segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Elasticidade

Marcel Duchamp, Mile Of String (1942)

Desde que comecei a pensar a sério sobre as coisas, o mundo mudou de tamanho e perdeu alguma cor. O pormenor tornou-se um profundo embaraço numa imensa teia de pensamentos cada vez mais densos e distantes do resto do mundo. Aqui e ali reparo na inutilidade do esforço da explicação. De nada vale querer a nitidez do inexplicável, porque ela não existe senão na formulação do problema isolado da emoção. E pensar a sério sobre as coisas é render-me ao constrangimento de procurar a ponta de um novelo imaginário de infinitas questões possíveis, umas reais, outras fingidas, outras ainda invisíveis. Na confusão de sentidos relativos que atribuímos às coisas, tropeçamos em empecilhos desarrumados em nós mesmos, pela nossa condição humana. O que perdemos em inocência prende-nos na teia como vítimas da nossa própria construção do mundo. E deixamos acontecer o limite da nossa própria elasticidade até rasgar. Depois disso o retorno a um corpo inteiro é implausível, é nada mais do que um exercício do espírito especulativo.

14 comentários:

underadio disse...

Venho tarde, mas é só para te desejar um bom Ano Novo, Ana.

Beijinhas muitas e saudosas

Always disse...

Vens a tempo sempre, M.! :)
Obrigada e desejo-te um 2012 meigo contigo.

Beijos! :)

whitesatin disse...

My friend,

"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos..." - a raposa do principezinho :)

Quando se tenta racionalizar a emoção corre-se o risco de criar fendas no tecido da alma. E uma alma fracturada deixa escapar a sua inocência com facilidade. É urgente reparar os rasgos para não se perder a perspectiva! É imperativo ganhar espaço livre nas mãos para segurar o que realmente é importante. Só quando abandonamos o Ego reconhecemos verdadeiramente a nossa essência e compreendemos o que significa ser/estar feliz.

P.S. - Deixa-me só dizer-te que, Movimento implica Mudança. Tudo o que passa por nós, todas as pegadas que deixamos na areia, altera profundamente e intrínsecamente o Universo. O nosso e o dos outros. É um processo dinâmico e inevitável. Logo, deverá ser algo positivo. Resistir à inevitabilidade causa sofrimento e destruição. Será que vale a pena o esforço?

Abraço na alma - don't let it slip away :)

rv disse...

aplausos, o caminho é mm esse, abraço

tiza disse...

Detive-me sobre este teu último post e, pela 1ª vez, junto do que te tenho lido, tive uma reacção de pequena zanga (se me permites a expressão). Apeteceu-me imenso "contrariá-lo" mas, não consegui; senti que não tinha o direito.
Eis se não quando, aqui volto de novo e encontro no comentário de whitesatin tudo o que de essencial eu não diria melhor e mais, com, seguramente, uma "propriedade" que eu não tenho.
Subscrevo, palavra por palavra, tudo o que diz. E a ti, minha sweet Ana, abraço-te, com o maior respeito e ternura.

whitesatin disse...

Tiza,

agradeço as tuas palavras de concordância relativamente ao meu ponto de vista. É bom saber que o meu alinhamento faz sentido. Mas gostava de salientar que aqui não existe "propriedade" nenhuma. O que existe é liberdade de expressão. Não existe uma única palavra ou opinião que eu aqui exponha que não carregue o maior respeito, estima e amizade que tenho para com a nossa anfitriã.

Um abraço para ti :)

tiza disse...

Whitesatin,

Muito obrigada pelo teu comentário.
Não tenho qualquer dúvida sobre a liberdade deste espaço e, muito menos, sobre o teu respeito pela nossa anfitriã. E se coloco a expressão "propriedade" entre aspas é, exactamente, por me parecer, existir entre vós uma amizade que, imagino, assenta numa realidade de tempo que a minha não tem; conheço a Ana há pouquíssimo tempo...
E quanto a propriedade... só a responsabilidade pela liberdade de existir.

um abraço para ti, também :))

Always disse...

Minhas queridas Nat e Tiza,

Não vou argumentar convosco, até porque me parece que não há grande coisa para argumentar. A escrita tem destas coisas, encerra o perigo de ser injusta a sua descodificação por quem lê em relação às intenções de quem escreve.

Nat, não creio ter escrito neste texto nada que contrarie a tua perspectiva. Pelo contrário, o teu eloquente comentário, que muito gostei de ler, reforça o que eu, de uma forma menos objectiva (na minha tentativa de prosa poética) quis dizer e que é 'o excesso de racionalização compromete a nitidez e que de nada adianta perdermos tempo com explicações frias e forçadas, sem coração nem alma nunca iremos compreender'. Esta era a mensagem do texto! Não tentei de forma nenhuma discursar sobre a essência da felicidade ou da sua valorização consciente. A minha divagação dá tão somente conta da complicação que acrescento a tudo quando me abandono no esforço, inglório, de tudo querer racionalizar. :)

Por isso, Tiza, não encontro no que escrevi motivo de 'pequena zanga'. tudo o que quis dizer foi que pensar demasiado e sem emoção nos empobrece e torna baços e mais feios por dentro.

Lamento se não fui clara, mas a escrita é também uma armadilha de sentidos. E agradeço-vos com a alma cheia a vossa estima e amizade, que vos retribuo com igual intensidade.

Um abraço forte!

tiza disse...

Touchée!
que forma mais elegante de nos colocar no lugar!... eheheheh
adoro-te
beijos

ps sabes o que te digo, não te digo mas é nada! (isto é uma piada que só tem (ou pode ter) graça, ao vivo. :)

whitesatin disse...

Always,

não sei se alguma vez te deste conta, mas eu nunca expressei aqui desacordo sobre os teus escritos. Não faria sentido, uma vez que o que escreves é teu e este é o teu espaço de exposição de pensamentos e ideias.

O que sempre faço é um exercício de raciocínio lógico e assimilação emocional para mim mesma sobre o que nos permites vislumbrar e adapto-o sempre à minha realidade e experiência.
O facto de, muitas vezes, as minhas opiniões acabarem por reforçar o que escreves é simplesmente porque as nossas linhas do pensar e do sentir são convergentes.
No entanto, o risco da má interpretação está sempre presente, mas não creio que tenha sido o caso aqui. E se alguma vez acontecer, é sempre positivo para se partir para uma discussão produtiva.
Temos sempre tanto para aprender uns com os outros! :)

Um abraço "daqueles" :D

Always disse...

Tiza,

Não era minha intenção 'por no lugar', era apenas tornar mais claro o que escrevi, porque é inegável que os sentidos são múltiplos, dependendo do ponto de observação.

Seja como for, agradeço-te, bem como à Nat, esta partilha porque ela me enriquece e me faz ver mais além. :)

Gosto muito de ti - a tua sensibilidade é encantadora! :)

Beijos!

Always disse...

Nat,

Como poderia não dar conta da riqueza do teu contributo ao longo dos anos neste espaço? Tudo o que aqui deixas tem importância em mim, abre caminhos, ensina-me a viver para além do meu pequeno mundo e a crescer mais forte pelo que aprendo através da tua sensibilidade tão rica e tão adulta!...

Só posso agradecer-te por seres essa pessoa bem estruturada e generosa que tem o abraço forte e incondicional para segurar o que eu digo e penso e embrulhá-lo de sentido, não apenas quando convergimos mas, sobretudo, quando ele me falha. Este espaço seria infinitamente mais pobre sem o teu olhar e sentir sobre o que eu tento traduzir-me em essência.

Um abraço! :)

tiza disse...

Ana,
"por no lugar", era uma brincadeira, como podes imaginar.
Também usamos o humor para nos esconder, verdade?
beijo grande
tz

Always disse...

Tiza,

Assim o entendi mas, ainda assim, quis ressalvar as intenções da minha resposta, pois como cantou a Laurie Anderson, há muitos anos, '...Language is a virus...' :))

Um beijo!