quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

E Depois Do Adeus... vagamente

Jonas Svedberg, All those moments will be lost in time like tears in the rain, 2004

Enquanto me ocorre vagamente a letra de uma canção que nunca perdi de memória, vou pensando muitas coisas ao mesmo tempo sem me deter em nenhuma. Não são coisas importantes, não o suficiente para perder tempo, que me falta cada vez mais, a pensar com cuidado. Entre o que escrevo hoje recordo fragmentos da canção "... E depois do adeus / Quis saber quem sou o que faço aqui / Quem me abandonou, de quem me esqueci..." É uma canção antiga, dos meus tempos de criança. Hoje recordo-a como eterna no que diz... se ao menos me lembrasse correctamente das palavras... "Perguntei por mim quis saber de nós / Mas o mar não me traz tua voz...". Foi há muito tempo, mas consigo lembrar-me claramente da melodia e da voz que a cantava com a força de uma revolução quase a acontecer "...Em silêncio, amor, em tristeza e fim / Eu te sinto, em flor, eu te sofro em mim..." Nas palavras que vou lembrando revivo muita coisa do que sei, o que aprendi do que me ensinaram e que desaprendi entretanto "...Eu te lembro, assim partir é morrer / Como amar é ganhar e perder...". Já vivi muito tempo desde aí, mas há coisas que nos ficam para sempre, esta canção por exemplo que nunca esqueci e que hoje recordo aos poucos como parte de mim "...Em teu corpo, amor, eu adormeci / Morri nele e ao morrer renasci...". Às vezes uma canção salva-nos de perder tempo a pensar e a escrever coisas insignificantes. Tudo o que era importante já foi escrito há muito tempo por pessoas que sabem realmente escrever, o que não é bem o meu caso. Por isso hoje, deixo a memória vaga de uma canção antiga falar por mim "...E depois do amor e depois de nós / O dizer adeus o ficarmos sós...". Não vale a pena esforçar-me em escrever melhor do que isto. "...Teu lugar a mais tua ausência em mim / Tua paz que perdi / Minha dor que aprendi..." Tudo o que me ocorre esta noite está espalhado entre os versos que aqui recordo com nostalgia "...E depois do amor, e depois do nós / O adeus o ficarmos sós."
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PAULO DE CARVAHO «E Depois Do Adeus», 1974

10 comentários:

whitesatin disse...

"Tudo o que era importante já foi escrito há muito tempo por pessoas que sabem realmente escrever." Muito verdadeiro, sem dúvida. É por isso que eu me escuso de escrever.
Mas não é só o 'escrever bem' que interessa. É o sentimento com que se escreve. E alguém como tu, que escreve cada palavra com sangue e lágrimas como se não houvesse amanhã, confere-lhes um valor incalculável, capaz de fazer calar de humildade o poeta mais eloquente.
Eu, consigo sentir o peso de cada palavra que aqui escreves, por isso...alguma coisita isso deve valer ;)

No entanto, esta letra, é realmente poderosa pelas verdades que transmite (apesar do artista não constar dos meus favoritos).

Beijos

Always disse...

Escrevo com a eloquência do que se sente genuinamente na alma e no coração. Talvez por isso me faça entender nesta minha arrumação de palavras e consiga chegar perto a quem me lê e sente o que digo. Agradeço-te o cumprimento e a atenção. :) É bom saber que escrevo para além do vento.

Quanto à canção, a letra foi escrita por José Niza e a música composta por José Calvário. "E Depois do adeus" venceu o Festival da Canção da RTP em 1974 e foi uma das 'canções código' na revolução de 25 de Abril.

Uma abraço.

Anónimo disse...

"E depois do amor"... o que fica depois do amor? Não vejo ganhos, só perdas, e sofrimento e dor... Investimos (houve um "nós"!) e depois falhámos e o "nós" perdeu, não sobreviveu, morreu...

Chegas demasiado perto, muito mais do que alguém algum dia chegou... como sabes...

Beijos grandes

SalsolaKali disse...

All those moments will be lost in time like tears in the rain... bjs

Always disse...

Blue,

Depois do adeus dói e dói ainda mais a dúvida que se instala: amaram-me ou não? É uma dúvida que corrói as recordações do bom que houve.

Mas pior ainda, deve ser a infelicidade de alguém que desiste de uma parte de si e vive cada dia que passa sem coragem de sonhar e avançar e assim envelhecer e morrer irrealizado e incompleto. O tempo que se perde não se recupera e, se não tivermos cuidado, perdemo-nos para sempre na pobreza de espírito que não soubemos contrariar.

Se te chego perto é porque a tua alma vive nos sonhos que tens e na força com que os seguras e os cumpres por acreditares em ti, mesmo que toda a gente te diga 'não podes fazer isso'. É essa honestidade e coragem que te aadmiro que me faz perceber a pobreza de espírito daqueles que fogem cobardemente sem tentar de forma adulta.

Um beijo.

Always disse...

SK,

Hehehe... Reparaste no título da fotografia! :)...from «Blade Runner». Foi de propósito. :)

A sério, percebi o que queres dizer. Que seja só o mau a diluir-se no tempo como lágrimas na chuva.

Um beijo.

wind disse...

Também me lembro dessa música:)
Como escreveste foi o código.

Always disse...

Wind,

:) E eu que estava a pensar que seria a única pessoa a lembrar-me da canção, afinal... :)

Bjo

Anónimo disse...

Ó amiguinhas!,

Esta música/canção é linda e ponto final.
E já agora também o são "A Desfolhada" e a "Telepatia", e "Era uma vez o Espaço" :))
E ainda bem que há pessoas que conseguem tornar "visíveis" os nossos sentimentos em canções, músicas, pinturas, esculturas, etc, ajudando-nos a "exorcizá-los".

Para vocês, que são todas lindas, um excelente 2007!!

S.Star

Always disse...

Querida Star,

Por isso mesmo tenho uma paixão pelas artes e pelos artistas. :)

E já agora também podias ter referido uma canção da Anamar, tipo, sei lá, «Afinal», a mulher marcou a minha geração. :)