quinta-feira, 1 de março de 2007

Para além do muro

Zenmat, Brick, 2006

Pedra sobre pedra constrói-se um muro em pouco tempo. Cada vez mais alto e mais resistente, até ser uma muralha que defende corpo e alma do que não sabemos enfrentar. Pouco a pouco tornamo-nos a própria pedra, indiferentes ao que se passa do lado de fora de nós. E quando a muralha se confunde com a nossa identidade, desistimos da vida porque perdemos a liberdade. Se não podemos ser livremente e sentir medo de uma forma natural, não existimos, somos uma coisa qualquer fechada, fria como pedra, morta por detrás do muro. Acontecemos no inesperado, no que não se planeou, no instante em que reagimos quando somos surpreendidos. A vida acontece nos riscos que corremos em cada minuto que passa por nós. A vida é o entusiasmo que nos anima a apostar tudo com a esperança sempre viva de que havemos de ganhar um dia.

17 comentários:

wind disse...

boa e real prosa.
Hoje estou de poucas palavras:)
beijos

(' ') disse...

Credo. Assustei-me, a sério agora assustei-me. Acabei de postar um coraçãozito de pedra...

(' ') disse...

Acho que posso dizer:

-ISTO É OBRA!

:D

Fora de brincadeiras, hummmm, que belo post.

Anónimo disse...

E uma vida sem muros de preferência.
Os muros são humanos e assim como construimos tb sabemos destruir.
A aptidão está lá.É preciso não deixarmos turvar o olhar nem o peito.
Bjo
Bom fds

Sandra Marques Augusto disse...

Há quem diga que já somos vencedores e eu acredito :)

Alías, como tu bem sabes ó Miss Always, vencemos quando demos as mãos, lado-a-lado, enquanto a cirurgia nos tirava os tumores e depois, mais tarde, quando escavámos juntas aquele túnel que nos conduziu ao mar onde, exaustas, nadámos até à ilha que guardava o tesouro que nos permitiu ser agora riquérrimas e podermos hoje vingarmo-nos do Armando e da Maria Armanda.
E como a vingança pertence ao Senhor, tornámo-nos conhecidas pelas Damas das Capélias!

Uma túlipa,
S.Star

wind disse...

Estou furiosa!
Um fulano que por acaso até conheço pssoalmente dos muitos jantares e almoços que há de blogs, hoje deixou-me um comentário num post, assim sem mais nem menos com um link para a escrita de lésbicas.
Não comentou o post, só deixou o link.
A minha raiva é devida a duas coisas: achei completamente despropositado o comentário.
2º: não sou lésbica, sou bissexual e ninguém tem nada com isso!
Raio de gente estúpida!
Devem ter visto eu comentar-vos e já me catalogaram, mas caguei!

wind disse...

*pessoalmente

Angell disse...

Always,
Os muros também caem com o passar do tempo. Não são eternos, deixando "ver" o que nos era privado. Ninguém é uma rocha, mas de carne e osso e como tal, os sentimentos não podem hibernar para sempre dentro de nós. Não é justo! Temos que ter a esperança que "...havemos de ganhar um dia". Sem dúvida, tens razão! :)

Bjs!

Always disse...

Wind,

1º- Se não gostaste do comentário do fulano apaga-o e pronto, tão simples quanto isso.

2º- O que é que este blog tem a ver com orientação sexual? Aqui não se discutem o assunto nem se faz militância a coisa nenhuma. Escrever sobre sentimentos universais nada tem a ver com questões de orientação sexual.

3º- Nunca discuti aqui, nem revelei sequer, a minha orientação sexual, nem vou fazê-lo. Se sou bissexual, lésbica ou heterossexual baralhada só a mim diz respeito. Escrevo sobre uma mulher com qual, assumo, vivi um grande amor. Mas o que é que importa o facto de ser homem ou mulher quando estamos a falar de sentimentos?

4º- Não percebo como é que saltaste para a imediata conclusão de que foste catalogada como 'lésbica' por comentares ESTE blog. Provavelmente não foi por aqui que ele assumiu que serias lésbica, já que AQUI ninguém ninguém discute questões de identidade sexual, muito pelo contrário.

5º- Este blog não é porta-estandarte de coisa nenhuma a não ser da essência humana em termos emocionais e não só. Aqui fala-se com razão e coração do verbo amar e de outras coisas do que somos enquanto indíviduos com virtudes e fragilidades. Gostaria de manter esse nível de registo e não reduzir este espaço ao rótulo simplista 'amores lésbicos'. Odeio rótulos!

Bjs

Always disse...

(' '),

Estou aqui a pensar o que te hei-de responder. Não sei por razão te assustaste...

Há quem construa muros e se torna a própria pedra e há também as pessoas-estátua (já escrevi também sobre elas).

Bjs

Always disse...

SK,

De facto, quem constrói também pode destruir, mas nem sempre vinga a coragem. Por vezes, não crescemos o suficiente para entendermos que o muro nos torna reféns de nós mesmos.
Crescer é ficar mais forte e aprender a gerir a altura do muro, respeitando o que somos e o que sentimos sem medo e em total liberdade.

Bom fim-de-semana.

Beijo grande.

Always disse...

Querida Sandrita Star,

Como eu adoro o Conde de Monte Cristo! :)

E aproveito para dizer que tens toda a razão, fiz uma lobotomia certamente - só isso explica este ausência de mim nesta luta contra um moinho de vento. Resta-me acreditar que a nossa cirurgia de reconstiuição nos recupere totalmente, acabando de vez com fantasmas e alucinações, decorrentes da disfunção cerebral instalada pela parte de cérebro que nos falta. LOL
Enquanto há vida há esperança!

Um beijo

Always disse...

Angell,

Nem sempre os muros caem com o passar do tempo. Nalgumas casos vão-se tornando cada vez mais altos e intransponíveis. As pessoas habituam-se e acomodam-se às situações. Arranjam todo o tipo de pretextos para se justificarem, nem que sejam profundos disparates e absolutas mentiras. E, com o passar do tempo resignam-se, desistem, tornam-se prisioneiros conformados e 'felizes' com a fachada que os esconde e protege, ainda que o custo seja a solidão emocional. A esperança que os habita é aquela que se esgota num dia de cada vez. Não apostam nada, vivem obsecados com a ideia de perder tudo e nunca chegam a perceber o quanto é possível ganhar.

Bjs

wind disse...

Peço imensa desculpa pelo que escrevi anteriormente, não rotulei de maneira nenhuma o teu blog.
Não entendeste ou não me expliquei pq estava irritada.
Comento este blog precisamente porque não faz propaganda de "orgulho gay" (o tal rótulo), assim como comento mais 3.
Não apaguei o comentário dele pq sou contra a censura, mas fiz um esclarecimento geral, o que o obrigou a justificar-se com uma desculpa esfarrapada, com a qual gozei.
Mais uma vez desculpa se te ofendi.
Acho que vou ficar quieta nos comentários por uns tempos, pq só ando a fazer m****.

Always disse...

Wind,

Não me ofendeste de forma nenhuma, nem tens de pedir desculpa. O que não quero é que se entenda este blog como pertence a uma qualquer "gay parade" virtual.

E dizes bem, não há aqui qualquer propaganda ao "orgulho gay" e é minha intenção manter assim as coisas. Não concordo com militâncias baseadas na intimidade das pessoas. «Orgulho gay» parece uma coisa tão estúpida como seria aparecer por aí o «orgulho straight». Rejeito qualquer forma de guettização baseada na orientação sexual dos indivíduos.

Falo das coisas com a naturalidade que elas devem assumir em vez do carácter de excepção que as militâncias do 'orgulho gay' defendem. Não quero reduzir a expressão do Amor a uma postura 'política' em defesa da causa da homossexualidade, até porque a homossexualidade não é uma causa sequer.

Não tenho nada a ver com a realização sexual de cada indivíduo. Interessa-me, sim, que sejam felizes e verdadeiros consigo mesmo.

Não deixes de comentar por causa disto. :)

Bjos

whitesatin disse...

"A vida é o entusiasmo que nos anima a apostar tudo com a esperança sempre viva de que havemos de ganhar um dia."

Admiro a tua força e coragem :)

Eu por mim prefiro ter um murozinho. Assim, nem muito alto, nem muito baixo. Com uma porta de acesso ao exterior para poder sair e entrar quando quiser. Porque, sempre que for lá para fora e me magoar, posso regressar ao meu refúgio e curar as feridas em segurança.

Beijos

Always disse...

Whitesatin,

Quem disse que eu não tenho muros? Todos nós temos. O importante é não deixarmos que o medo nos paralize a existência e nos faça desitir de nós mesmos. A cobardia não é uma virtude nem viver com a 'cabeça enterrada na areia' nos faz mais felizes.

Também construo muros à minha volta e destruo-os quando acho que vale a pena. Arrisco com a esperança de ganhar - sinto o medo como parte do processo, procuro integrá-lo e, com bem senso, resolvê-lo passo a passo. E quando perco tudo, não me arrenpendo de nada - cresci mais um bocadinho, aprendi mais qualquer coisa, tornei-me mais forte. Não foi Nietzsche que disse: "O que não nos mata, torna-nos mais fortes"?

Um abraço forte.