quarta-feira, 28 de março de 2012

A propósito da razão do coração

Anabark, Tecto da cama (MAI2006)

"(...) A emoção e o desejo são como a espuma e as ondas do mar é o que torna navegar excitante mas não decide a direcção do navio. Para o amor ser eterno (e o amor só faz sentido pensado e vivido como eterno) é necessária a razão para superar as inconstâncias do desejo. E é também a razão que alimenta e é capaz de reavivar o desejo: as dúvidas que planta, a sedução que promove, a imaginação que desperta. O amor verdadeiro só existe suportado pela razão. Mas não é uma razão qualquer. Não é uma razão de mercearia em que o amor se transforma numa lista de compras pela qual verificamos se ela tem ou não os itens a adquirir (importa passar mais tempo a procurar razões para amar do que a elencar as razões para não amar). E também não é a chamada razão do bom senso em que subordinamos o amor a uma certa razão social. Não é a razão dos outros mas a nossa razão. É uma racionalidade vinculada à emoção. O amor encontra-se quando a emoção nos diz para seguir a razão. (...) Porque o amor tem necessariamente uma razão de ser. O amor é o que sobrevive para lá das dúvidas, suportado pela razão. (...) Fácil é evocar o coração para não ouvir a sua razão. Fácil também é escudar-se na razão para fugir ao coração. Difícil e verdadeiramente romântico é decidir do amor com o verdadeiro uso da razão. Só assim se encontram as razões do coração. As razões que dita o coração e pelas quais alguém nos faz perder a razão."


Miguel Poiares Maduro, in Diário de Notícias, 16. Março. 2005

2 comentários:

Andy disse...

obrigada pela partilha.
é sempre muito bom ler sobre o amor, quando é cada vez mais difícil saber vivê-lo...
beijinho!

Always disse...

Obrigada pelo feedback, Andy! :)

E sim, concordo, é difícil viver o Amor com a maturidade que ele nos exige!

Beijos!