domingo, 4 de fevereiro de 2007

Encontrar-te

Steven Price,untitled, 2006

Desculpa se fico a olhar-te e se os meus olhos sorriem a olhar para ti. Não sei ser de outra maneira quando te vejo, não preciso explicar-te porquê. Desculpa por sentir coisas que não queres que sinta, se te escrevo sem saberes, se te quero perto, ouvir-te a voz. Desculpa ter-te comigo em pensamento a todas as horas do dia, ainda não aprendi a existir à margem do que sinto. Mas aprendi muitas coisas entretanto. Aprendi a guardar para mim o que gostava que soubesses. Aprendi a ficar longe para deixar-te ser feliz. O que faço por amor nunca irás compreender. A única dor que me resta é o que foges de mim, mesmo quando sabes que não te vou impôr palavras de amor que não queres ouvir. Doi-me sentir-te prisioneira, encurralada no teu próprio medo, escudada numa aparente vontade própria esvaziada de vida. Deves gostar muito mais da pessoa que escolheste do que de ti mesma e isso é triste. Não tenho esperança de coisa nenhuma, mas gostava que, de vez em quando e sem medo, me deixasses saber que estás viva.
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A propósito de medo, «LOST», Série 1- episódio 1:
KATE: You don't seem afraid at all. I don't understand that.
JACK: Well, fear's sort of an odd thing. When I was in residency my first solo procedure was a spinal surgery on a 16 year old kid, a girl. And at the end, after 13 hours, I was closing her up and I, I accidentally ripped her dural sac, shredded the base of the spine where all the nerves come together, membrane as thin as tissue. And so it ripped open and the nerves just spilled out of her like angel hair pasta, spinal fluid flowing out of her and I... and the terror was just so crazy. So real. And I knew I had to deal with it. [He's crying]. So I just made a choice. I'd let the fear in, let it take over, let it do its thing, but only for 5 seconds, that's all I was going to give it. So I started to count, 1, 2, 3, 4, 5. Then it was gone. I went back to work, sewed her up and she was fine.
KATE: If that had been me, I think I would have run for the door.
JACK: No, I don't think that's true. You're not running now.

16 comentários:

inominável disse...

passei para te encher o copo vazio e fiquei até esvaziar a garrafa...

whitesatin disse...

Desculpa?! O amor não pede desculpa...

Ah, e o medo é um estado psicológico. Tem tratamento ;)

Bjs

Always disse...

inominável,

Sê bem-vinda! :)
Volta com a garrafa cheia...

Always disse...

whitesatin,

Quando o amor não é desejado pela outra parte, sinto que tenho de pedir desculpa pelo incómodo que possa representar.

E concordo contigo - o medo é, de facto, um estado psicológico, tem tratamento, mas primeiro há que reconhecer que se precisa de ajuda e depois procurar essa ajuda... especializada, de preferência. ;)

Bjo

SMA disse...

ÀS vezes penso que correr atras cria de uma maneira quase reflexa fugir ou ir em sentido contrario ao desejado...
Estou nesta fase, não quer, não quer.

Boa semana.
Bjo

Always disse...

Presença,

Não corro atrás. Já corri e fiquei cada vez mais longe. Nessa corrida aprendi que perdi a guerra, severamente ferida. Não fui poupada em nada - silêncio e distância em tudo.

Uma boa semana para ti também. :)

Bjo

wind disse...

desculpa, mas já perdeste. Porque insiste em pedra dura?
Só te magoas.
bjs

Always disse...

Wind,

Que perdi sei eu.
Insisto porque me magoa mais desistir do que sinto.

Bjo

Blue disse...

Mas perdeste duma forma circunstancial, e isso é que é o mais injusto de tudo! Perdeste porque a sociedade não aprova esse amor e há quem tenha medo de viver sendo verdadeira a ela própria. Tu sabes o que ela sente, todas nós o sabemos um pouco, mas para nós o amor é mais relevante do que o medo de sermos criticadas pelas nossas opções.

É que tu não perdeste alguém que não te ama, perdeste alguém que tem medo do amor que sente por ti, alguém que foge de si mesma e daquilo que sente... e tu sabes que poderias talvez ajudá-la a ultrapassar esse medo, que duas são mais fortes do que uma... mas se ela não quer, tu sozinha nada podes fazer.

Sentes que ela precisa de ajuda, estás diposta a ajudá-la mas ela nega-se a tudo, fecha-se sobre ela própria e age como se estivesse morta por dentro. Mas não está, e tu sabes que ela não está, e sentes que há um coração que ainda pulsa por debaixo da casca na qual ela se refugia... e é brutalmente injusto que ainda hajam pessoas que vivam debaixo duma tirania de medo e vergonha, e que elas próprias nos façam sentir como se o nosso amor fosse uma coisa suja e errada...

Falhaste, falhamos, porque não conseguimos provar que o nosso amor é uma coisa boa, é uma oportunidade única e especial que devia ser celebrada porque acontece tão poucas vezes numa vida... enfim... I feel for you, I feel it too, I feel it with you... se bem que não te serve para nada saber isso, nem a mim...

wind disse...

Posso meter-me?
Agora estou muito a sério para tentar perceber e questionar, se não quiseres responder, não respondes.
Já percebi que ela ainda gosta de ti, mas não consegue assumir isso.
Pergunto:
Achas que ainda consegues convencê-la a voltar para ti?
Achas que vale a pena?
Se não voltar vais passar a tua vida a pensar nela?
Desculpa as perguntas, mas como sabes sou curiosa, não para me meter na vida das pessoas, mas para conhecer as pessoas. Também me podes fazer perguntas.
bjs

Blue disse...

Posso responder-te e dar-te a conhecer um pouco de mim? :P

>>Achas que ainda consegues convencê-la a voltar para ti?
Se não a convenci até agora sinceramente acho que não.

>>Achas que vale a pena?
Se não achasse que valia a pena não estaria aqui a escrever sobre isso...

>>Se não voltar vais passar a tua vida a pensar nela?
Sim.

Do que já li de ti também já percebi que sofreste um desgosto de amor aqui há uns tempos... ainda pensas nela? Achas que um dia vais deixar de pensar? Como é óbvio podes não responder, até porque a tua boa-vontade era para com a Always e eu é que me vim meter aqui no meio! :P

wind disse...

Respondo sim Blue, não tenho nada a esconder:)
Sofri sim um desgosto de amor que me levou à minha 1ª depressão e a durante 10 anos estar com o coração fechado para toda a gente.
Esqueci-a, mas não conseguia aceitar nem dar nada emtermos de relação amorosa.
Há 3 anos finalmente apaixonei-me outra vez, mas durou só um mês e de novo saí muito magoada.
acentuou mais o meu estado depressivo.
Pronto ficam a saber tenho um historial depressivo.
Decidi nunca mais me apaixonar por ninguém desde há 3 anos e assim tem sido. Não iria aguentar mais ser magoada e magoar.
Respondido Blue:)
beijos

Always disse...

Blue,

Ainda assim, tens mais sorte do que eu. Quem tu amas quer-te e procura-te, ainda que não seja como tu queres exactamente. Tu não falhaste - ela sim, pela falta da coragem que tu tiveste (e ela não) em igualdade de circuntâncias. Tu sabes o que queres e como queres. Ela quer outra coisa e quer-te também - não desistiu de ti, essa certeza tu tens. A decisão está na tua mão. Eu sei que para ti é pouco, mas eu assumo a incondicionalidade do que sinto sem dilemas.

Sinto o que tu sentes e abraço-te em sintonia. As batalhas perdidas às vezes são guerras perdidas também.

Always disse...

Wind,

Acho que encontraste respostas às tuas perguntas no post «Por outras palavras». :)

A esperança não mora em quem assume que perdeu a guerra.

Bjo

Anónimo disse...

Poético, profundo, dorido, sofredor, como deve ser o amor, ou melhor gostar de alguém segundo os poetas e pensadores, sem fazer a ponte com o real, ou seja com a vida de todos os dias, com o seu lado banal e com uma coisa que se chama fazer opções em relação àquilo que mais nos convém.


Ligando isto, ela gosta é muito dela, por estar porventura a fazer a opção que é melhor, ainda que possa ser menos sedutora e arrebatadora. Enfim a vida tem um lado Florbela Espanca e outro David Goleman, escolher e escolher bem, é nossa opção, recordando que a Florbela Espanca tinha um ar profundamente infeliz...

Always disse...

Anónimo,

Ela gosta muito de muitas coisas, mas muito pouco dela mesma. Inteligência emocional não tem e a noção de 'amar perdidamente' como descrita na literatura menos ainda.
Porque todas as escolhas têm custos, uns mais visíveis do que outros, uns matam por fora, outros matam por dentro.

Até que ponto a escolha 'que mais nos convém' nos faz mais felizes?

Fiz muitas escolhas dessas 'que mais convêm' e não me senti mais feliz por isso. Senti-me, sim, pouco inteligente e ausente de mim mesma. Aprendi com isso que a realidade - aquilo que chama de 'vida banal' - deve ser construída na sucessão dos dias com base na verdade da nossa essência. Se nos enganamos a nós mesmos a favor da 'escolha que mais nos convém' não é felicidade daí resulta certamente. Mas perda de amor-próprio é com certeza.