Se o mundo, amanhã, chegasse ao fim teria pena, muita pena, pelo tempo que não tive contigo, pelo tempo que não nos sobrou, pelo tempo que tardámos desencontradas. Este tudo que tenho em nós me parece sempre pouco, porque o Amor não tem medida e nada esgota a vontade de mais longe e mais além, de mais caminho, mais luz e mais céu e terra ao mesmo tempo. A imensidão que me embrulha em ti não tem fim, porque não tem princípio senão na essência do que sou, de tudo quanto me começa e me acaba. Sem ti não seria eu, porque eu sou aquilo que sinto e me define e este tanto que te quero e que me faz sentir vida é a minha própria certeza de existir. O Amor é tudo o que vale a pena, o resto são formas de enganar o vazio de quem se procura sem se encontrar. O Amor dá-nos a certeza de um lugar próprio e um sentido que nos cumpre e nos completa. Eu-sem-ti é uma vida impossível, porque não há vida para além de nós. Sem ti, só imagino a inexistência.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
domingo, 28 de setembro de 2008
Lembra-te...
A nossa casa, sem pedra nem ferro, tem a força das árvores que rompem o chão, debaixo para cima, num abraço a tocar o céu cada vez mais alto e aberto. A nossa casa é feita de um querer segurar e por a salvo todas as pequenas e grandes coisas que embrulhamos no tempo e nas recordações que coleccionamos. E enquanto escrevo, recordo o que, ontem à noite, te embalei ao ouvido: deixa-me abraçar-te com a imponência da vontade que o Amor fortalece e nunca põe em causa. Quero abraçar-te e passar o resto da minha vida a tornar mais alto e mais aberto este abraço permanente e este querer-te sem medida. Ainda que nem sempre me acredites as palavras, a verdade vem de dentro e o que escrevo vem do centro da alma que não sabe mentir nem inventar com talento suficiente o que o coração sente simplesmente. Assim te sinto eu, sempre infinita no ar que me mantém viva. E porque te encontro em toda a parte em mim, sinto que a nossa casa é feita da vida que, ambas, desejamos e acreditamos sem fim.
sábado, 27 de setembro de 2008
Algures

Adalberto Tiburzi, Looking East, 2005
Há dias em que tenho dificuldade em acordar. E não acordo. Passo pelo dia sem abrir os olhos, lenta e inconsistente, sem que as horas, as coisas e as pessoas cheguem a dar por mim. Há dias que acordam a minha indisponibilidade e, por mais que eu tente arrastar-me para fora desse quarto perdido dentro da minha cabeça, não depende de mim mas de uma chave nem sempre combinada com a fechadura. E os meus olhos fechados, ainda que reconheçam o ruído de um relógio que me dá notícias do mundo lá fora, revestem-me o corpo de uma invisibilidade necessária, que me protege da não-presença das coisas e das pessoas como eu as imagino. Porque, às vezes, só existem as horas e, nelas, imagens que não nos abraçam e nem reparam nós.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
De fora para dentro
Adormeço à beira de uma janela de fora para dentro e, enquanto me sossega a alma, revisito o tempo de dentro para fora como quem percorre de memória paisagens que só existem na nossa cabeça e só de vez em quando. Adormeço à procura de sono, debruçada nessa janela onde a luz não falta, mesmo à noite quando a terra vira costas ao centro feito de fogo. Restam-me alguns minutos de conversa interior antes de vaguear, por onde ainda nem imagino, no sonho de daqui a bocado. E encontro-te a ti, aqui e ali, em todo o lado. Sei-te a dormir, por isso falo devagarinho e faço barulho baixinho e corro o risco de te acordar. A noite dá-me o tempo que o dia te retira e teimo em ficar assim, à janela, a imaginar que, debruçada nela, me sonhas um mundo cheio de nós e que, depois, entre o eu acordada e o teu a dormir, há uma ponte de beijos que atravessamos sem chegarmos a margem nenhuma, de um lado ou do outro. Porque não há margens quando concordamos que o Amor é uma passagem infinita. Debaixo da minha janela, imagino-nos um mar alto esticado até ao céu, num azul único feito da mesma luz da meia noite ao meio dia. Daqui, da minha janela de onde, de fora, espreita o sono, só lamento as horas que se perdem sem nós. Beijo-te não tarda nada...
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
E se depois?
E se depois? Quantas vezes nos refugiamos na pergunta à qual não podemos responder, pelo simples facto de não haver resposta no momento em que nos ocorre perguntar. Não sei, nunca soube, responder ao que se espera de um 'E se depois?'. E o que é que isso interessa agora? Muito pouco, quase nada. Vejo-te suspensa naquilo que se vai passar daqui a bocadinho e só me apetece sossegar-te, porque, mesmo que nada aconteça, mesmo que permaneças no mesmo sítio depois de uma longa espera, vai correr tudo bem. Sabes porquê, meu amor? Talvez não saibas, mas eu sei. Porque continuas igual a ti, intacta, inteira. Porque continuas tudo o que sempre foste e mais ainda pela experiência que os dias te acrescentam. Porque esse tudo é incorruptível e isso é uma vitória. Porque o teu caminho é tudo o que sabes construir num universo maior que transcende o mundo dos outros. Porque vales mais do que eles conseguem perceber e não podemos torná-los mais espertos do que a imperfeita humanidade que lhes assiste. E se depois de tudo eu pudesse escolher, serias tu, sempre única e incontornável. E depois disso serias ainda a minha razão de sentir o infinito.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Repetição
Deixa-me dizer-te outra vez o que te digo todos os dias quase por necessidade primeira: tenho esta certeza infinita que, de tão certa, me parece imbatível. Tenho a certeza que a forma como, debaixo da pele, te sinto fluir como sangue eterno é tão absoluta em mim que passou a ser a medida de todas as coisas visíveis e invisíveis, como se nada mais tivesse valor porque nada mais existe para lá do que me habitas. Por vezes, fico a pensar no que te diria se, algum dia, te escrevesse uma carta de amor, e depois desisto. Não saberia dizer a certeza de sentir-te sempre antes, durante e depois de tudo certamente. E, por mais que tentasse, falharia em descrever um coração que te vive e revive constantemente na absoluta certeza de que viveremos para sempre. Por isso, deixa repetir-me vezes sem conta a dizer-te, todos os dias, este amor sem carta que te chega sem princípio, meio ou fim. Deixa-me dar-te conta assim desta luz que nenhuma noite escura apaga em mim.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Anos sem fim
Quando for amanhã, que é daqui a bocadinho para mim e hoje para ti, serás um bocadinho mais crescida e eu estarei à tua volta à espera de muitos amanhãs comigo, aninhada num único pensamento – que a vida nos seja eterna, que nunca te acabes, que vivas para sempre na minha vida e eu na tua e depois disso. Quando acordares o dia é teu – quero um sol infinito na tua mão e um abraço sem fim desde a ponta dos teus dedos até ao coração. Quero ser o resto da tua vida nos meus braços que serão sempre pequenos para te dar conta da imensidão que és em mim. Segura nos lábios um beijo meu desde a hora em que nasceste até ao fim dos dias.
domingo, 7 de setembro de 2008
Luz de dentro
Vamos misturar a luz ao encontro dos milhões de cores que ainda desconhecemos debaixo deste sol que nos descobrimos desde o primeiro momento. Anda brincar com a cor dessa luz da qual os nossos olhos, olhos nos olhos, não descansam. Anda fazer uma pintura com essa tinta que o Amor mistura num brilho que os braços embrulham como vida e eternidade. Vem cobrir as paredes e o chão, o tecto e também o céu de toda a nossa luz que nos segura, do mais claro ao escuro, nos mil tons de infinito. E quando anoitecer e estivermos um pouco cansadas e precisarmos de descansar, olha-me sempre com o mesmo sol que te vem de dentro e basta-me esse ponto de luz para continuar, porque é único, o mais luminoso e aquele que me dá sentido, a vida eterna em que acredito. Porque sem ti tudo é negro e fundo e à beira do fim do mundo.
sábado, 6 de setembro de 2008
Regresso a casa
Devagar, tão lentamente quanto a ideia feliz de que os dias não têm medida porque começam e acabam em minutos precisos fora do relógio normal das horas, regresso a casa. Regresso ao tempo do mundo que deixámos adormecer e acordar sem nós, regresso à vida que fica do mesmo lado do espelho de toda a gente, ou de quase toda a gente porque há excepções à regra. Os dias e as noite quase mediterrânicos acabaram e deles já só resta a poeira do que conseguimos lembrar e sorrir no que recordamos. Mas é deste lado que nós somos por completo a vida. É deste lado que estamos sempre, mesmo quando distraimos das horas nos intervalos. Voltar a casa é voltar ao Sempre e voltar ao Sempre é acreditar no infinito para além da parede do quarto que é infinito como o Amor que nele acontece sem medida de tempo nem noção de espaço que não seja a escala do corpo, do coração e da alma. Voltar a casa é voltarmos completamente ao que é único e só nosso e encontrarmos o Sempre à nossa espera.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Ir e Voltar
Vou, mas voltamos. Vou ao encontro do teu abraço que me espera há muitos milhões de dias, tantos que lhe perdi a conta. Finalmente parto para a chegada onde me esperas há mais de uma vida em tempo contado segundo a nossa medida. Vou agora e voltaremos as duas...
Boas férias...
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Ausência
Voltei. Ou talvez apareci. Para voltar era preciso que tivesse partido. Não parti. Ninguèm volta ao lugar de onde nunca partiu. Este é um lugar de partida impossível. Às vezes demora com razão, outras vezes não, demoro simplesmente. Partir não parto. Estar ausente é uma demora prolongada apenas. De resto, tudo permanece no mesmo sítio. O Amor não parte nem tira férias. O Amor é o infinito daquilo que existo sem a mais leve demora.
domingo, 27 de julho de 2008
No centro do centro

Acabo de chegar, ou como quem diz acabo de acordar. Acabo de chegar de ti e acabo de voltar-te ao mesmo tempo. Do sonho, onde começamos o abraço, até ao despertar na manhã seguinte, sem descansar do beijo, vão muitas viagens que quase nunca recordamos pela pressa de acordar e sentir o corpo no corpo tal como adormecemos. E todas as noites passadas são viagens ao centro de nós, ao centro da terra que nós somos e à aventura que construímos hora à hora, desde o primeiro momento no tempo que passou até ao Sempre em que nos cumprir. São mil viagens de sonho e outras tantas de caminho percorrido. São mil formas de explicar o infinito ao mundo que acredita na improbabilidade de acontecermos para toda a vida. Viajamos pelo centro de tudo em vôos rasantes por dentro e por fora de nós. E todos os dias aprendo que o Sempre é a nossa viagem de fora para dentro, de encontro ao centro onde tudo começa, tudo nasce e nada se acaba, onde somos sem fim o princípio de tudo e tudo para além do explicável. A pele que nos sabe de cor num movimento único guarda o perfume da viagem onde tu e eu nos confundimos no centro do centro da vida. Pele da minha pele, sangue e alma única, és tu em tudo o que me anima.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Transparência
Tenho momentos de corpo e alma translúcidos que tu encontras e seguras docemente como quem adormece só depois do sono chegar primeiro a quem amamos. Tenho momentos de tão pura lucidez que só existes tu no que eu sou desde que a vida nos juntou num mesmo caminho. Tenho a lucidez de reconhecer que o Amor é o milagre da vida e que para além dele tudo é noite e morte anunciada. Do tanto que há para saber sei esse pouco que, em mim, é infinito. E quando te olho e me detenho no teu sorriso que se espalha pelo meu corpo, sei com toda a certeza que a vida é a tua presença em mim. Se todos os dias acordo e me lembro de respirar é porque te sei comigo abraçada na mesma intensidade. Temos sorte, temos o Amor em nossa casa, vivo e bem cuidado, que nos aninha os dias no veludo da eternidade.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Contra-relógio
Há dias que passam e que quase não vivemos porque o tempo se esvai nas horas que nos apressam para chegar a tempo à irrelevância das coisas e às coisas irrelevantes. E o cansaço que fica da corrida entre dois ou três lugares incertos e outros tantos não-lugares esgota-nos o corpo e deixa-nos sem fôlego a caminho do voltar a casa. Hoje corri o dia inteiro e acelerei o que pude para chegar ao fim do dia. Hoje, que mal dormi, apressei-me em tudo o que fiz num contra-relógio para te voltar. E cheguei-te num contratempo que nos atrasou sem querer o que é nosso. E neste compasso que nos atrasa o mundo que somos nós, deixamos que a noite nos descanse os músculos e nos repouse a alma numa espécie de baloiço feito de braços e do abraço em que nos temos sempre e em toda a parte. Estou cansada, mas sei que tu me embalas no teu corpo daqui a pouco. Estou cansada, mas não me faltam forças para te embrulhar, num beijo, um sono descansado. E assim se desfazem os nós dos dias apressados, nesta simplicidade reparadora que o Amor encerra quase de forma inexplicável.
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Uma na outra
Deixa-me acordar-te todas as manhãs com a felicidade da primeira noite que vivemos numa só. Deixa-me dizer-te bom-dia com o mesmo sorriso que nos adormece o corpo depois de entretido, pele na pele, entre o suor e alma. Deixa-me abraçar-te a manhã com o aconchego de um corpo noutro adormecido. Deixa-me despertar no sabor dos beijos que, no ontem, deixamos suspensos só porque o sono nos venceu. Deixa-me encontrar-te todos os dias da mesma forma absoluta com que o coração me diz, minuto a minuto, que és tu para o resto da minha vida. Deixa-me ser para sempre a vida dos teus olhos e tu a alma da minha vida. Deixa-me sempre na boca esta vontade de mais, infinitamente.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Sobremesa
Sobre a mesa estás tu. Sobre o chão, sobre a terra, sobre as montanhas que a decoram, sobre tudo e sobretudo existes tu. Não me lembro de mais nada para além da forma como ocupas os meus pequenos grandes dias. Não me lembro de existir um mundo sem ti. Não sei sequer se é possível que o mundo tenha existido sem ti. Porque mesmo antes de existir um nós, havia em mim uma ideia, um conceito e a secreta esperança de que existisses fora da minha cabeça. Eu nunca vivi sem ti. Antes de me encontrares, vivi num intervalo de tempo, numa pausa feita da experiência necessária para saber reconhecer-te como o elo primordial do sentido que me segura à vida. Sobre a mesa estamos nós numa refeição que nunca nos satisfaz porque porque tudo nos sabe a pouco. E tudo tem o valor do infinito. Bom e mau faz parte da vida. Sou maior pelo que aprendo no que nos revelamos sobre a mesa. Bom e mau, somos inteiras e nada pela metade. Não quero nenhum paraíso artifícial, quero o bolo todo e as migalhas que sobrarem. Quero-te a ti completamente, nem mais nem menos. Quero-nos condenadas pelo pecado de sermos livremente a imperfeição humana que, todos os dias, nos apaixona incondicionalmente. Quero-te como a sobremesa da vida na vida de todos os dias, assim, tão única quanto um ingrediente mágico e secreto, que vale a eternidade.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
A caminho de casa
Quando, porque estamos longe, o Tempo pára na pressa de voltar a casa, invento horas que passam a correr e coisas que aconteçam mais depressa do que é possível acompanhar. E as horas não passam, pesam-me nos olhos e nos gestos, e teimam em ficar. E assim, lentamente, eu espero e me faço esperar. Aqui e aí são pontos de partida e de chegada onde, suspensas, aguardamos em passo apressado. Por vezes, invento-nos num jardim onde nos encontramos para descansar esta pressa absoluta de não nos chegarmos tarde nas horas. A urgência de nós é o ritmo cardíaco que nos anima e nos atravessa do coração à alma. Quanto tempo tem um segundo longe de ti?... Anos, eternidades.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
O mundo na mão
As voltas que o mundo deu para te encontrar foram tantas, tantas que cada beijo teu sabe-me ao desejo infinito de que são feitas as paixões maiores que o Tempo com que o Amor nos embrulha corpo e alma. Antes de me chegares, andei e caí muitas vezes, cuidei que corria e que avançava. Mas não. Derivava em círculos, tropeçava e nem sempre percebia os passos pelo caminho mal decorado. E um dia o mundo deu uma volta e fiquei de pernas para o ar. Tu existias no mesmo hemisfério e chegaste-me por fim. E tudo ao contrário parecia fazer sentido pela primeira vez em todas as vidas que tive antes de ti, talvez porque antes de ti não vivi, só passei pelo mundo de forma parada. Nas voltas que deste até mim passaram para ti outras tantas vidas. Hoje, que somos Uma desde a primeira hora, pouco importa o Tempo, porque o Amor é feito de uma certeza que nos transcende em múltiplas dimensões. Hoje o mundo é do nosso tamanho e as voltas que lhe damos têm a duração exacta do nosso abraço infinito.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Viagem a cores
Todas as horas me sabem a ti e todas as horas que passam longe do nós que somos inseparável me parecem viagens infinitas e desertas de cor. Porque a vida que descubro neste estar contigo é vida plena de alma. Quando viajo sozinha corro para te chegar porque em qualquer parte do mundo ou canto do universo tenho um único destino: tu. Não descubro nem contemplo paisagens pelo caminho, porque não há paisagem onde tu não estás comigo. Não me distraio a olhar o que não posso partilhar contigo nem perco tempo à procura de postais. Não reconheço cor na fotografia onde não te encontro. Onde não me partilho contigo não há luz. Este estado de emergência de viver-te sempre mais é uma missão sem retorno, uma forma de vida absoluta, porque viver é partilhar e encontrarmo-nos no que temos para dar e receber a toda a hora. Aprendo mais de mim no que me descobres em nós e no nós que construimos vou coleccionando partes de ti, umas que me ensinas, outras que vou desvendando na paisagem que compomos nos tons do que sentimos por debaixo da pele. De nós vem uma luz diferente que não brilhava antes isoladamente. Do nós reflectem cores e possibilidades infinitas de desenhar paisagens, mudando as montanhas de lugar. Se nós quisermos conseguimos ser imortais.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Antes de ti

Antes do Amor acontecer na sua vida coleccionava os dias coomo puzzles à espera de solução invariavelmente adiada para o dia seguinte. À noite, de regresso a casa, punha de lado os sacos pesados das horas trabalhadas sem minutos vazios e a roupa usada no corpo como papel de embrulho da intermitência da alma e instalava-se, confortável, no sossego das horas de nada. Frequentemente procurava o mesmo cd para lhe fazer companhia. O piano e o suave compasso da melodia dos Rachel's percorriam, insidiosamente, a sala transformada numa nuvem de sons contemplativos que ficavam à espreita. Mergulhada em si mesma, deixava-se observar pelos sons, enquanto pensava os dias como ficheiros temporários de vida, sem pormenores de grande importância, ausentes do essencial. Ficheiros temporários com a validade de 24 horas, facilmente descartáveis sob uma imaginária tecla de 'delete'. E os dias passavam, substituindo-se automaticamente. E a vida passava sem vida. Viver não seria apenas esconder-se atrás dos dias e da força das circunstâncias. Quando o Amor aconteceu descobriu o princípio, o meio e o fim de tudo, a grande razão de Ser para além do existir simplesmente. E, desde então, sorri naturalmente e todas as noites adormece aninhada na música que o coração lhe escreve na pauta dos dias maiores do que a vida e para além da eternidade.
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