quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Quantas horas te sobram?


Sabes quanto tempo tem um dia vazio de horas? Sabes quantos dias tem o tempo? Sabes quando as noites não chegam a amanhecer? Sabes quando começa o fim do que só vai no princípio? Dizes que sim, mas não sabes. Dizes por dizer, porque te enganas, porque vives nesse equívoco de que o tempo tem uma aritmética definida. E vives um dia atrás do outro como se os dias existissem como medida segura do Tempo, que é infinito por definição. Eu não sei olhar para o relógio e dizer, como tu, o tempo que nos passa, o tempo que nos falta e o tempo nos esgota. Sei apenas quando fico fora de horas, quando sobro aos dias e escapo às noites para chegar ao que me falta. Porque eu estou sempre ausente dessa medida a que te dedicas com determinação, que te organiza essa existência controlada em que te escondes para não te pensares no que te adivinhas e no que já sabes de ti. Porque é mais fácil viveres seguindo em círculo os ponteiros do relógio do que traçares uma linha recta em que te sintas verdadeiramente. Porque precisas de distrações penduradas nas horas que passam por ti. Porque sabes o que acontece quando te esqueces das horas e te regressas sem restrições. Porque não queres essa liberdade de ser e de sentir que te torna frágil por não estares habituada. Não queres ser tu, queres ser a pessoa que te inventas aos outros. Queres acontecer sem custos nem riscos, como se a vida fosse uma lista de tarefas simples, sem sobressaltos nem imprevistos. Desejas e não sabes ter. Sabes usar e deitar fora. Sabes desperdiçar o teu tempo no tempo de toda gente. Existes numa fita do tempo, espartilhada em ti mesma. Quando olho para trás, tenho pena de não te ter avisado que não vives para sempre, que não és infinita. Talvez percebesses que quando te quiseres encontrar poderás não ter tempo suficiente para ficares finalmente em ti a tentar cumprir o que te falta para seres feliz. Mesmo que andes sempre a horas certas, às vezes é demasiado tarde.

5 comentários:

wind disse...

"mudam-se os tempos, mudam-se as vontades":)
Vou-me ausentar por uns dias.
Inté jazz:)

Always disse...

Vai e volta, cá te espero. :)

Anónimo disse...

Penso: existe o tempo para além do compasso do coração?

abraço destempo

D. disse...

Obrigada pela visita ao cantinho...

Um beijinho e um bom fim de semana ;)

Always disse...

Analogic:

As batidas do coração marcam o rtmo de uma contagem decrescente. O tempo deixa de contar quando o coração morre.

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D:

Retribuo as tuas visitas por aqui. :)

Um beijinho para ti.