terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Prova de vida

Ann LT, Sprayed 5

Inútil seria procurar sentido na passagem do tempo, porque o tempo é abstracto e não será o artifício do calendário na métrica dos dias que traduz a dimensão do vivido. Prefiro a história das manchas na parede que, silenciosamente, se vai alterando no tom e aumentando nos factos, até deixar de ser pertinente considerá-la à parte da casa. Prefiro interpretar o pó que pelos cantos se acumula ou a cinza dos cigarros espalhados pelo chão. Vestígios de vida em lugar de abstracções. Porque muitas vidas se vivem no mesmo tempo. Porque o tempo é irrelevante nas vidas que nos acontecem por dentro. E porque às vezes não estamos por onde passamos. Passa-se pelo tempo mas nele nunca ficamos.

2 comentários:

Belinha Fernandes disse...

Obrigada pelo seu comentário. Era isso que eu esperava de quem lesse mas, infelizmente, como viu, ninguém comenta.As suas palavras expandiram um pouco mais a minha reflexão em torno deste caso. Eu não pude aprofundar tanto quanto desejava, não tive tempo.Também se tornasse a postagem mais extensa ninguém leria. Eu penso que activismo nem pode ser, os activistas têm de estar contra ela, concordem ou não com a mensagem. Nenhum activista mata um animal.Eu também acho que ela não pode ser uma pessoa normal, a sério que não, como é que eu, por exemplo, aguentava todas aquelas mensagens odiosas?Teria certamente um colapso nervoso!A minha avó cresceu e viveu no campo. Ela matava criação.Para comer, claro.Uma vez, era eu criança,mesmo pequena, 4 anos, e deram-nos um coelho. Eu chorei que me fartei quando adivinhei o destino do coelho...Se todos conseguíssemos manter esse sentimento pela vida fora talvez os animais fossem respeitados.Mas eu até como carne, pouca, mesmo pouca, pois não gosto assim tanto.E tenho velhos casacos de pele de porco!Honestamente, apesar de gostar dos bichos, - nem sequer vou a zoos pois não gosto da ideia de os ver em jaulas - só há dois anos é que comecei a interessar-me por todas estas circunstâncias. E desde então acho que o mundo é um lugar horrível, onde se cometem atrocidades de todo o modo, já não bastava estar a par daquelas que os homens cometem contra os seus semelhantes!Penso que as mudanças estão em curso, mas é tudo muito lento e sem garantias de retrocesso...enfim.

Always disse...

Muita coisa ficou por dizer, sem dúvida, Belinda. O caso da Tinkebell (Katinka Simonse) remete para uma discussão alargada que tarda em Portugal, país muito pouco preocupado com questões de defesa dos animais e protecção do meio ambiente.
A verdade é que a maior parte dos portugueses não é sensível a estas questões, o que atesta um defeito de formação intrínseco à infância. Mas é urgente que as novas gerações tomem consciência dos crimes que cometemos todos os dias contra o planeta, contra a Natureza, porque os recursos naturais são limitados e não podemos continuar a desperdiçá-los ou a fazer uso abusivo do que cada vez é mais raro.
Em Portugal está tudo por fazer - a questão dos direitos dos animais é gritante, estamos num país em que as pessoas abandonam os animais para irem de férias ou porque eles roeram os sapatos novos do dono ou arranharam o sofá, etc. E fazem-no com total impunidade porque o Estado é também atrasado nestas matérias e permite comportamentos bárbaros sem penalizações.
Tal como a Belinda, eu também tive avós que matavam animais para comer, porque viviam no campo e isso fazia parte da economia rural. E também eu, desde pequena, senti o peso e a tristeza de imaginar o destino desses animais. É uma questão a que eu sou demasiado sensível. Por isso chocam-me liberdades 'artísticas' que exploram criaturas vivas com o pretexto de estarem a moralizar a sociedade, como é o caso que de Tinkebell. O mundo não é, de todo, um lugar seguro com figuras destas à solta na sua irresponsabilidade e perversidade.