sábado, 9 de dezembro de 2006

Vou contar-te uma história...

... que me contaram a mim:
A História do Porquinho Verde
"Era uma vez, numa quinta numa terra estranha e distante, vivia um pequeno porquinho diferente de todos os outros pequenos porquinhos ao seu redor. O pequeno porquinho era diferente de todos os outros porquinhos porque era verde, não, porque era verde fluorescente, mesmo, verde que brilhava na noite. Ora, o pequeno porquinho verde gostava realmente de ser verde.
Não que ele não gostasse da cor dos outros porquinhos, não, não era nada disso, ele até achava o cor-de-rosa uma cor bonita, mas, na verdade, ele gostava de ser assim, assim verde, assim um bocadinho diferente e um bocadinho peculiar.
Os outros porquinhos ao seu redor é que não gostavam nada do pequeno porquinho verde; tinham inveja da sua cor especial e, por isso, metiam-se com ele, faziam-lhe a vida negra, e as suas queixas e zangas permanentes acabaram por aborrecer os donos da quinta e um dia estes pensaram “Hmmm, o melhor é fazermos qualquer coisa para acabar com isto”. E, se bem o pensaram melhor o fizeram, e então, uma noite, quando os porquinhos estavam todos a dormir nos vastos campos da quinta, os homens agarraram no pequeno porquinho verde e levaram-no para o celeiro, com o pequeno porquinho verde sempre a guinchar e a chorar, e os outros porquinhos a rir-se dele, e quando chegaram ao celeiro os donos da quinta abriram este enorme barril cheio de uma tinta cor-de-rosa muito especial e meteram lá dentro o pequeno porquinho verde até ele ficar coberto da cabeça aos pés com aquela espessa tinta cor-de-rosa, e nem um pedacinho de verde ter sobrado, e depois mantiveram-no pendurado até a tinta acabar de secar.
E o que era muito especial a propósito desta tinta cor-de-rosa era que esta tinta não poderia nunca ser lavada ou pintada por cima. Não poderia nunca ser lavada nem poderia nunca ser pintada por cima. E o pequeno porquinho verde pensou “oh, por favor, meu Deus, por favor, não me deixes ser como o resto dos porquinhos, eu gosto tanto de ser assim um bocadinho peculiar”.
Mas era tarde demais. A tinta tinha secado e os donos da quinta mandaram o pequeno porquinho para junto dos outros porquinhos, e todos os porquinhos cor-de-rosa se riram do pequeno porquinho à medida que ele caminhava, triste, até chegar ao seu pedaço de relva favorito, tentando perceber porque é que Deus não tinha escutado as suas preces, mas não conseguia entender e então chorou, chorou até adormecer mas mesmo as dezenas de lágrimas que chorou não podiam lavar aquela horrível tinta cor-de-rosa pois aquela tinta não poderia nunca ser lavada nem poderia nunca ser pintada por cima.
Ora, nessa noite, enquanto todos os porquinhos continuavam a dormir nos campos da quinta, veio esta estranha tempestade, com grandes e grossas nuvens, e começou a chover, devagarinho primeiro mas depois com mais força e mais força e mais força. E esta chuva não era uma chuva normal mas uma chuva verde muito especial, quase tão espessa como tinta e, mais do que isso, esta era uma chuva ainda mais especial porque o verde desta chuva não poderia nunca ser lavado ou pintado por cima. Não poderia nunca ser lavado nem poderia nunca ser pintado por cima.
E então, quando a manhã chegou e a chuva parou e todos os porquinhos acordaram, os porquinhos descobriram que todos se tinham transformado em pequenos porquinhos verdes. Todos, menos um, claro, o nosso pequeno porquinho verde que era agora o único pequeno porquinho cor-de-rosa porque, nele, a chuva verde não fizera qualquer efeito por causa da tinta cor-de-rosa especial com que os donos da quinta o tinham pintado.
E, enquanto olhava para aquele mar de pequenos porquinhos verdes à sua volta, a maior parte dos quais chorava como bébés, o porquinho sorriu e agradeceu aos céus por lhe terem permitido que continuasse a ser assim um bocadinho diferente, assim um bocadinho peculiar. Sabendo que, afinal, seria sempre um bocadinho diferente.
E um bocadinho peculiar."
Retirado da peça The Pillowman (encenação de Tiago Guedes, Teatro Maria Matos, Set 2006)

14 comentários:

wind disse...

Excelente a mensagem que trespassa do texto:)
Podes tirar a foto e as que quiseres:)

Always disse...

Obrigada! :))))

Continua a fixar o mundo pelos teus olhos atentos ao pormenor.

Anónimo disse...

Quer isto dizer que cada um de nós nasce e vive, até ao fim, sendo nós próprios, e nenhum poder especial nos há-de mudar.
Quer isto dizer que somos todos iguais e todos diferentes, independentemente da cor com que nos pintam e pintamos.
Quer isto dizer que temos de olhar uns pelos outros e respeitarmo-nos mutuamente, a diversidade e individualidade.
Quer isto dizer que hoje magoam-te, e amanhã poderão magoar-me a mim se ficar de braços cruzados rindo-me de ti…
Bem, que isto dizer muito mais, mas fico-me por aqui :)
Mas eu cá preferia ser verde eheheh
SK

Always disse...

Quer isto dizer que morre a melhor parte de nós quando nos tentam mudar a essência do que somos para sermos iguais a toda a gente.

Quer isto dizer que sendo diferentes somos todos iguais em dignidade e respeito.

Quer isto dizer que, independentemente daquilo que esperam de nós, devemos ser verdadeiros em primeiro lugar a nós mesmos.

E quer dizer muito mais, mas também fico por aqui à espera que alguém acrescente mais duas ou três coisas...

Eu cá preferia ser azul! :)

Anónimo disse...

ohhhhh so sweet! :) i've finally read this cute little story just now. i've always known i was different. i'm so glad to be me, and i care none if others reprimand me for being different. thanks for the cute story, Senhora A. also, pig is one of my favourite animals! oink oink...

be happy who you are. whatever you are.

sweet dreams, darling.
F. [it's good to be a grey pig. a very happy grey pig.]

"when are you going to be a proper girl?"

neverrrrrrrrrrrrr! :)

Always disse...

LOL

See, we already have here a green, a blue and a grey pig! :D All different all the same. This story has a very deep meaning on human nature.

I've always wished to have a pig as a pet. They're cute and bright animals. Do you remember Arnold from «Green Acres», the American sitcom from the 60s?

By the way, I'm deeply sorry for George Clooney's loss - his beloved 19 year old pet pig died this week.

Sweet dreams, dahling! :)

Anónimo disse...

sssssssssssss
ooooooooooooo
rrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrr
iiiiiiiiiiiii
sssssssssssss
ooooooooooooo

Always disse...

ANALOGIC

Não escolhes uma côr para ti?... :)

Anónimo disse...

Só podia ser arco-íris, cada dia uma côr, ou num dia todas elas.
Ou então espelhado, para reflectir o céu, o Sol, as estrelas, e também o mar... que seria um porquinho marinheiro!
...pode ser? simmmm?

abraços suínos

Always disse...

Pode arco-íris ou espelhado ou as duas coisas ao mesmo tempo, cnforme a meteorologia! :)

Um abraço com brilho e côr.

Anónimo disse...

oh? didn't know that! i hope he makes decent presunto or chouriço out of his porquinho :)

F.

Always disse...

You cruel and mean creature, shame on you!! :)

Anónimo disse...

Eu cá gosto muito de ser da espécie humana, ainda que às vezes seja um bocadinho porcalhona e muitas vezes uma super-cabra...

S.Star

Always disse...

O que te dá um charme irresistível! :)