quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

A areia dos dias

Bruce Berrien, Milford, CT, 2004

Se entre ontem e amanhã não houvesse a fragilidade das horas que nos medem o respirar, seria mais fácil viver o tempo que passa sem nos apercebermos da sua irreversibilidade. Viveríamos livres e inconsequentes, provavelmente felizes. Mas os dias passam e, sem que o possamos evitar, passam também anos. E envelhecemos. Umas vezes de fora para dentro, outras vezes de dentro para fora. E há um momento em que, finalmente, percebemos que não podemos perder mais tempo com faltas de assunto e coisas poucas e sem importância quando há uma falta de nós por resolver. E nesse instante, o tempo começa a passar mais depressa e nessa contagem acelerada dos dias, tomamos consciência de nós, do que queremos, do que não temos, do que ainda nos falta fazer. E então compreendemos que não podemos desperdiçar-nos mais, porque o tempo é impiedoso, não pára, não espera, esgota-se, e sem que demos por isso pode ser demasiado tarde para viver o tanto que nos falta. E quando olhamos para trás o que nos sobra daquilo que quisemos ser e viver? E quanto tempo teremos ainda para sermos o que não cumprimos? O dia depois de amanhã é uma incógnita, amanhã pode nem chegar a ser. Envelhecemos sem reparar que não temos muito tempo para tentar ser felizes. Passamos pelos dias como se tivéssemos a eternidade por nossa conta, sem a responsabilidade de fazer de cada dia um tempo único, cheio, bem vivido.
Amanhã quando acordar estarei um dia mais velha, tenho menos um dia de vida ou mais uma oportunidade de me resgatar e viver mais perto de mim?...

12 comentários:

Anónimo disse...

Creio que terás mais uma oportunidade, seja para o que for. Mas é como a velha história do copo:
Um copo meio vazio, ou um copo meio cheio?
...e não me venhas dizer que é dentro do copo vazio, pq não vale.
Bj

whitesatin disse...

Que outra vida poderemos nós viver que não seja a nossa própria?
Bem ou mal, sendo que estes conceitos são tremendamente relativos, desde que nos foi dada a incumbência de vaguearmos por este planeta, cabe-nos então, a cada um de nós, viver da forma que considerarmos mais proveitosa para nós mesmos, independentemente da opinião alheia, boa ou má (relativizando, claro). Existem gostos para tudo, e, como sempre ouvi dizer: "os gostos não se discutem". Portanto, vive, se quiseres viver, ou não vivas, se o não quiseres. No fim, sempre no fim, a escolha é tua, e sempre será.

Boas entradas e melhores saídas.
Em tudo existe o bom e o mau, dependendo da forma como aplicas estes conceitos ;)

Cumptos

wind disse...

Ois:)
Carpe Diem!:)

Always disse...

SK,

Toda a gente merece uma segunda oportunidade... seja para o que fôr, dizes bem... a vida é cheia de surpresas e às vezes acontecemos quando menos esperamos. Agradeço o teu optimismo e está bem, não te falo de 'dentro do copo vazio' - estou a aprender 'fotografia' para saber usar as lentes mais adequadas à realidade. ;)

Anónimo disse...

Boa resposta.

Always disse...

Whitesatin,

A vida é que sabemos acontecer e cumprir no tempo que dispomos. A ideia fundamental é precisamente não desperdiçar o pouco tempo que temos de existência. Envelhecemos demasiado rápido e nem sempre nos damos conta do tempo que deixámos passar inutilmente. Será dramático chegarmos ao fim da vida e olharmos para trás e arrependermo-nos das oportunidades de sermos felizes que deixámos escapar. Escrevi sobre a necessidade de aproveitar a vida retirando dela o maior proveito segundo o princípio da felicidade.

Bjos

Always disse...

Wind,

Faço muitas as tuas palavras.

Always disse...

SK,

LOL... Vês? Afinal sempre vou aprendendo alguma coisa - o teu tempo não é gasto em vão.

Um beijo.

whitesatin disse...

"Escrevi sobre a necessidade de aproveitar a vida retirando dela o maior proveito segundo o princípio da felicidade." = You're absolutly right! Eu não teria escrito melhor.

"Será dramático chegarmos ao fim da vida e olharmos para trás e arrependermo-nos das oportunidades de sermos felizes que deixámos escapar." = Dramático? Aproveitar as oportunidades só depende de nós. Não considero um drama viver de acordo com o nosso coração. Pode ser um drama para o mundo, mas a paz de espírito...ah, a paz de espírito é o princípio da felicidade ;)

Bjs tb pra ti.

Always disse...

Whitesatin,

O que eu quero dizer é o tu estás também a dizer. :)

Digo que é dramático não aproveitar as oportunidades que temos de ser felizes, ou seja, de seguir o coração e tentar ser feliz nesse caminho. Não ter essa paz de espírito durante a vida é dramático porque acabamos frustrados e inevitavelmente infelizes.

whitesatin disse...

Então? E não é bom? Significa que vemos segundo uma perspectiva idêntica.
"Chover no molhado" também tem o seu encanto ;P

Always disse...

LOL... Claro que sim, ainda bem que concordamos e valorizamos a mesma perspectiva da vida. E nunca é demais 'chover no molhado' no que diz respeito a esta visão das coisas. :)

Tive apenas receio que não tivesse sido suficientemente clara.

Bjo.