terça-feira, 21 de novembro de 2006

O gato que se tornou rato

Senhora Saudades aka F. - Trapped (Amesterdão, OUT06)

Lembras-te quando me escreveste que 'a liberdade é a única forma de amar'? Talvez hoje percebas melhor o que disseste, se calhar, sem te dares inteiramente conta do que isso significa. Porque é a única verdade que sei acerca do Amor, embora reconheça que essa liberdade essencial seja um esforço difícil quando amamos perdidamente - porque somos animais territoriais e assumimos o sentimento com absoluto egoísmo, porque queremos guardar para nós o tesouro que só a nós pertence. Mas a verdade é que quando amamos alguém devemos, acima de tudo, fazer com que esse alguém se sinta totalmente livre e que a escolha de ficar seja realmente uma escolha, porque aprisionar não é um acto de amor mas de dominação sobre o outro.
E a propósito das tuas suposições a meu respeito quando ainda mal me conhecias, expliquei-te que 'gostar' não é 'amar' e que há uma certa crueldade em receber amor e não dar igual. Não digo a palavra 'amo-te' facilmente, nunca sem o sentir, porque sei o quanto vale o verbo 'amar'. Não minto, omito. Seria uma má pessoa se mentisse e não minto em relação aos meus sentimentos. Não faço promessas que não posso cumprir. Quando oiço a palavra 'amo-te' baixinho no meu ouvido, não respondo o que não sinto ainda que goste muito, mas 'gostar muito' não é amar. Não engano. E sim, sinto-me responsável pela pessoa que diz que me ama, mesmo quando não sinto igual, e respeito-a, mas tal como tu, não obrigo ninguém a ficar. Dizes tu que temos sentimentos nobres e um bom coração, mas sabemos muito bem que isso é pouco para dar a quem nos confessa amor. A responsabilidade de ficar ou partir é de quem se sente mal com a situação, não achas? A culpa reparte-se - é menor quando não mentimos em relação aos sentimentos, mas ninguém sai ileso.
Quanto à palavra que não digo, não a temo. Não é por medo que não digo - não a sinto e se não a sinto, não vou mentir. Sei distinguir as coisas, já amei, muito poucas vezes, mas amei tão completamente que hoje já cresci o suficiente para não confundir 'amar' com 'gostar muito'. Quando te conheci vivia segura e intocável, com mil cuidados para ninguém me surpreender, para não me magoar. Esperava como um caçador espera a presa e era o mundo que vinha ter comigo e eu avisava quem chegava 'Por favor, não te apaixones por mim'. E tu disseste-me, 'Haverá um dia em que o caçador se torna a presa!' É verdade. 'É o risco e o desafio da caça - há animais que não conseguimos vencer, estejamos ou não preparados. Só posso desejar - tal como tu desejas - que seja um desafio justo - um dar e receber sem condições e em partes iguais.' – respondi eu.
E vieste tu. O que aconteceu entre nós foi tudo em partes iguais. E a meio de tudo, a luta pela sobrevivência.

10 comentários:

Anónimo disse...

Penso: a luta (pela sobrevivência), tem de existir num amor que cresça livre?

abraço

Anónimo disse...

i think i've seen this photo somewhere before... :) brilliant to go with the text in this entry, btw.

never use the word love carelessly.

sweet dreams of arroz doces,

F.

Sandra Marques Augusto disse...

Foi mesmo em partes iguais?

Hoje ainda não te disse que me apaixonei por ti... outra vez.
Caramba!, és mesmo jeitosa!

S.Star

Always disse...

analogic:

O amor cresce sempre livre, ou então não cresce, morre.

A luta pela sobrevivência vem depois do amor.

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Senhora Saudades

Your camera, your talent. My hand, my cell phone and my cat. :)

I hardly use the word 'love'.

Sleep tight, darling!

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Sandrita Star

A tua mão vermelha de paixão convenceu-me ontem, mas podes repetir-me isso amanhã e depois de amanhã e depois e depois de depois...? :)

Que seria de mim sem as tuas dedicatórias de amor?...

Um beijo!

Always disse...

Sandrita Star:

PS1 - Foi em partes iguais enquanto aconteceu, disso tenho a certeza.

PS2 - Sou mesmo jeitosa, não sou? ;)

wind disse...

Gostei de ler-te:)

Always disse...

Wind:

Gosto que tenhas gostado! :)

Ruben Neves disse...

Amor não-correspondido, bem, é terrível para ambos os lados, mas principalmente para ti com a tua armadura, que condena desde o início todas as tuas relações com alguém que verdadeiramente sinta algo por ti.

Anónimo disse...

Jeitosa é o teu nome do meio!
O teu apelido é Boa-como-o-milho!!!

Vivá broa!

S.Star-padeirinha-de-Lisboa

Always disse...

Deklan:

Não é assim tão simples como dizes - o texto diz mais do que apenas isso. Não finjo sentimentos que não sinto - isso seria enganar. As relações em que não há amor em partes iguais estão condenadas em si mesmas.

Bem-vindo! :)

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Sandrita Star:

LOL...

Quando me pedes em casamento, afinal? Ou será que andas a enganar-me com falinhas mansas?! Uhm?