sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Buenas noches

Madrid - Plaza San Martin, 5

A cama tem o tamanho exacto das nossas noites sem dormir. Enquanto o sono não chegava, sonhei-te ao meu lado para abreviar o tempo da viagem e o frio de um quarto de hotel sem ti. Os lençois, tão infinitos quanto as saudades tuas que levei comigo, embrulharam-me o corpo que nunca aqueceu na falta do teu. O quarto pareceu-me tão grande quanto a distância física que percorri para lá chegar e os dias de ausência, poucos, foram longos, tão longos que o relógio parou enquanto não voltei. Mas os dias passaram, cheguei e a vida voltou-me porque vida é o tudo o que nos abraçamos e sentimos no corpo e na alma. E ainda que te sinta sempre comigo, os dias sem ti à distância de um beijo são agrestes e incompletos. Da próxima vez, o quarto será pequeno. Da próxima vez, partimos e chegamos juntas e tomaremos conta da cidade.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Ida e volta

B Shortall, The Bench, 2005

O que é estar longe realmente, a distância física entre duas cidades em dois países diferentes ou a dor das saudades que nos invadem a alma entre a partida e chegada? Estar longe é sofrer a ansiedade de um beijo nos lábios ausentes que ficaram à nossa espera. Parto porque tenho de ir, mas parto a ficar para trás, parto quase a chegar. Na verdade não parto realmente, ninguém parte de quem ama nem por dois dias nem por duas horas. O coração não viaja ao mesmo tempo que nós. O coração anda sempre mais depressa e, às vezes, tão depressa que suspende o tempo e só volto a existir quando te regresso. E quando estou nesse longe dos lábios que não te chegam, regresso-te milhares de vezes entre um minuto e outro. Desabituei-me de respirar sem te saber ao alcance dos meus braços, desabituei-me de andar por todo o lado sem te viver em pensamento e seguir-te cada passo. Estar longe é não suportar a certeza de que a distância entre dois pontos é mesurável para além da nossa ansiedade. Amanhã e depois vou perder a distância e encontrar-te a toda a hora porque estás em toda a parte e não apenas no que a minha vista vista alcança. Deixo-te o meu coração para que cuides dele até o meu corpo te voltar. Levo-te comigo tatuada debaixo da pele, bem no centro da alma.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Sonhar-te realmente

Sharon Rogers, Road Rules Series, 2006

Sonho tantas coisas a dormir e acordada que, por momentos, deixo de saber que realidade é sonho e do que sonho o que é realidade. E a vida acontece nessa intercepção de dois universos que assumem formas diferentes, umas vezes à luz da lua, outras vezes iluminadas pelo sol. E quando as noites se confundem com os dias, caminho entre o sonho e o real, onde a cada passo te encontro porque nada existe nem antes nem depois de ti. E enquanto os dias passam lentamente num relógio de saudades, sonho para me distrair da falta que me fazes. Sonho que um dia realizo o meu sonho de criança - vou à lua e volto no mesmo dia. Esse doce encanto de acreditar num truque de magia é um acto de fé, mais do que o sonho e muito para além da realidade. Se o sonho comanda a vida, sonho-te a ti a tempo inteiro, tu és a minha vida, incondicionalmente, antes e depois de tudo.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Bons sonhos

Eric Laflamme, Sem título, 2007

Se acordares sobressaltada, estende os lábios que eu estou sempre à distância de um beijo. Não durmo, fico entre cá e lá, para ter a certeza que dormes tranquila e que os lugares por onde tu passeias são seguros e feitos deste 'nós' absoluto e indivisível. Se acordares fora de sonhos que fazem feliz, refugia-te no meu abraço para além do sobressalto porque eu sou real, os pesadelos não o são. Adormece em mim com a certeza de que a minha mão te segura sem nunca te deixar cair. E sonha comigo. Acordada ou a dormir, estarei lá porque só onde tu estás existe vida, sabor e etermidade. Quero ser eu a acordar-te e não um sonho mal iluminado ou uma noite mal aconchegada. Quero despertar-te, como fiz esta manhã, no mesmo beijo em que nos adormecemos. O teu corpo no meu descansa e desassossega o suficiente para acordarmos ao mesmo tempo que o dia chega e o Amor recomeça o que fazia, ensonado, a noite passada.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Antes de adormecer

Guido Meyer, From Dusk til Dawn, 2004


Aqui onde estou sentada está frio e eu arrefeço por entre palavras para ti cheias de calor. Por ti não desisto, porque gosto de te amanhecer com o mesmo sorriso com que adormeço em ti. Na alma com que escrevo tu és o meu sol e não tenho frio realmente, o frio é apenas uma distração. Logo a minha pele aquece e o corpo estremece à temperatura do coração. Há um ano atrás era inverno, hoje é eternamente verão. Porque o Amor é fogo e amar-te é este incêndio permanente dos sentidos que as palavras que te sussurro, durante a noite, ao ouvido são incapazes de conter. Não leves a mal as minhas noites sem dormir para estar aqui e aí ao mesmo tempo. A esta hora não estou aqui realmente. Deitei-me no beijo que me deste antes de adormeceres e nele viajo até aqui de lábios quentes para te abraçar o dia, porque acordas primeiro do que eu. De manhã durmo este bocadinho que me falta e tu sorris com o beijo que deixo agora na mesa de cabeceira. Há um incêndio em cada frase e mar alto em cada beijo. Anoiteces-me com meiguice, amanheço-te com alma plena. O amor que acontece sem intervalos é feito da saudade infinita que fica de nós entre o aqui e o agora e nos deixa o corpo em desassossego até eu voltar-te daqui para a nossa cama.

Prenda de Natal

Swatch 'Secret Code'

te disse hoje que te amo?

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Até já

Anabark, Bom-dia M.A. (JUN07)

Passo por aqui de fugida para te amanhecer outra vez quando saires da cama e enfrentares o dia. Porque é bom ter um beijo à chegada do dia que começa e nos afasta os olhos dos olhos. Porque é bom poder beijar-te por palavras enquanto a distância nos afasta o corpo e nos desassossega o coração pela ansiedade de voltar. Passo por aqui hoje quase a correr porque o cansaço desfoca-me a vista e atrasa-me o pensamento e preciso de fechar os olhos para te encontrar rapidamente. Porque estás à minha espera enquanto dormes. Porque sinto a tua falta entre esta palavra e a próxima. Apesar do dia que me pesa à noite, não posso deixar de vir ter contigo desta outra forma para que me sintas nos intervalos do que te digo pele na pele. Porque esta é a nossa história e estas são as páginas que se escrevem todas as noites, de dentro para fora do dia ao encontro de nós. Porque esta é a nossa vida e a nossa imortalidade. Porque o Amor que é nosso e aqui nos deixo nos garante a eternidade. Passo por aqui antes de adormecer embrulhada em ti e acordar-te ainda no mesmo abraço.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Maioridade

Ana Carloto, Playing with fire - You (Drawing With Light series), 2005


E à medida que os dias passam somos cada vez maiores, unas e indissociáveis. Crescemos no que agimos à altura do que sentimos. O Amor é esse milagre de força, certeza e luz e a felicidade, que nos espreita na nossa cama antes e depois de adormecermos, é feita dessa malha que tecemos todos os dias com absoluta devoção. Não vivemos de fantasias nem vivemos um sonho. Construimos os dias com o que queremos no futuro. O abraço é sempre mais forte e mais maduro e a nossa casa há-de ser um castelo feito do infinito amor que somos ontem, hoje e sempre. Incondicionalidade é amar por inteiro e cada vez mais o que se conhece e o que se vai descobrindo. Quando te beijo, encontras nos meus lábios o compromisso de eternidade e eu nos teus saboreio igual intensidade. Renascemos e crescemos em amor todas as noites e todos os dias nesse abraço que nos embrulha numa entrega total.

Beijo infinito

Jim Mountford, Kiss

Um beijo TEU para mim



segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Na parede do quarto

Epxis, Let the sunshine in ( part II) , 2004

Irrompe do teu corpo iluminado
toda a luz de que o mundo sente a falta
Não a que mais reluz. Só a mais alta
Só a que nos faz ver o outro lado
do bosque onde o Futuro e o Passado
defrontam o presente que os assalta
num combate indeciso a que nem falta
o sabor de saber-se ilimitado
irrompe assim a luz entre os extremos
da mesma renovada madrugada
E vibra a cada instante um novo grito
Com essa luz do grito é que nós vemos
que Passado e Futuro não são nada
apenas o Presente é infinito.
David Mourão Ferreira

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Entre agora e daqui a pouco

Anabark, Nós (MAI07)

Nós, que coleccionamos saudades e adoecemos nelas, aprendemos que é impossível sobreviver nos intervalos de tempo em que não somos completamente. Às vezes são apenas minutos, outras vezes horas, pouco importa porque as saudades não se medem pela medida do tempo. As saudades são a expressão do Amor e o Amor não contempla intervalos. Tenho saudades tuas ainda antes de te beijar e dizer-te 'Até logo', as saudades são constantes antes, durante e depois disso, porque moras na minha cabeça e não te sei deixar um segundo que seja. És o meu primeiro e último pensamento do dia e os meus dias inteiros são feitos de ti numa contagem decrescente para nos voltarmos. E porque te sei na mesma ansiedade para abreviar o tempo no mundo que não é nosso, abraço-te vezes sem conta nos minutos contados que passam sem nós. A intensidade com que nos esperamos e feita de saudade e da impaciência do amor que nos faz sentir a vida como algo absoluto e eterno. Aprendi contigo o Amor e hoje tenho a certeza de que quem ama tão completamente vive para sempre.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Carta

Analogic, Sem título, 2006


Desculpa, meu amor, pelos dias que faltei aqui, por tudo o que não escrevi mas que te fui dizendo baixinho e ao ouvido. Não me faltam palavras porque as palavras fazem parte de um sistema de arranjos e combinações infinitos com milhares de palavras para arrumar na ordem e no propósito mais próximo do que somos, do que queremos, ou muito simplesmente do que gostaríamos de dizer ou fazer saber. Tenho páginas e páginas em branco e muitas coisas para te dizer sob a forma de palavras, palavras de Amor porque te sinto tudo em mim e porque te amo para além de tudo. Mas por mais que se diga e que se explique fica quase tudo por dizer quando sentimos o universo inteiro dentro do coração. Porque as palavras são insuficientes e limitadas, não explicam o inexplicável nem a intensidade do arrepio que nos percorre. Porque as palavras são pequenas e nelas não cabe o que somos tão completamente uma na outra. Porque tu e eu somos o infinito.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Debaixo de chuva

Jo' Chambers, Rain drops on glass, 2007

Enquanto te dispo em pensamento vezes sem conta durante o dia, no que te quero e vou dizendo chove um mar inteiro de desejo onde aprendemos a respirar debaixo de água. E na vontade que te assalta de me despires também, perco-me e encontro-me em ti. Abraço-te milhares de vezes entre uma hora e outra e, em todas as vezes que te abraço, sinto-nos esta urgência irremediável de corpo contra corpo. Enquanto te dispo mentalmente o tempo custa menos a passar e, quando passa, corro a vestir-me de ti e a embrulhar-te o corpo com a minha pele feita de água incendiada pelo que a imaginação nos permite. Regresso-te debaixo de chuva intensa e descubro-te no mesmo temporal e o mar onde, em pensamento, mareava a minha vontade de ti encontra agora um oceano feito do desejo que nos navega, em simultâneo, a realidade. Na intensidade do que te sinto e tu a mim, abandono-me ao que choves de ti, aninhada nessa entrega de saudade que nunca chega ao fim.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

D. Quixote

Denis Doucette, Black Knight attacks, 2005

Porque sou, como diz a canção, o cavaleiro andante que mora no teu livro de aventuras, podes vir chorar no meu peito, pois, sabes sempre onde estou. E porque me imagino esse cavaleiro andante, finjo que não preciso do que me faz falta para te levar para longe de tudo o que é mau, fugir contigo no meu cavalo de pau. E enquanto choras no meu peito, pedes-me a paz e eu quero dar-te o mundo porque a solidão é dura e o Amor um fogo que a saudade não segura e a razão não serena. Deixa-me embrulhar-te o corpo nos dias em que, fraco de lutar, te apetece ser criança e ouvir histórias que te façam feliz. Porque sou o cavaleiro andante, quero ser o teu respirar nas horas em que o vento frio te navega a alma e te transforma as noites em madrugadas de cristal. No teu livro de desventuras encontrarás sempre o chão seguro que te estendo sem precisares de quebrar o silêncio.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Menos do que amanhã

Anabark, Infinitamente (MAI07)

Mais do que ontem, menos do que amanhã, porque é sempre mais mesmo que pareça impossível ser mais do que o infinitamente já é. E nunca será demais, certamente. Os dias passam e a vontade que nos fica é que nunca acabem em nós, mesmo sabendo que ninguém vive para sempre. A eternidade é o presente, o momento que construímos único e nos sentimos por dentro com a alma maior do que ontem e pronta a crescer outro tanto no dia a seguir. Os versos em branco que os poetas chamam de futuro são promessas que se começam a cumprir no aqui e agora que nos damos. Hoje somos muito mais do que fomos ontem à mesma hora. Amanhã seremos um dia a mais. O mundo acontece num dia, amanhã somos o tudo de hoje e o resto que está para vir. São os beijos do presente que multiplico amanhã porque hoje, ao teu lado, quero sempre tudo e procuro sempre mais. Somos infinitamente mais na soma dos dias que acontecem em nós, somos o mundo em construção e a certeza absoluta de amor que nos junta inseparáveis na alma e uma só no coração.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

No teu poema

Ana Carloto, Bond («Drawing With the Fire» Series), 2005
No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da senhora da agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um canto
chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro


Letra: José Luís Tinoco
Voz: Carlos do Carmo

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A caminho de sempre

J. Harvey, Washed out tracks, 2007

Porque Deus escreve certo por linhas tortas, porque caminhamos por trilhos irregulares mas sabemos onde queremos chegar, porque seguir em frente é aceitar o piso como parte da aventura de caminhar, porque te sinto em absoluta certeza em cada passo desequilibrado, porque firme e seguro é o Amor que nos embrulha a alma, por isto e por tudo o que não escrevo incapacitada pelo sono que me encolhe o raciocínio e me leva de volta a ti, amo-te mais do que ontem e menos do que amanhã. O hoje que vive entre passado e futuro é a nossa aposta - apostamos no que temos para chegar ao que queremos e temos tudo para conseguir. Temos a força rara e inquebrável do sentimento em que o coração nos embrulha. Somos mais do que um episódio de tempo, somos 'sempre' sem anos nem dias. É infinita a vontade de sermos Roma no fim de todos os caminhos. Nos passos que damos, todos os caminhos vão dar ao nós que nos guia a alma e nos inspira na direcção certa. Amanhã somos mais do que hoje porque a distância até ao 'eternamente nós' se encurtou. Estamos mais perto a cada minuto que passa e a intimidade de mais um dia em que nos descobrimos abraça-nos com a meiguice de quem confia e é de confiança. Gosto infinitamente do que te descubro quase sempre espontaneamente. Este 'amo-te' em que te embrulho noite e dia é feito à tua medida e estreado por ti, o único amor da minha vida, para ti que guardei a palavra que nunca disse nem senti. Gostar muito não é amar - amo-te.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Alto (a)mar

Irene Muller, Drop Gone Missing, 2007

Quando, a dois passos de ti, acontece um eclipse, o mundo à nossa volta desaparece e só nós existimos em estado de total urgência. E no eclipse que acontece todos os dias, quase a toda a hora e sem distância segura, a transparência do olhar é uma viagem inadiável ao centro do corpo. Quero o que me adivinhas e o que te sei urgente deixa-nos ainda mais transparentes. Nos teus olhos submissos à vontade de nós, eu navego de alto a baixo, por entre ondas de um mar que conheço bem e nelas me abandono com a mesma entrega e submissão. Sabemos de cor a força que nos empurra e a intensidade do nosso marear. A luz que nos guia vem do centro e, nesse mar adentro, somos o eclipse de qualquer outra claridade. Não há porto que nos abrigue o desassossego infinito em que nos viajamos. Somos a tempestade e a bonança num encontro apaixonado de oceanos.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Parte descoberta

Anabark, Afrodisíaco (JUL07)

Descubro-te por dentro e por fora ao mesmo tempo que te passeio de alto e baixo todos os dias como se fosse a primeira vez. Nunca te descubro por inteiro porque encontro sempre mais da próxima vez. Porque não tens fim em mim. Porque há sempre mais do que eu já sei. Porque te procuro em partes de ti que tu mesma desconheces. Porque a intensidade com que te vivo não tem princípio nem fim. Desassossego por tudo e por nada, pelo que sinto e pelo que imagino, porque, em mim, estás em toda a parte mesmo nos instantes em que não estás comigo. Porque és a pele da minha pele, a parte de mim que não sei despir. Desassossego por este tudo que de tanto é infinito. Desassossega-me o brilho dos teus olhos que, longe ou perto, sempre me adivinham. Porque nos sabemos bem demais mas não o suficiente ainda. Porque nada é suficiente em nós, tudo é pouco quando nos sentimos o infinito.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O que não se vê

Yves Rubin, Convergence

Quando fecho os olhos, observo-te noutros ângulos de visão não completamente evidentes e nem sempre fáceis de explicar. Fico a olhar-te numa dimensão fora de tempo, sem antes nem depois, porque em tudo o que te vejo se impõe a ideia de 'sempre'. Existes em mim desde que eu existo e o 'nós' que somos hoje aguardava o instante que nos fez encontrar. E aconteceu sem esperar nem planear, encontrámos o que procurámos sem dar conta da procura, mas sempre conscientes da falta. Nascemos ao mesmo tempo, nascemos no momento em que alma fixa o que sente o coração. Do ponto de onde te observo, não existe vida antes de ti porque a vida é o fogo que nos arde dentro do peito e uma vontade de entrega por inteiro, é sentir o corpo em desassossego permanente, guiado pela voz do coração. A vida é a certeza do encontro de almas que esperam sem saber e acreditam para além do que os olhos encontram. O Amor é encontrar por dentro tudo o que se quer dar, é embrulhar com braços fortes quem se ama na ideia de 'sempre' e acontecer todos os dias com essa intensidade. O Amor em que te seguro não tem tempo nem medida, é tudo o que me encontro ao encontrar-te a ti.