sábado, 3 de março de 2007

Salvados

Steve Price, 2006

Virado do avesso este tempo que passa demasiado lento para esperar e demasiado rápido para partir. Ao contrário passam os dias cheios de tudo e de muito de coisa nenhuma. E, aos poucos, afoga-se o corpo inerte que se despeja nas horas que faltam para ir ao fundo. Mas debaixo de água existe um mundo infinito e a vida continua ao sabor das correntes que nos seguram e nos trazem de volta à superfície. Na viagem dos instantes que o relógio vai contando, descubro a verdade das coisas e a escala real das coisas verdadeiras. E neste desvendar da essência das coisas, entrevejo os moinhos de vento contra os quais luto em vão. Percebemos o mundo ao contrário durante, talvez, tempo demais e mesmo que a esperança permaneça enquanto estamos vivos, é preciso alimentá-la de alguma coisa para que tenha consistência e não se fique pela fragilidade de uma bolha de ar. O egoísmo de quem não tem nada para dar do muito que sente tem de ser ultrapassado pela generosidade daqueles que têm o mundo inteiro nas mãos à minha espera. Esses seguram verdadeiramente e ensinam a flutuar. Esses são a esperança de salvar o melhor que há em mim e de regressar-me à força que me prende à vida embrulhada na ideia de felicidade. Quem me diz que 'não quer', manifesta claramente uma vontade contra a qual não me adianta viver.

13 comentários:

wind disse...

Sublime prosa, numa parte pareces o D. Quixote e no final disseste tudo o que penso há muito.
Opá encontra um editor para o que escreves!:)
beijos

(' ') disse...

:)

Oh well...

Always disse...

Wind,

Gosto que tenhas gostado e te revejas no que escrevi.

Quanto ao editor, o José Luís Peixoto dará uma ajuda se eu concluir um conto de 40 páginas que tenho começado há 3 anos... só tenho 15 páginas, faltou-me a paciência entretanto. LOL

Bjos

wind disse...

Ena, vê lá se te volta a paciência que és uma artista desperdiçada:)
bjs

wind disse...

Desculpa, quando me referi no penso há muito é em relação a ti, a mim já não tenho remédio.lololol

Always disse...

LOL, vou pensar no assunto, prometo. :)

Não digas que não tens remédio que, como diz o povo, 'Até ao lavar dos cestos é a vindima.' Desistir só no fim da vida, quando não tivermos outro remédio e corpo e alma se resignarem. Até lá tens uma vida pela frente, aproveita todos os dias como se amanhã não existisse - é a melhor forma de fazer render o tempo a nosso favor.

Bjos

Always disse...

(' '),

Que te aconteceu?
Faltam-te as palavras ou não concordas com as minhas?...

(' ') disse...

Concordo, concordo.

Este é o chamado comment: POIS.

: )

Angell disse...

Always,
É uma escrita tão bela, melodiosa e sentida que fico igualmente sem palavras... :)

É verdade que escreves com grande mestria! Espero que a paciência volte a sorrir-te; e que possamos ler num futuro próximo o teu conto :)

Bjs!

Always disse...

(' '),

... Pois!

Bjs

Always disse...

Angell,

E agora sou eu que fico sem saber o que dizer...
Obrigada, gosto de saber que as minhas palavras não são apenas palavras alinhadas gramaticalmente. Escrevo sobre um sentimento universal - o amor. Procuro nos que escrevo dar-lhe um sentido único e original, fiel ao que sinto e à intensidade desse sentir.
E escrevo sobre a essência humana naquilo que toda a gente procura - um sentido de existência.

Faço perguntas e procuro respostas. Escrevo com coração e razão. Obrigada pelo teu entendimento e por chegares perto do centro do que digo. :)

Um dia encontrarei de novo a paciência para acabar a outra história.

Bjs

whitesatin disse...

Partiu-te o coração, afogou-te nas águas do desgosto, queimou-te no fogo do desespero, mas o melhor em ti será sempre o que "quem não te quis" não poderia nunca destruir: a tua essência, a tua alma.

Queres uma botija de oxigênio ou uma bóia salva-vidas? :)

Um abraço forte

Always disse...

Whitesatin,

A dor da perda e a rejeição são me impostos, a alma não morre no impacto, torna-se mais forte e maior também. A minha essência é indestrutível.

Aprendi a respirar debaixo de água e, quando à superfície, dou-me conta de que há botijas de oxigênio e bóia salva-vidas à minha volta. Sorrio. :) Obrigada!

Um abraço.