Anabark, Memória (MAI06)
A última vez que me falaste de ti disseste que te adoeci...
A acreditar nas tuas palavras, adoeci-te profundamente (e a mim também) e isso não me posso perdoar. Há oito meses atrás nunca acreditaria que a pessoa que eu sou alguma vez pudesse magoar a pessoa por quem me apaixonei perdidamente. Hoje, os factos falam por si e falam mal de mim. Quem eu sou fez-te mal, o meu toque tornou-te frágil. Fui a tua doença, a tua ‘morte lenta’. Tive tanto cuidado – nunca na vida tive tanto – e de nada me valeu . Fui veneno. Fui vil. Fui ‘nao-eu’, ou melhor não sei quem fui mas não fui eu porque eu não sou uma doença!... Vivo agora com o sabor do mal que fiz sofrer. Vivo sabendo que ficaste pior do que antes mim, mesmo quando me dizes que fui a tua "mais bonita história de amor" e que 'provavelmente não voltarás a amar assim'. Vivo triste e viverei, porque, depois de tudo o que vivemos, não acreditas nesta minha dor que é tudo menos passageira.
Não tenho palavras novas para te convencer de que te quero bem e que tudo o que disse, pensei, desejei, foi por amor. No pouco tempo que tivemos, reconheci-te como aquela a quem gostaria de ensinar tudo o que sei e dela aprender outro tanto. E aprendi porque estiveste sempre à altura de me ensinar. Acredita em mim, por favor. Mas um dia decidiste que não querias aprender mais comigo. E eu, sem perceber totalmente os teus argumentos, fui falando cada vez mais baixinho e os dias passaram até que percebi que tinha de calar-me e assumir que não sei ensinar nem talvez transmitir uma ideia sequer do que aprendi. E um muro de pensamentos obscuros, dilemas, dúvidas se ergueu. Fechei-me num novelo sem pontas. E quando falei, disse coisas que já não querias ouvir - falei-te de amor quando tentavas esquecer o que sentias. Perturbei a tua paz de espírito, até que me calaste de vez, magoando-me de forma irremediável. A culpa pode não ser de quem ouve, mas é seguramente de quem fala, porque torna a proximidade dolorosa, porque fala quando devia estar calado, porque escolhe mal as palavras ou, muito simplesmente, porque não respeita a distância do outro. Provavelmente cometi todos esses erros.
Não sou melhor do que tu para dizer bem ou mal de ti. Não me posso armar em Deus e listar as tuas qualidades e defeitos. Pensando melhor, talvez eu devesse ter feito uma lista de qualidades quando duvidaste de mim a primeira vez. Serias tão mais feliz a esta hora (e eu também)! Fui ingénua, confiei demais. Durante todo este tempo pensei que percebias que a intensidade dos dias em que existimos uma na outra era o maior elogio que te podia fazer. Errei, pensei por mim e não me apercebi que tu não és eu e não podes ser o que eu te imaginei.
Pedir uma certeza de que o passado existiu não é pedir muito. Bastava que me dissesses, uma vez por outra, que pensas em mim para eu acreditar que a paixão que senti queimar a pele do meu corpo no teu existiu, que não foi inventada por mim. Pensei que no meu-aqui-longe-de-ti havia uma forma de adivinhares com segurança as noites e os dias em que me perdi no desespero da tua ausência. Pensei que saberias a falta que me fazes e que me importa o que vai na tua cabeça e que te quero bem. Pensei que fosse inquestionável a certeza com que te repeti tantas vezes 'és o amor da minha vida’. Enganei-me.
Não sei dizer melhor. Sei que te sinto elogiosamente na intensidade do que vivi contigo, mas apercebi-me que não sei dizer-te isso de forma convincente. Sei apenas que o que eu sou te obriga a defenderes-te de ti mesma e a recalcares o que sentes, porque queres muito que o teu corpo e o teu coração desistam de mim, porque te faço sentir algo que não sabes controlar e que causa incómodo na tua vida certinha e igual à de toda a gente. Como todos os medos, o teu é irracional, cheio de equívocos, paralisante e internamente conflituoso.
Não te escrevo para me queixar, de nada me adiantaria, só o silêncio me responde e tanto vazio entre nós põe em dúvida a tua existência real. E, se existes, alguma vez gostaste realmente de mim?
A acreditar nas tuas palavras, adoeci-te profundamente (e a mim também) e isso não me posso perdoar. Há oito meses atrás nunca acreditaria que a pessoa que eu sou alguma vez pudesse magoar a pessoa por quem me apaixonei perdidamente. Hoje, os factos falam por si e falam mal de mim. Quem eu sou fez-te mal, o meu toque tornou-te frágil. Fui a tua doença, a tua ‘morte lenta’. Tive tanto cuidado – nunca na vida tive tanto – e de nada me valeu . Fui veneno. Fui vil. Fui ‘nao-eu’, ou melhor não sei quem fui mas não fui eu porque eu não sou uma doença!... Vivo agora com o sabor do mal que fiz sofrer. Vivo sabendo que ficaste pior do que antes mim, mesmo quando me dizes que fui a tua "mais bonita história de amor" e que 'provavelmente não voltarás a amar assim'. Vivo triste e viverei, porque, depois de tudo o que vivemos, não acreditas nesta minha dor que é tudo menos passageira.
Não tenho palavras novas para te convencer de que te quero bem e que tudo o que disse, pensei, desejei, foi por amor. No pouco tempo que tivemos, reconheci-te como aquela a quem gostaria de ensinar tudo o que sei e dela aprender outro tanto. E aprendi porque estiveste sempre à altura de me ensinar. Acredita em mim, por favor. Mas um dia decidiste que não querias aprender mais comigo. E eu, sem perceber totalmente os teus argumentos, fui falando cada vez mais baixinho e os dias passaram até que percebi que tinha de calar-me e assumir que não sei ensinar nem talvez transmitir uma ideia sequer do que aprendi. E um muro de pensamentos obscuros, dilemas, dúvidas se ergueu. Fechei-me num novelo sem pontas. E quando falei, disse coisas que já não querias ouvir - falei-te de amor quando tentavas esquecer o que sentias. Perturbei a tua paz de espírito, até que me calaste de vez, magoando-me de forma irremediável. A culpa pode não ser de quem ouve, mas é seguramente de quem fala, porque torna a proximidade dolorosa, porque fala quando devia estar calado, porque escolhe mal as palavras ou, muito simplesmente, porque não respeita a distância do outro. Provavelmente cometi todos esses erros.
Não sou melhor do que tu para dizer bem ou mal de ti. Não me posso armar em Deus e listar as tuas qualidades e defeitos. Pensando melhor, talvez eu devesse ter feito uma lista de qualidades quando duvidaste de mim a primeira vez. Serias tão mais feliz a esta hora (e eu também)! Fui ingénua, confiei demais. Durante todo este tempo pensei que percebias que a intensidade dos dias em que existimos uma na outra era o maior elogio que te podia fazer. Errei, pensei por mim e não me apercebi que tu não és eu e não podes ser o que eu te imaginei.
Pedir uma certeza de que o passado existiu não é pedir muito. Bastava que me dissesses, uma vez por outra, que pensas em mim para eu acreditar que a paixão que senti queimar a pele do meu corpo no teu existiu, que não foi inventada por mim. Pensei que no meu-aqui-longe-de-ti havia uma forma de adivinhares com segurança as noites e os dias em que me perdi no desespero da tua ausência. Pensei que saberias a falta que me fazes e que me importa o que vai na tua cabeça e que te quero bem. Pensei que fosse inquestionável a certeza com que te repeti tantas vezes 'és o amor da minha vida’. Enganei-me.
Não sei dizer melhor. Sei que te sinto elogiosamente na intensidade do que vivi contigo, mas apercebi-me que não sei dizer-te isso de forma convincente. Sei apenas que o que eu sou te obriga a defenderes-te de ti mesma e a recalcares o que sentes, porque queres muito que o teu corpo e o teu coração desistam de mim, porque te faço sentir algo que não sabes controlar e que causa incómodo na tua vida certinha e igual à de toda a gente. Como todos os medos, o teu é irracional, cheio de equívocos, paralisante e internamente conflituoso.
Não te escrevo para me queixar, de nada me adiantaria, só o silêncio me responde e tanto vazio entre nós põe em dúvida a tua existência real. E, se existes, alguma vez gostaste realmente de mim?
12 comentários:
Ainda ontem pensava que não era
Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.
Eles dizem-me no seu despertar:
" Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito."
E no meu sonho eu respondo-lhes:
"Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem."
Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:
"Quem és tu?"
Kahlil Gibran
Partilho este senhor, que também fala de um tal Amor.
Abraço
it's got to get worse before it gets better.
so rather not get better and feeling worse, yes?
you know you have my unwavering support, minha querida.
um abraço grande,
F.
"...It's not going to stop
'Til you wise up
No, it's not going to stop
So just...give up" :)
analogic
Obrigado pelo bonito texto do 'profeta' Khalil Gibran. De repente, fez-me lembrar o desassossego de Fernando Pessoa:
"Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida"
«Livro do Desassossego»
Senhora Saudades
Carlos Drummond de Andrade, a Brasilian poet, once wrote:
"A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional."
(translation: "Pain is inevitable. Suffering is optional.")
That's a very wise thought to keep in mind. :)
Have sweet dreams!
indeed. no one is going to make a sucker out of me again ;)
and your victory:
I am the one who has disappeared
and i’ll reap my rewards
when you look through me
i know i’m the one who has disappeared
when i write my name no words appear
and in your heart i will appear
and when it’s my turn i turn away
i am the one who has disappeared
this one’s for forgiveness so they say
i’m that one
i am the one
who has no name
i have no name
and i am the one who has disappeared
the way you look through me
i know i’m the one
who has disappeared
;)
F.
Tretas!
E mais tretas, tantas tretas a seguir a mais tretas!
Então, o sapo pediu as put*s e depois acagaçou-se?!!
´
Miss Always, vamos lá dar cabo dos animais pequeninos do pântano e pronto! E se é para enrabar, ao menos que lhe doa e muito!!!
LOL
Eu sei que são tretas...
O texto é esconde uma certa ironia. Sei que não sou uma doença, sei que fui muito mais saudável e benéfica do que o 'eu' que descrevo no texto. O destinatário da mensagem sabe também e identifica, sem equívocos, as partes irónicas.
"... e nada alcanço. e tudo se desfaz. tudo se desfaz.
Penso: quero um ventre. e voltar a nascer. e morrer novamente."
Será o desassossego, o grito de crescer?
A braços
Se o desassossego é o grito de crescer, então há esperança de aprender o muito que ainda falta saber...
Abraço.
Senhora Sauudades
"The One Who Has Disappeared - The Black Heart Procession, «Amore del Tropico» - the most heartbreaking of notes in that album...
I'm doing much better now, trust me. :)
Sleep tight, darling!
that makes me very very happy!!! [insert K.Lombard's voice here]
:)
F.
[sorry darling, i didn't see this msg until tonight]
LOL@ Karina Lombard's voice...
It's ok darling! :)
Um beijo.
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