segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Deixar de querer

Marisa D.L. , ...I'll be watching you, 2006

O ano está à beira de acabar. Quero chegar-me ao fim e iniciar-me em algo novo e melhorado, longe do que me mantém aprisionada e me limita os movimentos. De ti nada me chega a não ser a certeza de que não voltarás. Gostava que, por um dia que fosse, trocasses de lugar comigo, como nos filmes. Talvez percebesses realmente como me sinto; eu entendo o teu lado e só por isso mantenho esta calma de jazigo. O que sei neste momento é o essencial para perceber que devo deixar-te ser como escolheste ser. Serás sempre o que és agora, demasiado insegura para seres o que gostavas realmente de ser, mesmo que acredites, ingenuamente, na pessoa forte que não és. Não sabes ser mais, independemente do que pensas que és capaz. Tenho de ser para além de ti, não sei suportar a frustração de não ser eu por inteiro. Esforcei-me sempre para não ser igual a pessoas como tu. Não sou nem pior nem melhor, sei apenas que me quero verdadeira e honesta comigo mesma. Tudo o que sou foi construído com base nesse esforço de verdade e tenho sido recompensada por isso. A minha vida melhorou no dia em que me disseste adeus e vai continuar a melhorar porque aposto por inteiro e estou habituada a ganhar. Cresci desde que te foste embora, sinto-me maior como pessoa. O poder que nunca ambicionei caiu-me nas mãos sem querer e a minha vida mudou. Os outros olham para mim com assombro e deslumbramento. Tenho uma vida de filme, diriam alguns. Eu rio-me do que dizem. Tenho tudo o que preciso para ser feliz menos o que realmente quero. É-se feliz não tendo aquilo que se quer realmente? Não. Contigo descobri o que quero e agradeço-te esse milagre. Lamento ter-te perdido no momento em que tinha o mundo inteiro para te dar. Agora, seguindo-te o exemplo 'a querer que as emoções cumpram o que a razão impera' como me disseste, tenho de deixar de querer-te e querer outra coisa qualquer que me faça feliz.

9 comentários:

Anónimo disse...

Fantástica a foto.
Parede remendada, onde a construção antiga e moderna se encontram… pedra, cimento, seixos rolados, tijolo, madeira envelhecida, ferragens enferrujadas… tanta coisa incompatível e tão diferente.
Quase humanas.
Portadas. Dois lados de uma pessoa, ou talvez duas…
Expressão amargurada, de costas voltadas, uma lágrima no olho, bem abaixo da íris, uma olhando para a frente, pensativa, outra para trás…
Well…
O texto sou incapaz de comentar.
Desejo-te um bom [re]começo de ano, da forma como te souberes mais feliz.
Bjs

Always disse...

Bolas, SK! Conseguiste ver isso tudo na foto... Parabéns! Para além da alma tens olhos atentos também. Lindo! :)

Pouco há para ser comentado no meu texto. Todos os dias se recomeça, o tempo é relativo, não começa nem acaba, é uma ficção que nos convém para organizarmos a vida. O futuro não existe, é apenas um projecto do que queremos do nosso tempo de vida. No fundo, só tenho a certeza do presente, porque o passado é estático, inalterável que o próprio calendário vai tornando distante.

Always disse...

PS - Agradeço-te o voto de bom (re)começo de ano e retribuo-te o mesmo desejo. :)

Anónimo disse...

Do you really want what you wish ?

not..always...

:o)

big kiss

Always disse...

Aprendiz, cumpriste o prometido. :)

What I want is what I need... right now.

Um beijo para ti.

Anónimo disse...

Ai... escreveste o que eu poderia ter escrito e rever-me nas tuas palavras tão estranhamente familiares assusta-me! :-S Não sei se é possível deixar de querer... tenho medo de deixar de querer, de deixar de sonhar, de me fechar e assim me isolar de tal forma que isso acabe por me matar!

Anónimo disse...

Ai e claro que te desejo um feliz ano novo na esperança de que consigas deixar de querer o que queres ou que encontres algo que queiras que te faça ser feliz...

Beijo grande!

wind disse...

No comments:)

Always disse...

Blue,

Obrigado por teres passado por aqui. :)

Percebo perfeitamente o que dizes. Se fosse fácil 'deixar de querer' o que quero realmente nada do que deixo escrito neste 'copo' existiria. Tenho tanto medo como tu, e mais, o meu medo é da mesma natureza que o teu. Quando deixamos de querer morre um parte de nós, mas também morremos lentamente se continuarmos a querer o que nos rejeitam.

O meu texto reflecte um pouco esse ponto de dúvida que se instala em nós, em que temos necessarimente avaliar se vale a pena continuarmos a querer e a viver infelizes, sabendo que perdemos e que não vamos ter nada de volta por mais que o desejássemos.

'Ter de deixar de querer' é uma tomada de consciência da perda e da inutilidade da luta. É uma obrigação que nos impomos por bom senso. Não é o que queremos realmente, é o que nos obrigamos a aceitar.

Para ti também desejos de um bom ano. Não deixes de querer nunca até ao último momento. Ser feliz é querer com intensidade e ter a certeza que temos algo em retorno por que vale a pena caminhar.

Um beijo grande.