, enquanto dormes no abraço em que te guardo a noite inteira, transbordo de palavras de amor a transparência do vidro. E este mar infinito e intemporal de amor que coloco dentro do copo, é o tudo que cabe dentro, o que sobra eu guardo em pensamento que é infinitamente maior neste tanto em que existes em mim. Noite após noite, colecciono a nossa imensidão 'dentro de um copo vazio'.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Pedido

Shinta Djiwatampu, Ten, 2005

Que sintas sempre o meu calor ao acordar e antes de adormecer, porque o fogo em que me sinto em tudo o me és, não tem noite nem dia. Que me sintas ao teu lado a cada instante mesmo naqueles em que pareço não fazer sentido. Que me sintas sempre neste amor que me tranborda o corpo, alma e coração. Que nunca me procures por não saber onde estou, porque estou sempre contigo. Que me compreendas sempre mesmo quando não entendes o que eu digo. Que me ames perdidamente mesmo quando te dás conta da minha imperfeição. Que repares sempre no abraço que te dou, porque não tem tempo nem distância, tem a força da eternidade. Que acredites sempre em mim, porque a minha única verdade é querer-te infinitamente e amar-te incondicionalmente.

A imperfeição humana

Oscar Galvan, Deviant Art - Technical Imperfection

Que fazer com os dias em que nos sentimos ausentes de nós mesmos? Que fazer dos momentos em que nos sentimos fracos, básicos e pouco sofisticados nas ideias? Que fazer daquele instante em que falhámos redondamente no que quisemos dizer e tudo parece descarrilar a partir daí? Que fazer da nossa imperfeição como pessoas? Eu não sei. Não vou saber nunca, porque sou humana e a minha condição enquanto ser humano é aquilo que em arte se designa 'work in progress'. E como 'obra não acabada' que somos todos, somos muitas vezes inconvenientes, despropositados e injustos. Está na nossa natureza, estamos em permanente construção. Na melhor das hipóteses, vamos aprendendo à custa do erro. Assumir que erramos é um passo em frente no que nos queremos edificar. Errado seria rejeitar as fraquezas em vez de trabalhá-las com a fé de, amanhã, acordarmos melhores pessoas. Mas não somos apenas imperfeição, temos coisas boas que nos espreitam e que damos aos outros sem reservas, em acto de generosidade absoluta. Por vezes, somos magnânimos na entrega e inteiros na partilha. Somos muitas coisas ao mesmo tempo e coisa nenhuma de uma só vez, porque não existem momentos absolutos e, mesmo que existissem, nunca chegaríamos a ser completamente perfeitos ou estupidamente imperfeitos. E nos dias de alma vaga, é só isso que temos de entender para relativizar as horas cinzentas em que nos perdemos num nevoeiro de coisas que só têm a importância que lhe quisermos dar, porque, em si mesmas, nenhuma importância têm. Compreender os outros é compreendermo-nos a nós mesmos. Ninguém é perfeito e ainda bem. Perdia-se a graça, a espontaneidade e a condescendência natural. E se fôssemos perfeitos seríamos tudo menos encantadores. Seja como fôr, peço desculpa por todas as vezes que fico aquém das expectativas.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Fugimos?

Anabark, Vamos Fugir (ABR07)
- 'Bora brincar...
- A quê?
- À "Apanhada"...
- Nah...
- Então a quê?
- 'Pera, já sei - Vamos fugir!...
- 'Bora!

terça-feira, 24 de abril de 2007

Eternamente fogo

Wes Hargrove, Flame, 2006

Quando se sente o Sempre um incêndio permanente, não podemos ignorar a chama que nos habita e nos recorda que a vida tem um princípio e um fim. E porque não duramos para sempre, procuramo-nos no pouco tempo que temos, procuramos um sentido, uma resposta a uma pergunta maior. Procuramos algo indefinido que nem sabemos existir; procuramos, nem sempre conscientes da procura, mas sempre certos da falta. Procuramos e nem sempre encontramos e, às vezes, desistimos, outras vezes a inquietude é demasiada para desistir do que nos falta. E um dia encontramos e, então, damo-nos conta de que a vida nos foge num instante e há que não perder tempo a imaginar o calor do fogo se podemos senti-lo debaixo da pele como chama de vida. Assim te encontrei eu, assim me incendiaste tu, assim me acendeste um 'nós'. Descubro a vida, que por pouco me escapava, neste incêndio permanente do sempre que te prometo, porque a minha eternidade és tu neste fogo em que te sinto dentro. Guardo-te em chamas, vivo-te em chamas nesta fogueira que alimento no coração infinitamente. Encontro-me a mim no que encontrei em ti - a vida por inteiro, com princípio, meio e fim, e a certeza de que tu e eu seremos para sempre este incêndio de amor.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Dias felizes

Carol E. Sandgren, Happiness, 2007

Sou feliz o dia inteiro, no desfilar das horas, minutos e segundos... E se o dia mais tempo tivesse, maior felicidade eu sentiria pelo que somos na intensidade do que sentimos. É impossível desejar mais do que ser feliz. E ser feliz é pensar-te a cada instante sem tempo nem distância e saber que me pensas também. Ser feliz é sentir, do outro lado do mundo, que adormeces a meu lado, embrulhada nos meus braços que crescem ao teu encontro sempre e em toda a parte. Ser feliz é sentir-me no teu corpo abraçada a noite inteira e acordar num beijo metafísico que nunca chega ao fim. Ser feliz é saber-te comigo com a certeza absoluta do que te diz o coração. Ser feliz é olhar-te nos olhos e encontrar neles o mesmo amor com que te visto e dispo quando te vejo chegar. Ser feliz é este querer sempre mais porque tudo é pouco e será sempre pouco para quem ama infinitamente. Ser feliz é adormecer no mesmo sonho de que, um dia, seremos tudo completamente. Sou feliz o dia inteiro e mais feliz ainda quando te sei feliz comigo e nada é mais verdadeiro do que a imensa felicidade do que só sei ser contigo.

domingo, 22 de abril de 2007

Para além das estrelas

Anabark, Até às estrelinhas (ABR07)

'Amo-te até às estrelinhas!' Mas do outro lado do mundo não há estrelas a brilhar na noite do céu denso e negro. E, mesmo assim, eu não desistia de procurar as estrelas dos teus olhos em tudo à minha volta. E tudo eras tu e a distância não me vencia de te encontrar em cada esquina do pensamento. Estremecia ao recordar-te a voz e logo me assaltava uma vontade imensa de colar no céu as estrelas do mar. Quem sabe, talvez onde estivesses do outro lado do mundo pudesses reparar e saber que tinha sido eu para te dizer 'Amo-te até às estrelinhas'. Mas depois pensei: não te amo até às estrelinhas, amo-te um universo inteiro. As estrelas nascem e morrem e algumas chegam a cair, mas nenhuma dura para sempre. Os universos não têm fim, estão sempre em expansão. O amor em que nos damos é um universo infinito de estrelas que brilham eternamente do céu ao fundo do mar.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Em viagem

Amor... em chinês

Amanhã estarei do outro lado do mundo. E eu sempre quis ir ao outro lado do mundo, onde as muralhas têm quatro mil kms e há uma cidade proíbida. Mas parto para regressar, porque tu ficas deste lado do mundo e o mundo sem ti perde a graça que lhe imagino. Por isso, parto a sonhar todos os dias com a noite em que te regresso. E parto já cheia de saudades - o tempo sem ti arrasta-se vagarosamente e, às vezes, fica chega mesmo a parar. Lá longe, vou ficar suspensa nos dias à espera de te voltar. E já que tenho de partir, quero partir depressa para voltar rapidamente ao meu lugar que és tu. Levo-te comigo em todos os cantos do que sou, porque sem ti não sei de mim nem sei onde estou. A parte de mim que és tu dá-me sentido e um caminho para andar. A parte minha que és tu é imensa e luminosa. Levo-te comigo sem saires do lugar, porque estás sempre comigo em toda a parte. Fica comigo enquanto eu não chego, como eu estou contigo durante o tempo em que não te vejo. E entre o meu lá e o teu cá, deixo um beijo infinito que te queime tanto como arde nos meus lábios que te desejam infinitamente. Volto não tarda nada, meu amor. Espera-me para que eu chegue mais depressa.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Veste-me da tua pele

Helmut Newton (para Yves Saint Laurent - Smoking Femme)

Se é para me despires, pouco importa a arte de quem desenhou o que me embrulha. Importa-me, sim, o engenho que me despe da roupa e a arte com que sou vestida do teu amor. Despe-me com o vagar de quem tem muito tempo pela frente, a eternidade que te prometi. Despe-me lentamente com essa vontade que nunca nos chega ao fim. Despe-me simplesmente da mesma forma que te dispo a ti a todas as horas do dia, mesmos nos meses mais frios de nós. Enquanto me despes, não te incomodes se os meus olhos te despem mais depressa do que as mãos que por ti passeiam, antes de te despir para vestir-te no tudo que te sinto por dentro e por fora. Dispo-te sem pressa para ganhar tempo ao tempo com medo que o instante acabe. Dispo-te com mãos incendiadas e o calor húmido dos trópicos a chegar-me intensamente. Desassossega-me no amor que me vestes e na vontade de ser para sempre comigo. Desassossego-te na minha vida que te visto incondicionalmente. Os corpos nus, que deixamos nas mãos uma da outra, estão vestidos do mesmo abraço com a força com que nos amamos hoje como ontem e amanhã mais ainda. Vesti-me de ti para sempre, és a pele da minha pele que quero usar todos os dias, para o resto da minha vida.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Andamentos

MFC, Welcome to the Cyber Cafe...2002

E passamos pelos dias sem noção exacta do tempo, umas vezes lento outras vezes veloz, mas sempre injusto connosco. Porque as horas passam arrastadas nos intervalos entre aqui e aí e o abraço do aqui e agora é tempo contado que passa à velocidade da luz. E, no entretanto, ficam as saudades e tudo o que fica por viver. Nas horas lentas morremos de saudades porque não há vida nos intervalos de nós. No tempo que passa lentamente há recordações de instantes suspensas no ritmo cardíaco da espera. Fico a folhear-te de memória. São muitas as páginas, que revivo vezes infinitas, do livro que escrevemos todos os dias a tinta permanente. E nas horas em que me regressas, vivemos por inteiro a vida num só dia, no fogo em que deitamos os corpos suados e em que nos damos de alma e coração. E desta entrega por inteiro em que somos tão completamente, é feito o infinito do amor que descobrimos desde o inesperado do primeiro beijo. Não há nada que nos explique este querer imenso em que colidimos. Não é uma escolha, não precisa de explicação. Somos o inevitável do que sentimos e o que sentimos é a força incontornável do Amor em que acontecemos e da vida que nos regressa.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Tudo é... tu

Dennis Rogers, Entropic Favourites series, 2005

Quando 'para sempre' deixa de ser muito tempo e não é suficiente para viver o infinito que sinto dentro, procuro-te em tudo à minha volta e não desisto de te encontrar no mais ínfimo pormenor. E tudo és tu. Atravessas-me as horas como se nada mais se passasse no mundo inteiro a não ser este 'nós' que seguramos com mãos de aço. E tu és tudo. Passeio-te na saudade permanente que me desassossega na contagem dos dias. E quando te encontro em pensamento, embrulho-te de sonhos do que nos falta para sermos completamente. Na liberdade do sonho somos tudo por inteiro e mais o que sabemos ser incondicionalmente. Tu és a vida que me resta e eu quero viver para sempre porque a ti me prometi infinitamente. Quando fecho os olhos para te percorrer interiormente, chego-te muito perto no incondicional em que me comprometo: haja o que houver, eu estou aqui. Amar-te incondicionalmente é saber este tudo que és para mim na certeza absoluta de que, haja o que houver, esperarei por ti.

sábado, 7 de abril de 2007

Aniversário

Linda Alstead, Catch a Falling Star - Marble, 2004

Hoje faz anos uma estrela que é um bocadinho minha também...
Um beijo de Parabéns!

O mar que nos abraça

U-Turn, Amo-te um mar infinito e intemporal (ABR07)

De quantas formas é possível dizer 'infinito'? Só me lembro da palavra 'mar' e do abraço em que, longe ou perto, existimos sempre. E é curioso como a palavra 'mar' e 'amar' se confundem muito para além do seu significante. E se o amor é do tamanho de um mar infinito, amar é ir mar adentro e navegarmos a imensidão do que somos uma na outra até uma ilha de nome 'sempre', que traçamos como destino. Descobri o amor na ilha do tesouro que és tu. Descobri o amor no que sou contigo neste mar que nos abraça sem tempo nem distância. E entre o céu e o mar existimos apenas nós e as estrelas que nos brilham nos olhos. Dizer que te amo muito não é suficiente quando somos um mar inteiro no que sentimos as duas. No abraço em que nos guardamos por entre os dias, embrulhas-me na transparência das águas deste mar que nos embala. E oiço-te dizer ao mesmo tempo do que eu 'amo-te um mar infinito e intemporal'. Amo-te tanto, meu amor, mais do que 'tanto', amo-te tudo.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Diamante

Lynchos, Summer Eternity, 2004

A minha eternidade é o tempo que estou contigo e contigo eu quero ficar para sempre. Este mar sem fim em que te sinto amor desassossega-me noite e dia e há um sonho por cumprir. Este 'sempre' que te escrevo é a intensidade do meu querer-te completamente no corpo, na alma e no coração. Acredito em nós e acredito na vontade que nos guia para além dos dias, porque os dias são feitos de areia e o 'nós' em que acredito tem a consistência de um eterno diamante. Seguro-te como uma pedra preciosa, única e insubstituível. Guardo-te em mim onde sei que nunca te vou perder. Em mim só existes tu e a minha vontade invencível de nunca desistir do que somos. O Amor é tão raro como tu e tu és tudo que sei sobre o Amor.

O fim do Inverno

Peter Elköf, Winter, 2004

Estive a contar os dias do nosso Inverno e do que ardemos interiormente para poder sobreviver ao gelo da nossa ausência. Estive a contar o tempo em que morremos todos os dias na dor de não nos conseguirmos chegar. Estive a contar as vezes em que me implorei para te esquecer para me salvar da morte lenta. Estive a contar os meses que, longe, adormeci e acordei sempre ao teu lado. É uma conta redonda, dá sempre o mesmo resultado. Vivi-te sempre comigo no amor que nunca desistiu. Senti-te sempre num amor do mesmo tamanho e esperei-te no silêncio do que te ficava por dizer. Esperei-te em cada palavra que te fui dedicando e quando adormecia sonhava que, um dia, me acordarias com palavras iguais às minhas, ditadas pelo coração. E um dia, que não era igual aos outros, amanheci no fim do Inverno com palavras tuas. A vida regressou-me nesse abraço que eu sempre te acreditei. Parei o tempo para te segurar e voltar a encontrar-me no que me perdi na dor e encontrei-me no amor infinito em que sempre nos embrulhei. Estive a contar quanto tempo durou o nosso Inverno, mas esse tempo deixa de fazer sentido quando sei que esperei a vida inteira para te amar. Que diferença nos faz uma estação quando percebemos que nos encontrámos para o resto da nossa vida?

terça-feira, 3 de abril de 2007

Ontem eu, Hoje nós

B. Shortall, Timeless Water, 2006

Já fui outra pessoa. Numa outra vida, não há muito tempo, eu era outra pessoa. Pensava-me grande com a arrogância própria de quem se acredita inquestionável. Vivia à volta de mim mesma, indiferente e intocável. Nessa vida era apenas eu, numa linha recta controlada e previsível. Sabia-me de cor e não havia imprevistos naquilo em que me conhecia. Na minha paisagem nunca fazia nem muito frio nem muito calor, tudo era ameno e regulado em função dos objectivos das horas. Eu era assim, uma pessoa distraída do essencial, porque antes de ti eu não sabia amar. Nessa minha outra vida eu era quase nada. Não sabendo amar somos pouca coisa, por mais que estejamos convencidos do contrário. Hoje sei que, antes de ti, eu era pouco, sem amor para dar somos muito pouco. E então chegaste tu e eu renasci alguém diferente, uma pessoa maior, mais perto de existir realmente no que é fundamental. Reconheci-te e encontrei-me em ti. Cresci para fora de mim, descobri-me em amor. Aprendi a amar no dia em que te vi pela primeira vez. Hoje sou outra pessoa, ganhei um coração contigo dentro. Sou infinitamente maior do que era antes, porque sou o que existo contigo, sou o 'nós' feito do que tu e eu sentimos de forma única e incontornável. No amor que nos damos reinvento o sentido da minha vida, não te encontrei por acaso porque nada acontece por acaso. Somos a força do inseparável, o desejo de eternidade e a vontade de infinito. Somos a certeza do Amor em que nos descobrimos e nos damos por inteiro. Achas que é muito pedir-te que vivas para sempre? Sempre é o tempo de amor que te tenho, quero ser eternamente ao teu lado.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Bom-dia, meu amor


Linda Alstead, Haircut 100, 2006

E enquanto acordamos em desalinho de saudades e vontade de sermos livremente, olho-te nos olhos para te dizer: 'Sinto a tua falta como a falta de mim mesma', porque tu e eu somos a mesma parte de nós, somos o que não desiste para além do tempo e da distância. E nos olhos que se encontram regressamos à vida que ficou suspensa na ausência da pele. E se pergunto 'Dormiste bem, meu amor?' é porque quero dizer-te 'Acorda agora, já é manhã e as horas são nossas'. E sorrio a olhar-te despertar e aninho-me na vontade dos teus braços. Abraças-me com a intensidade de quem hiberna nas horas ausentes de nós. Embrulho-te em mim com a força de quem dormiu muito tempo no sonho deste abraço. Despertamos uma na outra muitas horas de saudades. Sorris-me um mundo infinito que começa e acaba em nós. Sorrio-te um coração do tamanho do universo onde só cabes tu. Sorrimos no mar sem fim em que nos navegamos e nos sentimos Uma. E quando adormeces novamente, acordo-te durante a noite para te dizer: 'Bom-dia, meu amor, para o resto da minha vida'.

domingo, 1 de abril de 2007

Sem tempo

Bryan Miller, Lichen

O que é o vazio senão o espaço de tempo ausente de ti? Ausência é o vazio que se sente em cada segundo que passa lentamente pelo ponteiro mais rápido da contagem das horas. Fico a olhar para o relógio, contigo em pensamento, e não saio do mesmo sítio enquanto tu não chegas. E entre o aqui e o agora beijo-te infinitas vezes, à espera do logo em que seremos novamente o que nunca deixamos de ser por mais que o tempo se demore a encontrar-nos. A vida que me acontece no entretanto é feita do que existo contigo debaixo da pele. No que sou existes tu sem intervalos. E ainda que as saudades me descompassem a passagem do tempo, os meus braços prolongam o abraço que te quer de volta para te embrulhar de eternidade.