sábado, 4 de novembro de 2006

De copo vazio

Anabark, Parabéns (MAIO6)
Lisboa, 18.Agosto.2006
Escrevo-te para te dizer que desisto de ti como tu desististe de mim através do silêncio e da distância que escolheste para delimitar territórios e seguires em frente pelo caminho mais fácil. Não voltarei a incomodar-te - compreendi que não te faço falta, que as saudades não te incomodam a alma e que nada do que me disseste e juraste foi verdadeiro, logo não faz sentido eu continuar a perder tempo e a morrer aos poucos naquilo que só eu sinto.
Passaram alguns meses de distância e durante este tempo desvalorizaste os meus sentimentos para 'seguir em frente'. Tens a vida que querias, onde não há espaço para mim, nem sequer como amiga. Pediste para me ir embora, como se tivesses vergonha do que aconteceu entre nós. Esperei que as saudades te fizessem pensar melhor, que o amor te fizesse olhar para trás e que percebesses que há outras saídas. Só falou o silêncio e o silêncio disse-me "Não vale a pena. Se ela te amasse não poderia viver sabendo-te infeliz – a culpa seria demasiado pesada para aguentar a distância."
Obviamente não sentes culpa, sentes, sim, medo de ti própria porque, comigo, descobriste a verdade de ti mesma e não sabes lidar com isso – vives num processo de negação e recalcamento e, como funcionas por objectivos, vais conseguir desligar e ‘seguir em frente’ pelo caminho por onde sempre andaste, pelo que pude perceber, sem te sentires especialmente feliz e muito menos realizada como pessoa. Não digas que não tens outra saída, porque não é verdade. Um dia talvez percebas que a vida é demasiado curta para deixar de ser vivida por inteiro. Um dia talvez entendas que só a morte não tem remédio e que os problemas, por incontornáveis que possam parecer, têm sempre uma solução se amarmos verdadeiramente, formos pacientes e pensarmos com bom senso. Viver é um risco constante, quis correr esse risco contigo porque acreditei em nós e numa relação discreta, equilibrada e saudável para ti e para as tuas filhas, tal como tinhas planeado quando te apaixonaste por mim.
Tenho de respeitar o teu 'seguir em frente', ou melhor, o teu 'andar para trás' e, acima de tudo, tenho de me respeitar. És o amor da minha vida, mas tenho de ser adulta, aguentar a dor e curar-me amando alguém que me mereça mais do que tu demonstraste merecer – quem não nos acompanha atrasa-nos. Não tenho vergonha nem me arrependo de te amar – voltaria a fazer tudo de novo. Fizeste-me imensamente feliz, deste-me vida e algo que vai ficar para sempre, deste-te por inteiro enquanto acreditaste em ti, em mim, em nós. E eu correspondi, acreditei em ti, num compromisso, dei-te felicidade e amor incondicional, fiz-te sentir inteira, completa e fiz-te amar com uma intensidade única. Para mim, não foi uma aventura.
Pediste para me afastar - quem ama não faz isso, quem ama protege e segura. Está bem, vou embora, não volto a incomodar-te para além do teu dia de anos. Não tenho feitio para arrastar-me como vítima triste e abandonada, 'cos I’m much too tall to feel that small', como diz uma canção dos Eurythmics. Perdi-te, mas a tua perda é maior: perdeste-te a ti mesma e a oportunidade de seres tu por inteiro com alguém que te ama perdidamente e sem condições. Se alguma vez sentires a minha falta, tens um muro de paredes duplas à tua espera para destruíres. Não te amo menos mas... 'you have placed a chill in my heart', como diz a mesma canção dos Eurythmics.
Um beijo meu. Always.
A.
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PS (Novembro.2006) - Se pensas que és a única mulher heterossexual, comprometida com um 'homem fantástico' e com duas filhas, que se apaixonou perdidamente por uma mulher, ouve quem viveu o teu dilema e soube resolvê-lo respeitando os envolvidos:
Triste de facto (autoria: Blue)

6 comentários:

Anónimo disse...

lovely picture.

if you don't stand up for love everything else will fall.

F.
my heart is in Lisboa tonight

Always disse...

If you don't stand for love it means you don't love at all.

I saw your heart last night in a parallel Lisboa. :)

A.

Anónimo disse...

i am smiling cos i am pretty sure nobody knows the references to the replies [besides us] :)

Marina owns the The Planet,
F.

Entre os teus lábios disse...

A fuga, por vezes, é o caminho mais fácil, do que enfrentar certas situações da vida, mesmo que sejam o amor... sei.

Um sorriso.

Always disse...

Senhora Saudades

It's our secret, F.! :)

Of course Marina owns 'the planet'!

Always disse...

Entre os teus lábios

Obrigado pela visita.
A coragem é uma virtude cada vez mais rara. Se houver maturidade tudo se resolve mais facilmente, os medos relativizam-se.

Um abraço.