domingo, 7 de janeiro de 2007

A culpa foi do vinho

Tim Haynes, Half wine glass - cabernet sauvignon, 2006

Não te escolhi. Ninguém escolhe. Se pudesse escolher, não terias sido. Aconteceu, porque o amor acontece, não se escolhe. Tu escolheste-me. Seleccionaste-me e foste à minha procura. Querias muito aquilo que procuraste e acabaste por ter. Uma fantasia realizada, um desejo saciado com alguma imprudência. Uma aventura para distrair dias insatisfeitos. Um erro que te apressaste a reparar, pondo tudo no mesmo sítio, ainda com a cama quente do meu corpo. Não precisaste nem de um dia de luto. Encheste o teu copo no mesmo dia em que envaziaste o meu. Assim se mede a força do querer que me juravas. Assim se mede a intensidade do teu amor, que é tão líquido quanto a culpa de um copo de vinho. Vejo-te através da transparência do cristal puro. Penso na fragilidade da areia transformada vidro e no movimento rápido com que deixaste cair o copo. Escolheste-me como quem escolhe um vinho diferente para experimentar ao serão. Escolheste não amar-me. Ninguém escolhe quem ama. Eu não escolhi, se pudesse ter-te-ia escolhido como um vinho também.

9 comentários:

whitesatin disse...

Não acredito que tenha sido uma escolha expontânea...nem o vinho se escolhe assim...!
Existem critérios para se escolher um vinho (pelo menos para quem o sabe apreciar...).
Estou sem palavras...deve ser do vinho...sorry...

Bjs

Anónimo disse...

Se eu pudesse escolher não tinha sido ela, aquela que me fez sentir que por tê-la escolhido a tinha tornado frágil e infeliz. Ninguém escolhe quem ama, mas podemos escolher não amar mais...

Anónimo disse...

O vidro... essa matéria ancestral e mágica, eternamente mutável, viva, que nasce do fogo e se molda tão apaixonadamente... e nunca deixa de ser um líquido... Sabias? Sabias que o vidro não é um sólido? É na verdade um líquido num estado de alta viscosidade. Mas não evapora como o vinho, não embriaga, não turva o olhar.
Assim, colhe os cacos e tens três hipóteses: deitas para o lixo; colas tudo bem coladinho e remedeias; ou voltas a escolher atira-los à fornalha (tu sabes qual) para refundir e voltar a criar um novo cálice.
Quanto às escolhas... não se pode escolher. Ou é, ou não é. Assim o vinho está fora da equação. Da tua, pelo menos.
Bjs

Anónimo disse...

Aconteceu.
Acontece.
E depois acontecem muitas coisas.

wind disse...

Excelente texto.
Quando te digo para esqueceres, é que vivi uma situação quase semelhante há 13 anos.
Ninguém merece a nossa dor, se somos descartadas como um "lixo" qualquer.
bjs

SMA disse...

A ferida está aberta e sangra com estigmas de um crucificado...

Tira-te dessa cruz, para seres sepultada para que haja ressurreição!!!

Mas... sabes... ainda bem que não escolhemos...


Um abraço

Always disse...

Whitesatin,

Sim, todas as escolhas remetem para um critério, seja vinho ou outra coisa qualquer. Em relação ao critério aqui em causa, não posso responder pela outra pessoa.

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Blue,

Quem não sabe o que quer acaba sempre com a mesma conversa: dizem que 'viveram um amor que as tornou frágeis'. Também me disseram a mesma frase... como se tivessem sido obrigadas a alguma coisa contra vontade! Tu, nas mesmas circunstâncias que elas, és uma excepção pela maturidade que tens em assumir as consequências do que queres para ti e do que te faz mais feliz.

E sim, é verdade, ao menos podemos escolher deixar de amar.

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SK,

Gosto do que dizes. Deitar tudo para o lixo é uma boa ideia. Colar e remediar nem por isso, porque não há nada para encher o mesmo copo. Deitar tudo para a fornalha e recriar o cálice de novo é a melhor solução. Nada se perde, tudo se transforma. :)

O vinho está fora da minha equação, de facto. Só posso escolher quem não amar.

Bjos

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Anónimo,

É o ciclo da vida.

"...É a escolha que se faz
o passado foi lá atras
E nasce de novo o dia
nesta nave de Noé
Um pouco de fé"


XUTOS E PONTAPÉS «Contentores»

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Wind,

Tens razão. Quem deita fora é porque não quer. E quem não quer não merece nada.

Bjos

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Presença,

Vou expiando os meus pecados e aprendendo a lição, de mim para mim. Depois do calvário, a ressurreição.

Um abraço.

Anónimo disse...

maybe it's the Alentejo wine talking here so please forgive me if you think i sound coarse... i really believe love -not to be confused with lust- must be deliberately chosen and carefully nurtured. life is all about choices, and unfortunately some of us, including me, make the wrong choices sometimes. and what's worse? we choose to suffer. you choose to suffer. time might or might not heal the wound but for sure we all have to live with the shards of a broken heart for the rest of our lives.

suffering is not good for the soul, unless it teaches one to stop suffering. new year, new chances. you can at least try, yes? :)

beijinhos,
F.

ps: i had to rewrite my reply after reading it. it was the wine talking after all :)

Always disse...

LOL... Absolutely, wine's fault, yes! :D

Anyway, everything you said in the post is true: life is about choices. I don't want to suffer - I hate pain - I just want better choices. And trust me, I've grown from this more demanding than ever. :)

Big hug, dahling!