terça-feira, 30 de junho de 2009

A linguagem dos objectos

Jackeline R., 3# Project Love

Pé ante pé, antecipando o corpo todo, espalho vestígios pelo quarto onde te encontro um sorriso antes de adormecer. Esqueço-me do dia e das horas que passaram até a noite nos abraçar. No momento em que me arrumo em ti já só cabemos nós e o que desarrumamos com o desassossego do corpo e a febre de quem ateia um fogo descontrolado desde o princípio do mundo. Amanhã, quando a noite chegar ao fim, vou tropeçar, com cuidado, nos restos de ontem espalhados pelo chão e reparar no que ficou escrito no escuro na cumplicidade de objectos dispostos numa espécie de ordem ditada pelo acaso. Mas tudo em meu redor me diz que nada acontece por acaso. Olhando para ti, acredito. Tenho fé nas pequenas coisas, em pequenos gestos, como gotas de água transformadas em oceanos.

domingo, 28 de junho de 2009

Depois do tempo

Petem, Storage container, 2006
Assim. Arrecandando vestígios e marcas de quase tudo o que surpreende na alma. Assim, coleccionando o tempo no que, da sua passagem, vai ficando em todos espaços dentro e fora de nós, vivemos. Assim te vivo eu no desdobrar das horas sempre a desejar que elas se prolonguem e nos projectem, um dia, nessa prometida dimensão onde nada de nós se acabe, nada morra e tudo cresça para além do espaço e do tempo. Assim te sonho e nos sonho eternas e indivisíveis. Assim nos quero na vida e na morte. Assim, sem tempo. Quero olhar para as paredes, para os livros de letras a perderem-se no papel, paras ruas por onde caminhamos os dias e reparar que o tempo passou contigo ao meu lado. Assim. Com a mesma certeza do primeiro momento e vontade indomável de vivermos para sempre, partilhando com a mesma intensidade o tempo e a sua inevitável relatividade.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Massa de ar frio

Mischa Bronstring, Locked Bibles, 2007

Amanhã, enquanto eu não chego, guarda-me o dia inteiro como se eu fosse um livro que não queres acabar sem me teres à distância de um beijo a sussurrar-me a última frase. Leva-me para todo o lado quando saíres para o dia que começa e não me percas de vista nem me esqueças um instante que seja. Eu estarei a ir, a percorrer quilómetros cheia de pressa, a acelerar a máquina que não é do tempo, mas que eu gostava que fosse para te voltar sem demoras. Amanhã saio mais cedo em direcção ao norte e terei frio durante todo o dia porque deixo os teus braços, ainda adormecidos, à minha espera. Parto agasalhada porque o inverno é o que me fica quando me separo de ti, por breves instantes que sejam. Amanhã segura-me as horas que faltam para voltar-te e sopra-me recados tontos que apressem a viagem e a hora de chegada. Sem longe nem distância, não sei deixar-te sem mim nem sei estar sem te saber comigo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Movimento pela igualdade - MPI

Kevin Rolly, Greystone VII, 2009

Convido todos quantos por aqui passam a assinar a petição do MPI :
e a visitar o site em www.igualdade.net/
Porque um Estado de direito democrático existe para defender os direitos e garantias fundamentais de TODOS os cidadãos e não apenas de alguns e porque não podemos permitir que a sociedade se baseie no príncipio de que 'todos somos iguais mas alguns MAIS IGUAIS do que outros'.

Constituição Portuguesa - Artigo 13.º da PARTE I
(Direitos e deveres fundamentais - Princípios Gerais)
(Princípio da igualdade)

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

Não será isto suficientemente claro para todos sem excepção?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Precisão

Captain Superlekker, Kyoto

Fosses tu uma espécie de lugar que o tempo não define e eu o momento tornado infinito de quem descobre terra a acabar o mar e as palavras que nos explicam e nos descrevem teriam outra precisão. Porque o que não se vê nem sempre se escreve de forma precisa, nem sempre as palavras são fáceis de entender, porque o pensamento e a eloquência falham, porque as ideias nos falham, porque o talento é algo tão raro como o amor e é tão difícil conjugar as duas coisas... Tenho o Amor que sonhei, falta-me o talento da precisão com que sinto para ser exacta na descrição. O valor absoluto do Amor existe numa outra dimensão, onde tu e eu navegamos exactas num mesmo e único plano.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Tu ali, em todo o lado

Don Nieman, Hole in the table, 2005

De pensamento solto sempre ao teu encontro saio para o sol que me espera lá fora. E, enquanto os nossos olhos não se cruzam e ficam um no outro a trocar segredos e outras coisas com e sem importância, vou e venho muitas vezes até onde te sei, ou onde te imagino, para matar saudades. Espero-te em todo lado, ao dobrar da esquina, ao funda da rua, à saída de um edifício de um e do outro lado da estrada. Toda a parte é toda a parte e o meu pensamento solto é indisciplinado e impreciso. Daqui até aí todo o espaço se resume ao momento da chegada.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Éden

Brent, 1st - fresh fruit, fresh water, 2009

Não saias daí. Deixa-te ficar na minha vontade de água fresca todo o ano, nesta sede que tenho do teu corpo transpirado e exausto enroscado no meu. Não te mexas, deixa-me saborear o fruto acabado de colher, de cores vivas e permanentes como o teu perfume omnipresente em todo o lado por onde passo sempre a caminho de ti. Deixa-te ficar neste momento doce em que os meus beijos te procuram a frescura do que me és na alma, no que me fica de forma inteira mesmo depois de adormecermos. Fica assim como um amor primeiro e último porque não quero mais nada do que o infinito que me refaz os dias cheios de certeza de que o mundo é nosso, apenas nosso e todo o resto é fado. Eu contigo e tu comigo somos o destino marcado. Não saias de mim, deixa-te descansar no corpo que te aninha no desejo vivo e fresco, acabado de nascer sôfrego e sempre desassossegado.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A(garra)r

JLM, Kittens Series, Griffes

Olha como eu me seguro às paredes, usando unhas que não querem largar nem deixar cair. Repara no quanto quero segurar que, por vezes, transformo as mãos em garras e, por vezes também, arranho sem querer magoar. A pedra nada pode, não detém mãos que te querem com a vontade da alma onde tudo cabe, porque não tem tamanho quem, no peito, sente o fogo da vida reacender todas as manhãs de todos os dias. Vê como os meus dedos te procuram em cada esquina e sabem onde te encontrar, porque o amor é uma linha recta que nos orienta e nos faz chegar a lugares que nem sabemos que existem quando começamos a andar. Tudo o que descobrimos só existe porque caminhamos lado a lado. Tudo o que imagino do outro lado do mundo, lá estará à nossa espera, bastará que venhas comigo. Olha como cresci e avanço sem medo, dobrando cada esquina com a fé de que a vida é mais jovem, mais leve, mais luz de primavera, porque te tenho a ti por todo caminho de mão dada.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Árvores de tronco único

Mart's, Trees series, 2009

Nada melhor do que o espaço livre da imaginação para rebolar-me em ti sem intervalos sobre uma relva sempre verde e perfumada, onde somos sempre luz da primavera, indiferentes às horas do dia. Nada mais livre do que esse mergulhar por entre as ondas em que abandonamos corpo e alma em viagens onde somos principio, meio e não temos fim. Um dia seremos árvores, de tronco único, eternamente esperança e elevadas até onde o céu e a terra perdem os seus limites. A liberdade de ser mede também a liberdade de amar. Em ti renasço todos os dias no que o Amor me deixa livre para te amar desmedidamente. Nada melhor do que uma pradaria infinita que cuidamos por dentro, onde tu e eu nos deitamos na verdade do mesmo abraço.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Quase pornograficamente

Barry Green, Rose Petal Pink, 2005

Apetece-me deixar tudo por fazer e correr até onde estiveres para te despir num gesto único e descontrolado, porque é descontrolada a minha vontade de te ter pele na pele e de me fundir contigo. Apetece-me ouvir o gemido húmido e incontido do corpo que nos escorrega no desassossego constante que nos anima. Apetece-me dar-te voz na minha voz num mesmo movimento instintivo. Apetecem-me todos os beijos que nunca esgotamos e fazê-los durar até adormecer embrulhadas numa febre contínua. Apeteces-me despida aqui e agora e em todos os minutos que demoram até te chegar, porque me apeteces sempre e em toda a parte mesmo que te tenha toda e completamente em mim. Porque o desejo é permanente e o Amor absoluto.

domingo, 10 de maio de 2009

No topo da montanha...

Stefano di Domizio, Ladybugs and coleopters Series, 2009

Só vejo um caminho, só imagino esse caminho, só sei o caminho que se estende em frente até à nossa eternidade. Em frente e cada vez mais alto a abraçar paisagens que o mundo lá em baixo não sonha nem acredita. Cá de cima somos maiores do que a vida e o sempre é uma cama de nuvens prateada pela luz sol que não dorme nem se esconde no azul, onde reina indiferente ao movimento do mundo. Aqui, onde ninguém nos alcança, seguimos firmes o caminho em frente porque acreditamos no tanto que alcançámos e temos fé no infinito que está por vir. Subimos e olhamos para baixo para guardar sempre a certeza do que ontem nos aconteceu, do que hoje somos e do que amanhã e depois queremos continuar. Aqui, onde não temos limites conhecidos, somos a cada instante mais matéria estável, mais corpo definido e alma intocável. Cá em cima onde nunca deixamos de nos abraçar, as horas passam ao contrário, a contagem é decrescente pelas saudades de tudo quanto nos aproxima e nos une debaixo do mesmo sentido e sentimento. Não te apresses nem te atrases, morreria bruscamente de saudades no descompasso de um respirar... O Amor é vida e tu és a minha vida, o meu caminho em frente, o meu sempre, o meu em toda a parte.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Meia luz

Niki Conolly, Color - Blue Series, 2006

Nem sempre os dias são favoráveis à conjugação de palavras com sentido inequívoco. Nem sempre conseguimos organizar os pensamentos fiéis à lógica em que ocorrem. Nem sempre as palavras se descobrem com a rapidez dos sentidos. Há dias lentos, tão lentos que nos chega a doer a vontade de chegar mais depressa a qualquer sítio. São dias estranhos, estagnados como a água de lagos que nem gente nem vento visitam. E mesmo que nos esforcemos para regressar à nossa velocidade normal, tudo acontece descoordenado numa dormência de corpo que não sabemos evitar por desconhecermos a sua origem. São estes os dias tímidos entre estações, em que as cores encobertas esperam luz que as descubra, pacientemente embaladas pela brisa...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

De ontem até sempre

Howard Chu, Clarity contraste texture, 2005

Olho sempre em frente, mesmo quando nos visito o passado... Gosto de voltar atrás e seguir os passos que nos trouxeram até aqui e nos hão-de levar por diante até onde o tempo deixa de ter a importância terrena que orienta os dias de toda a gente. Gosto de reencontrar-nos no passado e de reconfirmar a escolha com a intensidade de quem renasce com um sentido definido. Gosto de sentir-te todos os dias com o entusiasmo da primeira vez. Gosto desse regresso ao passado pela oportunidade de projectar-nos o sempre em que nos reconhecemos indivisíveis. Desculpa se sou obsessiva na insistência do que nos recordo, mas não conheço maior expressão de amor senão aquela que revive o encontro de almas em eterna celebração.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Boca a boca

Oleg Moiseyenko, The Kiss, 2004

Em cada beijo a vontade do mundo inteiro contigo lábios nos lábios. Tenho pressa de te beijar tão infinitamente quanto a força do abraço que o Amor me imprime. Em cada beijo carrego a vontade de beijos que não sei adiar, porque o Amor nos torna inadiáveis. Porque o Amor é urgência, é não querer guardar nada para o dia seguinte. Porque no Amor o mundo acaba hoje e tenho a pressa de viver-te tudo num só dia. Porque amanhã é sempre hoje e assim sucessivamente, o último dia da minha vida. Nós em absoluta urgência para o resto da nossa vida. Porque o Amor é o sabor da eternidade no beijo inevitável que nos perdura.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Margem de manobra

Yes But, Bubbles, 2008

Somos de tantas formas e feitios que, às vezes, nos baralhamos por dentro com estilhaços à superfície. Mas a vontade de marear é infinita e o impulso que nos torna fortes e invencíveis tem o estranho nome de Amor. Para quem ama nenhum mar é impossível. Os erros são hipóteses de aprender mais e melhor, são a margem de manobra que nos resgata de uma perfeição monótona e moribunda. Se soubéssemos tudo estaríamos mortos por dentro e mergulhados na indiferença do lado de fora. Sei que pouco ou nada sei, a minha imperfeição é ilimitada e os meus erros desprezíveis como todas as coisas incorrectas e fora de lugar. Mas carrego em mim uma vontade tamanha de aprender-te e de crescer e construir-nos como história intemporal. Sei o infinito que és em mim, sei que sem ti não sou, apenas existo numa deriva insustentável. Quero-te com a intensidade de quem luta pelo sopro de vida em cada fôlego. Querer-te é acreditar que estou viva e não tenho idade, porque tu existes e tu, em mim, és imortalidade.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Debaixo do chão que nos segura

Mattana, Orange Glows Series, 2004

São raízes o que mais importa e raízes são certezas que nos prendem à terra não onde nascemos, mas onde descobrimos que pertencemos. São as raízes que nos fazem crescer seguros e ganhar a força necessária que nos torna vivos e não apenas seres indiferentes. Viver é criar raízes de dentro para fora e esticar os braços cada vez mais amplos ao mundo que nos dá cor. A raiz que me faz nascer de ti é esta certeza de que sou mais contigo do que fui comigo apenas. Porque ninguém se cumpre sozinho e mal acompanhado. Porque sozinhos somos companhias viciadas de nós mesmos estagnados. Porque crescer é saber dar e receber. Amar com certeza. Sentir raízes é acreditar que nunca morremos realmente porque alguém nos ama com a mesma força com que nos entregamos. Cresço em ti e tu em mim como chão fértil desta certeza abraçada pelas raízes que o Amor nos entrelaça como artérias de sangue vivo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Azul feito de flores

Mattana, Dahlia I, 2004

Hoje trago-te uma flor, não porque seja primavera e porque haja flores a anunciar a estação. Quero apenas que saibas as cores que vou absorvendo por cada vez que te lembro e te regresso, que te adormeço e te desperto, que respiro o que somos apaixonadamente sem qualquer interferência das estações do ano. Hoje, dia em que choveu gelo a meio da manhã, sobre o chão da Primavera, trago-te uma flor intemporal, que segura nas pétalas a frescura da eternidade que nos prometemos dia após dia. Não precisamos de mais quando encontramos por dentro, uma flor sem tempo, que floresce todos os dias sob temperatura tépida do Amor que cuidamos com fogo de alma em corpo escaldante e húmido.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Apenas o essencial

Polyvios Stylianou, 25-09-2004

Não há nada que nos falte quando temos o essencial. Porque o essencial é tudo o que realmente nos faz falta. E quando sabemos o que nos é essencial todas as medidas e dimensões se acertam pela referência que assumimos como única e fundamental. A certeza do que temos é um bem escasso e nele depositamos toda a força e vontade do ser e da confiança. Nada nos derruba, nada nos torna fracos, nada nos diminui porque nos construímos na dimensão do essencial. O Amor. A medida da felicidade. Para isso nascemos, crescemos e procuramos. Para isso vivemos, porque a vida é apenas isso e nada mais para além desse bem essencial. Porque até depois da morte continuamos a amar quem não está, quem partiu, quem nos ficou por dentro sem tempo. És-me essencial e o que somos é a vida plena, tudo o que vale a pena. Porque te procurei desde que nasci em tudo o que existi para te encontrar. Porque a minha certeza é tão definitiva quanto o amor que me descobri ser capaz de dar. O meu essencial é o que crescemos em altura neste sentir absoluto lado a lado. A tocar o céu sem nuvens, embrulhadas num infinito azul feliz.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ponto alto

Brent, Minneapolis Institue of Arts, 2009

Por todos os caminhos, os passos que me acompanham são os da vontade de te chegar sempre mais depressa do que, às vezes, consigo andar. Por isso caio e perco tempo pelo chão. E levanto-me e volto a cair e assim sucessivamente. Ainda que os acidentes façam parte da caminhada, a vontade em mim é sempre urgente e, por isso, desespero durante as quedas e desequilibro-me ao levantar. Porque quero correr para ti antes de por os pés no chão. Se pudesse voava, mas ninguém me ensinou a flutuar. As minhas asas não o são ainda, por isso, desculpa, meu amor, o barulho que faço quando caio por terra sem cair em mim. Um dia viajarei tão suavemente os caminhos ao teu encontro, que só nos ouviremos respirar o vento em que o Amor, constantemente, nos embala num vôo sem espaço nem tempo, infinito como o desejo de voar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Luz absoluta

John Lamb, Let there be light

Sabes o que te procuro, meu amor? A luz no seu estado puro que eu te reconheço. Porque tenho medo do escuro mesmo quando iluminado. Porque a escuridão é ausência de vida por colorida que a queiramos pintar. Porque viver não é apenas respirar. A luz que me és na essência do que sinto é a síntese de todas as cores e não apenas os tons que os olhos conseguem perceber. A luz que te procuro e te encontro vem de dentro, do pedaço de alma onde me nasce o sol e nunca é noite porque existes tu e a tua existência é um universo infinito de possibilidades de eternidade. A luz que me ilumina os dias não depende da cor das manhãs que nos encontram ao acordar. Tu, a minha estrela quer de noite quer de dia, existes tão dentro de mim que me confundo no tempo que não existe senão na intensidade do que me sinto viva pela luz que me emprestas e me permite respirar. Para além do que te sinto e me ilumina, apenas frio existe, o nada.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Suspirar

Adalberto Tiburzi, Rome at Random Series, 2005

Tenho uma sede desmedida de tudo quanto te recebo. A minha vontade, tão cega quanto infinita, desespera-me em desassossego, no espaço de tempo em que a tua pele me foge. Raros são os minutos em que não suspiro o teu nome baixinho, para que não percebam que o meu pensamento se escapa dos sítios onde estou, para te encontrar mais depressa do que o tempo que me falta para te beijar. Por onde passo espreito-te, desejo-te e apresso o passo para que me sintas na distância e nunca te canses à minha espera.

terça-feira, 24 de março de 2009

Para além do ruído

Sylvie C. L' ombre, 2009

Se a união faz a força, haverá algo mais forte do que a vontade de caminhar em frente, lado a lado, para um mesmo lugar ou não-lugar quando vamos à descoberta? Nada segura a força do ser e querer é viver tudo sem limite de velocidade. Amar é ter a alma em permanente ebulição, é um mar revolto de mil viagens por cumprir depois de outras tantas realizadas. O Amor é esta constante tempestade em que te vivo e te quero eterna comigo em qualquer lugar do mundo e numa qualquer parte incerta do universo. O ruído que me escutas é tudo quanto quero dizer-te ao mesmo tempo e de forma descoordenada. E em tudo o que não sei desculpar-me, nem explicar-me talvez, subsiste a vontade e a força do Amor que, de tão precioso e absoluto, se assume selvagem e bruto na expressão, como os diamantes antes de serem o que realmente são.

terça-feira, 17 de março de 2009

Nada a declarar

Jack Seeds, Lovers

A liberdade que nos assiste é a que só o Amor permite no seu verdadeiro sentido, a escolha - amar-te porque quero, viver-te porque a minha vida é o que respiro em nós, construir-nos porque acredito-te como o meu sempre e tenho fé em nós para além disso. O Amor é esta escolha ampla e plena, este tempo inteiro que nos envolve corpo e alma em que não cabem outras possibilidades, esta vontade absoluta de prender os meus olhos nos teus e ser essa a paisagem, noite e dia, em todas as direcções. Amar-te é escolher-te todos os dias, perder-te e procurar-te nas saudades e encontrar-te por instinto em todos os pensamentos nos intervalos de um aqui e um agora. É esta pessoa livre que te escolhe uma e outra vez e se compromete sem tempo num querer-te tão completamente como infinito é Amor. Porque nos sinto a força do vento que nos empurra a mesma vontade, um único destino lado a lado.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Em abstracto

Gordon W., Ethereal Abstract, 2006

Comprei tintas, muitas, de várias cores, as que encontrei. Estou ocupada a combiná-las e a procurar todas as possibilidades para pintar tudo à nossa volta, mesmo o que não se vê, especialmente os teus sonhos, tal como me pedes antes de adormecer. Vou ficar acordada toda a noite para te encontrar na obra de arte em que, durante o sono, me esperas e te desejo adormecida. Se, entretanto, acordares desenha-me um beijo sobre a pele que me cubra o corpo da cor que mais gostares.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Noite americana

Michael McMurrough, Primary Merger

E se a luz fosse sempre a mesma não haveria a noite que é precisa para embrulhar o que o dia deixou por cumprir e, assim, encontrar caminhos que nos acordem cores em que deixámos, momentaneamente, de reparar. Porque o corpo nos pesa uns dias mais do que outros. Porque a alma fica sem voz à procura de palavras certas. Porque olhos cinzentos só conseguem ver por dentro. A noite é um porto de abrigo ao que o dia nos cega. O silêncio que adormeço nos teus braços é um grito, estridente e prolongado, do que morri durante as horas que passaram sem nós. Porque, ás vezes, só a tua luz me faz falta e, por isso, espero a noite para me aninhar no teu olhar. Nem sempre sou difícil. Mas sei sempre o que encontro em ti que me amanhece a alma.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Tenho as mãos atadas

José Paulo Andrade, My hands are tied, 2007

Tenho as mãos atadas em redor do teu pescoço e tudo o que eu quero é tocar-te o corpo porque a verdade em mim nua, em ti, caminha. Tenho as minhas mãos atadas à espera de acção porque a qualquer hora é sempre agora e hoje quero cantar-nos. E porque perder não sei, não sei não querer mais porque quero insaciavelmente o que é nosso, o que é único e sem tamanho. Tenho as mãos atadas à tua volta e, debaixo da pele que te consome incendiada, bate um coração maior do que eu porque esta forma de Amar assim só acontece uma vez na vida. Tenho as mãos atadas em teu redor e os teus braços à volta de mim hoje, ontem, amanhã… infinitamente.


(a partir de "Mãos Atadas" de Simone e Zélia Duncan)

terça-feira, 3 de março de 2009

Peças combinadas

Michael McMurrough, Jigsaw
E serão feitas de que matéria as saudades que se instalam por não sabermos dar sentido ao longe, mesmo quando o longe se mede em horas? Procuro uma cor, uma textura ou talvez um odor preciso e logo me chegam imagens tão definidas como o toque da tua pele que uso como pele de mim mesma em todas as dimensões do espaço físico ou imaginado em que te habito. E vêm-me as saudades à boca como sede de água em lábios ressequidos pela espera no deserto do tempo. Na paisagem áspera por onde ando fora de nós, vou combinando sons, cores, sabores e fotografias de alma como um puzzle em que nos encontro num todo, onde todas as partes são únicas como único é jeito em que as combinamos uma a uma. Como um poema onde as palavras se aninham e se embrulham num estado de alma pessoal e intransmissível, vivo as saudades do que não te tenho e não te abraço no aqui e agora.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A vida no cimo das árvores

Don Nieman, Leaf on frosty Morn, 2008

Restos do Inverno transportados pela brisa amena que anuncia a estação verde enfeitam-me os passos neste chão destroçado pelo mau tempo. Enquanto a semana entardece, caminho para o princípio de tudo, da vida que me encontrei, do presente e do sempre que acredito como futuro. Em todos os jardins crescemos nós e hoje já somos árvores, cada vez mais altas, feitas de ramos seguros. Em cada folha a certeza que nos renasce indiferente às estações do ano. O azul infinito que nos abraça o despertar é a única luz que precisamos para perceber o infinito. À noite celebramos a força dos braços que constroem, no corpo e na alma, a casa que incansavelmente acrescentamos na arquitectura do Amor.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Recreio

Stu, Two little boys, 2006


Se horas de ócio houvesse entre os minutos que passam contados e cheios de urgência, o mundo seria infinitamente mais bonito pelo que poderia sonhar-te sem pressas, antecipando a vida em tempo real. Os momentos que nos invento nos intervalos de nós são paisagens de férias nos dias de cansaço irremediável que nos envelhecem no desespero das horas que, passando, não nos trazem uma à outra. Encosto-me, por agora e durante quase todo o dia, nesta pausa de tempo para te dar conta do que me custa este longe do abraço onde me aguardas e eu te guardo quando, à noite, nos regressarmos para renascer em todas as madrugadas.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

As asas do Amor

Yukio, Tokio Disney sea, 2007

E quando as correntes que me prendem ao chão têm o peso e a magia de asas que atravessam céus e mares de um lado ao outro da terra? E quando a liberdade que me protejo como bem supremo e insubstituível ganha o seu verdadeiro sentido na escolha e na vontade infinita de ficar para sempre contigo? E quando a força das amarras é um privilégio raro que nos faz sentir livres, autênticos e vivos de dentro para fora? Que nome hei-de dar a este sentir pleno e voluntariamente aprisionado a ti que não seja Amor? Porque a liberdade vem da alma e eu na alma prendi-me a ti. Porque na alma, que é infinita, a palavra do Amor é a própria vida, a liberdade incondicional de ser o que nos diz o coração.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Durante o dia

Lee Rudd, Holding back, 2008

Assim, a perder de vista é este lugar onde pertencemos antes, durante e depois do mundo. Assim, onde o horizonte não existe na paisagem ilimitada do que somos, vamos desenhando as horas, uma a uma, numa mistura de cores que, sobrepostas de saudade, se esbatem, a preto e branco, em tons de cinzento onírico. Às vezes, chego a fechar os olhos por segundos e assim viajo-te num espaço indefinido, num tempo difuso, onde somos sem fronteiras, quase imateriais. Nestes instantes, toco a eternidade com a ponta dos dedos na pele que, de memória, se passeia e que passeando-se se incendeia. No intervalo que nos separa o corpo, percorro a distância à velocidade escaldante das ideias que tenho de passado, presente e futuro contigo. E depois corro ainda mais depressa porque o tempo urge e é sempre pouco o que nos sobra nesse lugar que ocupamos em todas as direcções, onde beijos e abraços recuperam, pela noite fora, da privação da luz do dia. São cruéis as horas que passam desertas de ti.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A propósito de casamento

Karen van Nijkerk, Proposal

Não é nada pessoal.
Não é que eu viva com ansiedade a ideia do casamento nem a urgência de casar. Não é para fazer eco da voz do movimento. Não é que eu tenha pensado muito sequer sobre isso. Não é que eu ache sequer que isso mude alguma coisa na vida de duas pessoas que se amam e se partilham. Mas não será anti-democrático discriminar cidadãos com base em critérios da vida íntima de cada um? Não é uma violação dos Direitos Fundamentais dos cidadãos desconsiderar alguns nos princípios básicos de dignidade, liberdade e igualdade? Não é um direito que me assiste eu escolher com quem quero casar? Não é lógico a pessoa que amo ser a única autorizada a dizer SIM ou Não à minha vontade? Não é que eu queira casar - não é uma questão pessoal, é universal. Mas não é absurdo não ter legalmente o direito de escolha?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Too late to undo

Barry Green, Ignition, 2006

E, quase de forma inesperada, fez-se luz e nunca mais foi noite daí em diante. Nos lábios que me deram vida, senti-te o sabor de quem se encontra e fica e renasce no momento em que a terra muda de lugar. E em ti me abandonei na vertigem de quem perde o chão por dentro para ganhar solo firme e uma raiz no coração. Num beijo, o fogo primordial do princípio do mundo. 'Too late to undo'. Fecho os olhos por instantes e, no arrepio de uma viagem no tempo, encontro os teus lábios à procura da minha boca que os deseja. 'Too late to undo'. A intensidade do beijo é hoje a mesma e o fogo que nos incendiou queima da mesma forma. Por debaixo da pele, os beijos são impressões digitais do Amor. A alma guarda a chama, a ponta de lume de um primeiro beijo, com a promessa de infinito.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Na véspera

Barry Green, Iris Impression 2, 2007
Na véspera de uma nova vida, a luz das pequenas partículas abre portas para uma dimensão diferente de tudo o que conhecemos até então. Olho para trás neste momento ao encontro do meu último dia antes do nosso mundo acontecer. A memória refractada dos reflexos do que ainda não éramos, sendo já tanto, vive uma intensidade própria das estrelas em combustão. Os dias que passaram continuam cintilantes, a descoberta não acabou porque o universo é infinito desde que te tenho. Na véspera do momento em que a terra tremeu e nós mudámos de essência para algo mais perto do essencial, sinto o impacto sem tempo de uma onda de choque infinita. Tudo é possível quando sabemos intuitivamente quem é pele da nossa pele. Na véspera da verdade em que nos descobrimos como o futuro, houve um momento sublime, inconsciente em que reinámos sobre todas as coisas, com a imortalidade dos deuses reais ou imaginados. Na véspera do dia em que a vida começou, recordo-nos com a mesma impaciência de quem nasce no dia seguinte.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Em construção

Antony Lam, Central Art Exhibition Series, 2009

Ainda há pouco coleccionava os dias numa fita métrica de tempo, de forma quase inócua, como se o tempo fosse algo inconsequente na forma de estar. Ainda há pouco eu era outra, alguém que vivia uma tranquilidade matemática na forma de respirar os dias, como se nada os acrescentasse um a seguir ao outro. Ainda há pouco era assim, um mar sossegado e lento que se navegava sem pressa e sem lugar de chegada. Ainda não há muito tempo a vida era assim, nem quente nem fria, um passeio nem sempre atento, nem sempre cheio, apenas confortável. E vieste-me tu. E cheguei-te eu. E o mundo descolou numa velocidade diferente. Ando mais depressa por todo o lado para chegar mais rapidamente ao que nos descubro todos os dias. Passo por mil lugares que desconheço e quero aprender tudo ao mesmo tempo, porque tenho consciência do tempo que perdi numa outra vida. Às vezes não me saio bem, sou desajeitada, eu sei. Mas não seria humana se não tivesse falhas, se não caisse de vez em quando, para perceber completamente a vontade de correr apressada para te chegar. Hoje, que somos nós, colecciono tudo o que me inspira o sentido definido do sempre em que nos acredito como destino.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Histórias de chuva

Firstbrook, To Small To See -Water beads on web 3, 2006

No que fica da chuva à minha volta, vou guardando retratos em pérolas de água de transparência luminosa. E nos meus olhos brilha a cintilância da água, que é vida, e das histórias que lhe acrescento, quase todas elas feitas de ti. E assim, enquanto chove, mato saudades do que me falta para voltar ao centro das coisas que nos são por inteiro e por direito absoluto. À chuva fica o resto do mundo quando eu chegar ao teu abraço, a minha casa. Longe me ficam as tempestades de chuva e vento quando te seguro no meu corpo. Lá fora um inverno muito distante acontece perante a indiferença de gente que se ama corpo a corpo, de alma em chama. No lume que nos funde, dou-te conta das pérolas de água como quem mata uma sede insaciável dos teus beijos, numa teia de histórias feitas de primavera infinita.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Sem prazo de validade

George V' Myer, Rock Forms series II

Hoje conheci-te porque ontem nos encontrámos e quero estar contigo amanhã. E assim por diante, até somarmos muitos 'hoje' a abraçar o dia de amanhã com a mesma ansiedade do primeiro dia do resto das nossas vidas. Hoje conheci-te há mais de mil dias, todos únicos porque no Amor nada se repete, tudo engrandece e cresce, tudo se torna mais inteiro e eloquente na forma de sentir. Hoje, que estou mais crescida, tenho o nosso tamanho e nós temos uma vida inteira feita pela medida do Amor, que já era antes e será também depois de nós. Amar é o único verbo que nós conjugamos no infinito.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Ao céu subiu uma estrela

Jardim de estrelas (Shiba Sakura - Japão)

Antes de ontem o teu mundo ficou mais pequeno, e o meu também. Antes de ontem o mundo inteiro perdeu um sorriso do tamanho do mundo e ficou menos do que era antes de antes de ontem. Ontem acordámos mais pobres, mais despidas, mais transparentes e mais rentes ao chão do que somos sob a contemplação das estrelas que, na terra, adormecem para acordar no céu. Ontem démo-nos conta que somos muito pouco no infinito mistério da vida, mas também aprendemos que o muito pouco que somos, às vezes, faz a diferença na vida do muito pouco dos outros. Ontem choviam tempestades desde a alma ao céu. Hoje o sol brilha como se nada tivesse mudado a não ser a nossa consciência de que o que importa verdadeiramente é amar todos os dias como se fosse o último, viver nesta urgência, percebendo, a cada instante, quem faz a diferença no que somos e no que queremos ser para ser felizes. Hoje à noite, quando olharmos as estrelas, uma delas reconheceremos pelo sorriso que, em nós, nunca se acaba.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Revelação

Firstbrook, The great hall, 2008

Celebro tantas coisas em ti, mas, talvez por egoísmo, festejo aquilo que não te descobriste noutros tempos para me chegares com a maturidade de quem viveu e encontrou a essência que se adivinhava. Celebro a descoberta pelo valor acrescentado que ela representa num percurso intímo que só depende de nós próprios e do que estamos dispostos a apostar para nos cumprirmos. Celebro o momento que te disseste que sou mais do que apenas o que tenho por agora. A luz que deixamos entrar, nesses momentos raros de lucidez, plena fazem a diferença entre viver realmente e o existir por existir. Porque a felicidade depende da capacidade de nos assumirmos perante a vida, de nos permitirmos sentir inteiros, dessa liberdade que aprendemos, pouco a pouco, de ser o que somos verdadeiramente. Tudo aquilo que nos acrescentamos livres faz-nos crescer por dentro. Quando sabemos quem somos é mais fácil encontrar o que nos faz falta. Ser feliz é encontrar o que nos desejamos instintivamente. Celebro-te a coragem de não desistir de procurar o que sempre quiseste para ti. Celebro o estarmos aqui nesta forma completa de quem está por muito querer.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Sem desvio

Adrian Reilly, One Way, 2006

Em todas as paredes dos lugares por onde passo, vou escrevendo o teu nome no seu verdadeiro sentido e não com as letras que o formam. Por todas as estradas, caminhos ou encruzilhadas, vou deixando pistas da direcção que te escolhe sempre antes de tudo. Em frente é por onde vou, sem memória de outra coisa senão aquilo que vivi para te encontrar. Em frente sem passado senão aquele que me esculpiu o sonho e o tornou palpável. Caminho na linha recta do indefínivel e assim te partilhas na mesma caminhada. O Amor, que ninguém sabe definir senão por aproximação, é uma estrada de sentido único sem desvios e a vertigem da velocidade de querer ir mais longe e ter mais história partilhada. O Amor, que não tem peso nem contorno, é uma direcção irreversível. Não seria Amor se nos distraíssemos a olhar para trás.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Partida, largada, fugida

Jeroen Bosman, Softning up, 2006

Anda comigo, tenho o mundo para te mostrar e o universo à nossa espera. Vem daí, vem comigo pela terra inteira à conquista do que é nosso por direito absoluto: o infinito. Dá-me a mão e acompanha-me por todo o lado, porque tudo nos pertence, tudo é nosso e nós somos o tudo que percorrermos, lado a lado, num passo único e seguro. Corre livre neste passeio pelo tempo que temos emprestado e sê comigo tudo o que sonhas e o que te queres cumprir. Vem com vontade de saltar em altura e comprimento aquilo que não nos faz falta e que nos faz perder tempo no caminho. Juntas somos uma cuja força ninguém virá que dome.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

De corrida

Yannis Logiotatides, Stair, 2008

Neste intervalo, que não tenho mas que invento para te chegar, confesso que as horas do dia acontecem mais plenas nos instantes em que te sonho e me sonho contigo. E sorrio. E tudo o resto me parece insignificante pelo que lhes falta de nós. Porque tudo o resto acontece num contra-relógio para te voltar. Neste intervalo, que o tempo real não me permite, mas que eu insisto em inventar, regresso-te vezes sem conta e, em ti, descanso da corrida, das subidas e das descidas, e em ti permaneço o tempo suficiente para recuperar a força necessária para dar a volta e fazer tudo o me falta para te poder voltar de alma inteira e corpo sedento do teu abraço. O coração fica sempre contigo, aninhado, à espera de nós no mesmo espaço. E sorrio, contente, por ser assim, sempre eu em ti e tu em mim.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Provavelmente a eternidade

Anabark, Tempo (DEZ08)

No que o tempo acrescenta à paisagem, encontro-te, camada sobre camada, com a consistência da pedra que conta a história de muitas vidas passadas junto ao mar. Em mim és sem tempo, ou melhor, talvez sejas o próprio tempo, o tempo que eu conto e desconto, a medida de todas as coisas em que aconteço dentro e fora de mim. Talvez o infinito coincida com este fora de tempo em que te sinto e vivo. Talvez eternidade seja esta paisagem alterada pelo tempo em camadas. Há em nós uma inevitabilidade demasiado grande para caber no tempo. Porque o Amor e o tempo são duas dimensões diferentes. Por vezes tocam-se e deixam marcas na alma que nos sustenta o corpo. Mas o tempo passa e acontecem mundos diferentes por entre as horas que se desenrolam. O Amor transcende o corpo porque acontece no universo da alma. E tu, nesse universo em mim, és imortal.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Celebrando...

Always (a partir de 'Mutts 3: Mais Coijas), 3º Aniversário (JAN09)

Sabes qual é o meu maior desejo no dia de hoje?
Que multipliquemos infinitamente os 3 anos que temos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Pela chuva

Ackerl, Out there!
Em frente aos olhos um jardim suspenso, onde o verde se afoga nos lagos que a chuva deixa à superfície da terra saciada pelo inverno. E, hoje, tenho sono. A chuva que, lá fora, nos torna o dia desconfortável, surpreende-nos em diferentes esquinas da alma. As mãos e corpo gelados aguardam momentos de agasalho, enquanto vai anoitecendo no jardim. Não sei onde estou. Cá dentro e lá fora, tenho frio e sono e sei que não estou em mim.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Minimal

José Pinto, Gamelight, 2004

Enquanto, no meu colo, aninho a espera do tempo que conto e desconto para que chegues com a mesma pressa com que te espero, vou alinhando o sentido das palavras que quase nunca chegam ao que eu lhes projectei. Sei que, neste espaço de perda entre o que se pensa e o que se quer dizer e o que se lê e se interpreta, falho muitas vezes em dizer exactamente como sinto e não o que sinto. Porque o que sinto é mais fácil de dizer. Como o sinto é uma visão calesdoscópica de muitas coisas ao mesmo tempo que, embora tente, não sei dizer num sentido único, sem margem de erro interpretativo. Por mais que organize um sentido e uma geografia precisa na cadeia de palavras que me ocorrem para falar de ti, sei, com toda a certeza, que as palavras têm vida para além de mim, no que tu lês e nem sempre escrevi. Aqui e agora, tenho três palavras inequívocas para te acordar amanhã de manhã: tu, amor e sempre. Assim, de forma minimal e sem ambiguidade.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Mais do que palavras

Barbara Heide, Sous influence ou inspirée, 2006

Está escrito em todos os livros, em todas as línguas, mesmo nos livros que não são livros e em linguagens que não são línguas. Está escrito numa forma universal de comunicação. Está escrito com uma força contra a qual não existem leis nem sequer a ausências delas. Está escrito em todas as cores e em todos os tamanhos. Está escrito de trás para a frente e da frente para sempre. Está escrito simplesmente, na medida exacta do que se sente. Do que sinto. E o que sinto não sei dizê-lo de outra maneira nem ser mais convincente. Sinto-me inteira, sem fim, verdadeira. Não procuro mais do que o que sinto e o que encontro em ti. Não quero mais do que o tamanho infinito do que abraço em ti. Porque não existe mais para além disso. Mas nada no Amor é suficiente e ainda bem. Por isso, não quero mais nada para além de ti e tudo me parece pouco. Sabes porquê? Porque tu és a minha vontade de sonhar o infinito e, não querendo nada, tenho contigo todos os sonhos do mundo para cumprir. Perdoa-me se te parece impossível, mas acredito numa escala de tempo que poucos compreenderão, o que é irrelevante. Basta que tu me acredites da mesma forma em que projecto a nossa eternidade.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Decrescer

Firstbrook, With an icy blast of breath Stan brings the car to a standstill, 2008

Se tivesse escolha, se tivesse o privilégio de decidir pelo que me apetece e não pelo que tem de ser, se fosse realmente livre como ninguém o é completamente, tirava o dia e ia brincar com o frio, à procura de bonecos de neve em ruas onde não neva, num carrinho de brinquedo e um gato, um cão e um lobo amigo por companheiros quentes de brincadeira. Gostava tanto de ser um desenho animado!...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

De baixo a cima

Yannis Logiotatides, Alpen Mountain, 2008

Hoje, que viajei até ao mais profundo do centro da terra, apeteceu-me o tempo todo andar nas nuvens e vigiar a paisagem lá de cima, como os anjos, supostamente, têm como missão, nem sempre bem cumprida. Agora que o dia caminha mais lentamente, regresso ao meu infinito pessoal, o abraço do Amor, firme como as montanhas que nos observam desde o princípio do mundo.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Fado

Agnes T. Ackerl, Depressed

Sem mais nem menos, somos confrontados com a fragilidade da vida. Neste dias, irreversíveis, que começam mal e não chegam ao fim, porque o que era não voltará a ser, percebemos que somos muito pequenos e insignificantes. Aprendemos pouco ou quase nada. Amanhã, quando acordarmos, somos feitos da mesma matéria e teremos sorte se acordarmos. Haverá quem não acorde para o dia seguinte e uma tristeza intrínseca nos que são tocados pela ausência. Deveríamos aprender algo, uma lição de vida. Passear os olhos tristes é muito pouco perante a urgência da mensagem: temos pouco tempo, seria um desperdício viver a adiar as coisas importantes da vida. Há que aprender a valorizar, a hierarquizar e a viver à escala humana.