sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Insónia

Anabark - Floating (JUL06)
Dormir liberta o espírito para o sonho como solta a imaginação e a vontade de ir mais além da pacatez dos dias vulgares em que acordamos para trabalhar e adormecemos para acordar e trabalhar mais.

Dormir é fundamental. Pessoas descansadas são mais doces, mais gentis, mais receptivas, mais felizes. É isso que eu quero ser. É isso que eu sonho ser se dormisse o suficiente para sonhar. The hurting time acontece também pela insatisfação do sono que se perdeu, dos olhos que não se fecharam para guardar uma imagem que nos alumiaria na alma um pensamento feliz durante a noite e também durante o dia. Porque o cansaço rouba-nos tempo e ânimo. Envelhece-nos o estar e seca-nos o sentir, 'that’s when the hurting time begins'.
Quando estamos acordados muito tempo ficamos presos a coisas sem importância, coisas que acontecem no dia a dia, irrelevantes, mas que só pelo facto de acontecerem se tornam importantes. Isto é estar cansado, é olhar só para o que acontece à nossa frente e não distinguir um segundo plano. A vida não uma tábua rasa com apenas dois pontos de fuga, dizemos para nós mas, no entanto, para além do que os nossos olhos vêem deixamos de alcançar. Perdemos a profundidade. Morremos aos poucos numa espiral de acontecimentos estéreis da qual somos o centro... 'that’s when the hurting time begins'. Ora, eu não quero morrer devagar nem na vertigem da minha própria estupidez. Ninguém quer agonizar assim.
A vida é evolução, é acreditar para além de nós, é sonhar e pôr em prática. É imaginar acontecer para que aconteça. É distrair o pensamento do dia a dia de minudências e desenhar o que não existe para que possa ser possível. Para isso é preciso disponibilidade. É preciso tempo, oportunidade. É preciso dormir a pensar nisso e não a remoer the hurting time. Tudo o que não desejo é que a almofada me ampare a tristeza de um equívoco, de um malentendido no momento de adormecer. Não há nada que adormeça 'the hurting time' nem nada que amanse um dormir revoltoso agarrado à crueldade de palavras mal ditas ou mal pensadas.
Quero imaginar uma côr diferente da noite negra. Quero dormir a pensar no verde das paisagens que nunca irei percorrer porque não existem sequer, fui eu que as criei para passear pensamentos felizes. Quero sonhar outras possibilidades de ser, de ver, de sentir, de gostar, de dormir. Quero imaginar que não morro aos poucos a perder tempo mal empregue.
E quando penso em ti, quero acreditar que não causo dôr - quero sentir que mereci tudo o que me deste como quero acreditar que entendes também o quanto te dei. Quero que saibas que não penso mal de ti mesmo achando tu que sim. Quero fazer-te saber que compreendo um bocadinho mais de ti do que tu imaginas. Conheço, talvez, até um pouco de ti que tu ainda não conheces e que só descobrirás mais tarde, quando menos esperares. Porque as verdadeiras descobertas acontecem quando deixamos de estar preocupados em descobrir milimetricamente quem somos. E por mais que nos esforcemos nunca saberemos o nosso próprio destino. Esse é o desafio que importa.

5 comentários:

Anónimo disse...

Partilho o meu azul matizado luminoso, é um azul que encontrei, ao entrar num túnel de glaciar. Volto lá sempre, como nesta noite, quando teima a insónia em querer entrar por mim.
Abraço, bons sonhos

Always disse...

E azul é a minha cor preferida, pode ser que a partilha resulte, obrigado!

E se me é permitido perguntar: porquê um túnel glaciar?

Um abraço.

Anónimo disse...

Porque existe, porque me aconteceu ter estado lá. E me alterou.
Mer-de-Glace. Chamonix.

Sandra Marques Augusto disse...

Miss Always,

Tu ÉS doce, e gentil, e predisposta aos outros, e dormir demais é perder a vida, e querer é viver, e também tu andas distraída a preocupar-te e ainda nem reparaste que fazes os outros felizes... és feliz.

SS

Always disse...

analogic

Fico com a referência do lugar - algo me diz que vou gostar de visitar esse Mer-de-Glace, em Chamonix! Obrigado pela foto. :)

Um abraço.

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Star

Que seria de mim se não existisses?
Sou uma tonta ingrata porque me queixo da felicidade de ter pessoas como tu na minha vida.

Não te preocupes com a negritude do blog. É o exorcismo das manchas negras que marcam a alma. Vai passar, tudo passa. E quando o azul cintilante do Mer-de-Glace substituir as manchas negras, em vez de copos vazios haverá flutes de champagne!

Um beijo!