terça-feira, 15 de novembro de 2011

Desperdício

Lorenz Holder, 2009

Nasce um abismo profundo dentro do peito no deixar de querer o que se perdeu da mão. A vertigem da queda arrasta uma falta de fé ainda mais funda do que vazio do abismo. Porque deixar de querer é deixar de lutar, baixar os braços e encolher ombros. E há em tudo isto uma espécie de morte interior que entorpece o corpo, embalado nos braços frios da ideia de nada. Deixar de querer é assumir o erro do que, antes, foi vida e verdade absoluta em nós e perder razão por dentro é escavar no que sobra o abismo. Mas deixar de querer é preciso quando é a única salvação, a fé que resta num princípio de liberdade como asas à beira do precipício. Não se pode querer o que, no coração, escolheu deixar de ser nosso - quem de nós partiu deixou morrer o que, dantes, foi um querer nosso.

4 comentários:

GRAFIS disse...

Por vezes cavamos buracos ainda mais escuros e profundos, quando não nos deixamos deixar de querer, e lutamos contra o inevitável…
Por vezes temos de deixar ir…
E por vezes ainda, não somos nós que desistimos. Outrora, alguém o fez por nós.
Teimamos em querer fazer viver um fóssil, e tu bem sabes que não há como reanimar uma pedra. Temos receio de não voltar a encontrar o Amor, ou algo tão belo e tão forte, tão glorioso como o que teimosamente nos agarramos, e que já partiu.
Este sentimento de perda é terrível, quase capaz de matar...
Até pode ser que sim, que não voltemos a encontrar o Amor, mas a probabilidade de isso acontecer é muito pequena, muito menor do que a probabilidade de voltares a viver algo tão verdadeiro, tão intenso, ou melhor. Porque acredito em ti e porque sabes.
Do que eu sei, de ti, voltarás a viver esse milagre com quem vai saber realmente o verdadeiro valor e significado dessa grandeza que vive dentro de tão poucos privilegiados, de quem tem tão grande capacidade para amar, como tu.
Se há alguém que sabe como faze-lo, és tu. Basta deixares-te querer…

whitesatin disse...

Subscrevo inteiramente as tuas palavras GRAFIS! :D

Estás a ver, Always? No more comments needed ;)

Beijo grande!

Always disse...

Querida C.

Agradeço-te TUDO, não apenas o comentário, mas a sensibilidade e a percepção e a confiança que imprimiste em cada linha do que escreveste. E tu sabes o suficiente de mim para saberes que te agradeço do fundo do coração e também sabes que a tua visão tem eco em mim. Porque tens razão, toda a razão do mundo. Os buracos mais escuros e profundos são aqueles que cavamos com as nossas próprias mãos quando tentamos, estupidamente, reanimar pedras. Porque é impossível e temos de deixar de querer quem desistiu de nós. Já deixei de querer esse amor-fóssil para mim...
Obrigada pela fé no que me reconheces, porque ela me desperta um caminho de vida onde eu possa ser por inteiro, e melhor, o Amor que sou capaz de sentir no seu estado mais puro e generoso. Obrigada por confiares em mim e obrigada, sobretudo, pelo teu ABRAÇO sem tempo nem distância, por estares aí e por seres a pessoa luminosa que me és.

ABRAÇO, reforçado de saudades!...

Always disse...

Contra factos, eu não argumento! :)...Oiço quem tem lucidez e a patilha comigo. Tu sabes!

Abraço forte!