sábado, 24 de fevereiro de 2007

Marcar a paisagem

Steve Cheetham, Still Standing, 2004

Fica sempre algo de nós na paisagem onde nos passeamos. Somos a soma dos passos que damos para a frente e para trás, para os lados, como somos também o tempo em que paramos sem saber ao certo por onde ir. Somos interrogações e certezas, uma de cada vez ou tudo ao mesmo tempo, mas não somos donos da verdade, nem sequer da nossa própria verdade, porque não somos o mesmo desde que nascemos até que morremos, unos e definidos. Somos muitas coisas diferentes em muitas pessoas diferentes também. Existimos na mudança dos dias e das estações. Aprendemos e crescemos no percurso da paisagem. Encontramo-nos e perdemo-nos muitas vezes na indefinição que nos sobra de nós. Quando não sabemos quem somos e não temos coragem de perguntar, sentamo-nos numa praia confortável que não nos dê muito trabalho a pensar. Quando queremos mais do que isso, procuramos a resposta e edificamos com maturidade marcas na paisagem que percorremos passo a passo, numa cadência respirada. O desassossego da verdade que procuramos faz-nos crescer e torna-nos mais fortes. Saber quem somos aguenta-nos de pé na paisagem da vida.

9 comentários:

Anónimo disse...

Mas somos donos de uma certa verdade de nós, a momentânea.
Creio que a indefinição de nós em que nos perdemos, é o verdadeiro segredo de uma certa felicidade, um certo estado de felicidade. ...da possibilidade de todas as coisas.
“Saber quem somos aguenta-nos de pé na paisagem da vida.”
Que seríamos nós sem memória, sem auto-conhecimento dinâmico, sem caminhos para percorrer, sem alternativas, sem mares, sem estrelas, sem sensações/emoções, sem destinos infinitos... sem desejos, sem vontades, sem realização...?
O mundo e a vida são muitas possibilidades e uma só, a que melhor se constroir dia a dia, quanto mais verdadeira e fiel: o que escolhermos.
Teremos o que escolhermos.
Não falo de ter algo em concreto, mas de conceito: o amor, a amizade, a justiça, a honestidade, a humildade... para com os outros e para connosco tb...
:)
Gostei deste texto. Muito mesmo.
Bjo
Fica bem.

wind disse...

Com a minha maneira de ser concordo completamente contigo e mais uma bela prosa:)
beijos

(' ') disse...

: )
Belo texto!

Bela interpelação q me marcaste na "paisagem cerebral"...

Concordo ctg por te saber, em parte, sempre, em parte...

A Sk tb tem razão na questão do momentânea e do q escolhermos...

E tb surge, algures no comentário dela, a palavra "melhor"...e é por causa dessa mm palavra e, pelo q dizes, na última frase q é preciso ter cuidado com a marca/imagem q temos de nós próprios e com as marcas/imagens q outros deixam ou nós permitimos q deixem fazer parte da nossa “paisagem momentânea”...

Mas o q foi dito, o q digo e o q dirão foram,são e serão “variações do mm”...

; )

Take care

P.s. obrigada por teres "tomado conta de mim" e teres marcado a minha paisagem, ultimamente.

whitesatin disse...

Só me ocorre uma palavra para este texto: Dinâmica.

Gostei muito da "praia confortável" de que falas. É dum sítio assim que estou a precisar só para me sentar e simplesmente contemplar.
Estou cansada de fazer marcas na areia dos dias.

Quanto à verdade, pois, o grande génio é que sabia: é tudo relativo, e tudo é a soma das partes ;)

Bjs

wind disse...

Desculpem, não tem nada a ver, recebi por mail e lembrei-me de partilhar:
http://www.dailymotion.com/video/xsirr_concert-sauvage-dans-le-metro

Always disse...

SK

Somos donos da verdade, momentânea ou não, que está ao nosso alcance e que podemos controlar.

"a indefinição de nós em que nos perdemos, é o verdadeiro segredo de uma certa felicidade, um certo estado de felicidade...da possibilidade de todas as coisas.."

É muito interessante este teu ponto de vista, porque é precisamente essa indefinição de nós que nos torna a vida mais estimulante e inspiradora, na medida em que pressupõe outras hipóteses e possibilidades em aberto, em vez de um círculo fechado no ficamos reféns de escolhas definitivas 'sem alternativas, sem desejos, sem vontades, sem emoções, sem destinos infinitos, sem realização'.

Construimos o que somos no dia a dia. Somos o que escolhermos sendo verdadeiros a nós mesmos, só e apenas isso. De outro modo não passamos de uma encenação para o mundo. E quando nós mesmos não distinguimos a verdade do nosso próprio teatro é porque alguma coisa em nós falhou gravemente.

Gosto que tenhas gostado do texto. :)

Bjo

Always disse...

Wind,

Mais uma vez agradeço-te o apreço (e também o link para o clip). :)

Bjo

Always disse...

(' '),

A palavra 'melhor' devia ser uma das palavras mais recorrentes no nosso passeio pela vida. Afinal a caminhada e o testemunho dessa caminhada devia ser um esforço continuado para chegar a 'melhores' possibilidades de realização pessoal, com melhores escolhas, melhores destinos, melhores sentimentos, etc. Acima de tudo, falo de uma caminhada interior e das marcas que nos permitimos deixar em nós mesmos num processo de crescimento e na definição de uma identidade com maturidade.

Bjo

PS - Obrigada eu por sentires que faço 'alguma diferença' na tua paisagem... :)

Always disse...

Whitesatin,

A verdade é que Einstein resumiu TUDO de uma vez, sem margem para dúvidas. Isso é que define um génio.

A verdadeira sabedoria está em saber relativizar e isolar o que é realmente importante. Os efeitos especiais são credíveis apenas no cinema. Somos um processo dinâmico, um sem fim de possibilidades e alternativas para se entendermos a vida como um caminhar pela verdade do que somos, não esquecendo que o nosso tempo está limitado à partida.

Bjo