Partes todos os dias que passam por mim e todas as horas sem ti são a hora da despedida. Revisito o adeus frio que serviste à mesa no dia em que te foste embora. Fico a ver-te partir uma e outra vez, tantas vezes que não consigo lembrar-me de outra coisa. Recordo-te a voz da partida, memorizei o tom em que disseste que não poderias voltar a ver-me ou estar exposta ao que te sou, fui, porque hoje já não existo em ti. Revejo-me aos pedaços, espalhada pelo chão, sem conserto, caída do céu à velocidade vertiginosa do teu desamparo e da tua falta de amor. Desconheci-te e desconheci-me nesse instante. Não te detiveste. Tiraste-me o chão, continuei a cair. Enterraste-me. Deixei de existir, porque eu era tu comigo. Morri-te, resolveste-me com brevidade, telegraficamente. Sou passado, uma memória, a ausência de que não sentes falta nem saudade. Sou a tua fantasia realizada, o intervalo na tua vida. A pessoa que hoje não te sou deixou de te importar, tornou-se indesejável e incómoda nos teus dias. Aceitei a derrota, não posso obrigar-te a escolher-me nem a fazer-te sentido, como me juravas antes de teres medo dos fantasmas que carregas de um tempo antigo. A pessoa que não te sou tem pena que não saibas gostar de ti. A pessoa que não te sou tem pena do que não sabes crescer para além dos outros por não te saberes amar. A pessoa que não te sou perdeu o teu amor, mas quanto vale esse amor frágil e obtuso que tem a duração de um intervalo entre estações? A pessoa que não te sou não roga amor onde ele existe numa linha tracejada.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
Não te sou
Partes todos os dias que passam por mim e todas as horas sem ti são a hora da despedida. Revisito o adeus frio que serviste à mesa no dia em que te foste embora. Fico a ver-te partir uma e outra vez, tantas vezes que não consigo lembrar-me de outra coisa. Recordo-te a voz da partida, memorizei o tom em que disseste que não poderias voltar a ver-me ou estar exposta ao que te sou, fui, porque hoje já não existo em ti. Revejo-me aos pedaços, espalhada pelo chão, sem conserto, caída do céu à velocidade vertiginosa do teu desamparo e da tua falta de amor. Desconheci-te e desconheci-me nesse instante. Não te detiveste. Tiraste-me o chão, continuei a cair. Enterraste-me. Deixei de existir, porque eu era tu comigo. Morri-te, resolveste-me com brevidade, telegraficamente. Sou passado, uma memória, a ausência de que não sentes falta nem saudade. Sou a tua fantasia realizada, o intervalo na tua vida. A pessoa que hoje não te sou deixou de te importar, tornou-se indesejável e incómoda nos teus dias. Aceitei a derrota, não posso obrigar-te a escolher-me nem a fazer-te sentido, como me juravas antes de teres medo dos fantasmas que carregas de um tempo antigo. A pessoa que não te sou tem pena que não saibas gostar de ti. A pessoa que não te sou tem pena do que não sabes crescer para além dos outros por não te saberes amar. A pessoa que não te sou perdeu o teu amor, mas quanto vale esse amor frágil e obtuso que tem a duração de um intervalo entre estações? A pessoa que não te sou não roga amor onde ele existe numa linha tracejada.
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6 comentários:
Bela prosa triste, mas tão emocional e verdadeira.
Permite-me comentar, embora seja um desabafo teu e para alguém.
Tu és o que és, não te afundes por quem não vale a pena.
Podes responder que escreveste isto já no passado, mas falo por experiência própria, que tudo passa, mas as cicatrizes ficam.
Tens 2 opções:
1ª Continua , curte a vida, arranja, se acontecer, outra pessoa.
2ª Vegetas no campo sentimental de outra relação amorosa, ou seja, não abres mais o teu coração!
Bolas, já escrevi muito e demais:-)
Olha pego delicadamente nestes pedaços, colo-os pacientemente e faço um prisma com eles. Pego nele, acendo o Sol, e descubro um arco-íris!
abraço refractado
Wind,
Sente-te sempre à vontade para comentar os textos. :)
É verdade que não vale a pena tanta prosa sobre quem não sabe merecer tanto sentimento. Mas enquanto não descubro o que fazer com a intensidade do meu sentir por quem não quer saber, vou escrevendo para passar o tempo que passa tão devagarinho.
Então continua a escrever as tuas prosas poéticas:)
Analogic,
Sorrio-te e agradeço-te infinitamente a paciência e a poesia com que transformas, todos os dias, os meus pedaços num prisma de arco-íris.
Um abraço de cores fortes.
Wind,
Enquanto escrevo, meus males espanto. Escreva eu o que escrever é indiferente - o outro lado é surdo, cego e mudo. :)
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