Amanhã será o dia seguinte do primeiro Natal da nossa vida. Partimos do Natal para um novo ano. A mala está feita, partimos cedo e apressadas, com a urgência de quem se desembrulha num dar e receber inadiável. Quando voltarmos ainda será natal, porque somos uma todos os dias, porque o meu Natal és tu. Partimos para onde nos esperamos tal como planeámos. Partimos para o resto da nossa vida. Voltaremos antes do fim do ano para estrearmos o nosso primeiro dia do futuro...
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Feliz Natal
A todos quantos por aqui se demoram por uma razão ou outra, ou mesmo sem razão, desejo um Feliz Natal e um copo cheio de coisas que preencham alma e coração.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Guardar como...
Gandc, Christmas Tree, 2006
Guarda-me numa ideia, algo simples de que te lembres sempre mesmo depois de te esqueceres de tudo o que digo. Guarda-me num pensamento em que possas descansar a alma em sobressalto nos dias que acontecem desalmados. Guarda-me os olhos sinceros com te digo a palavra que, só e apenas tu, me ouviste dizer e me fizeste sentir. Guarda-me no sonho que persigo noite e dia, ainda que falhe em deixar-te entender a intensidade do meu compromisso. Guarda-me nesta vontade de sermos por inteiro não hoje nem amanhã, mas ontem, porque foi ontem que tudo começou e é desde ontem que nos sinto 'uma' para sempre e mais um dia. Guarda-me nesta certeza quando nada do que digo e faço te pareça fazer sentido. Guarda-me neste tudo, que de tanto é infinito, em que te sinto em mim e do qual não sei desistir, porque desistir de ti é desistir de mim também. Guarda-me numa sensação tão simples quanto a intensidade com que durmo e desperto embrulhada em ti e compreenderás que as horas de dúvida são um enorme desperdício de tempo. Guarda-me numa palavra, pequena mas infinita, que encontras em tudo o que sou e planeio contigo: 'sempre', porque és a minha vida e sem ti não faço o mínimo sentido.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Quase perfeito
Houvesse neve e o Natal seria quase perfeito se a perfeição existisse. Mas enquanto a neve não cai e o nosso natal não chega, aconchego-te os dias que faltam num abraço sem princípio nem fim, para além do tempo, do espaço e da imaginação. Seguro-te as mãos nas minhas para que não as sintas frias nas horas que passam vazias da voz e do olhar. Embrulho-te de beijos que só tu me conheces, porque os meus beijos só são beijos quando tocam os teus lábios. E enquanto o tempo passa lentamente para chegar ao 'quase', distraio a nossa impaciência com histórias feitas de nós. Temos tanto para contar, coisas que foram e outras que hão-de ser. E nesta espera tão poética quanto a neve silenciosa que veste a paisagem de branco, adormecemos uma na outra a sentir o tudo e o sempre que o Amor nos ensinou e que aprendemos ao mesmo tempo. Não sei amar-te menos do que este total estado de urgência, não sei descansar a alma de ti, não sei adormecer sem te procurar em sonhos nem acordar sem dizer o teu nome antes mesmo de me lembrar de mim. E quando penso em neve penso em ti. Serás sempre essa poesia do Inverno em que te conheci, gravada a fogo debaixo da minha pele.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Mil e uma noites
Faltam poucos dias para os nossos dias grandes que amanhecem e anoitecem sem que nos incomode a luz, ou a falta dela, q nos entra pela janela, porque a nossa luz vem de um sol que temos dentro e que irradiamos no olhar. Falta pouco para deixarmos de ter tempo para tudo o que fica do lado de fora de nós. Falta pouco para vivermos muito em pouco tempo, porque o nosso tempo é sempre pouco, porque os nossos dias grandes, sem dia nem noite, passam na vertigem de um segundo. Porque tudo é pouco para este tanto em que te vivo, porque o Amor é sempre mais e a falta que me fazes também. Porque as saudades não se resolvem, adiam-se apenas. Falta só um bocadinho para estarmos dia e noite por nossa conta e risco onde só nós sabemos e o resto do mundo nos julgue em parte incerta. Falta mesmo muito pouco para vivermos mil e uma noites e outros mil e um dias num abraço sem horas, a não ser as da chegada e, inevitavelmente, as da partida. Falta pouco, meu amor, e desespero neste pouco que nos falta para a nossa prenda de Natal...
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
Somos sempre
Entre o aqui e o agora beijo-te tantas vezes que lhes perco a conta de propósito para voltar a começar do princípio, porque enquanto te beijo perco o céu e a terra e o mundo que nos espreita e, ao mesmo tempo, nos cobiça. Só existes tu, sempre foste tu mesmo antes de nos encontrarmos. No Amor em que te adormeço e amanheço no dia seguinte encontrarás a mesma promessa dia após dia - sempre. Não prometo o que não sei cumprir, só aquilo que sei que sou capaz. E contigo sei-me para sempre, sei que irei cumprir aquilo que te prometo, que te digo ao ouvido e que a toda a hora te escrevo. Porque já morri quando perdi o sempre de vista e só sobrevivi porque o coração nunca deixou de acreditar. Neste sempre que nos prometo crescemos cada vez mais no passar dos dias. A certeza de que não temos fim abraça-nos com a mesma voracidade de um fogo incontrolável numa floresta infinita.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Entre Roma e Pavia
Embrulha-me a felicidade em que arrumei o dia como um presente de natal que nos fique para o resto da nossa vida. Nem Roma nem Pavia se fizeram num dia e nós, que somos sempre mais a cada hora que passa, queremos mais do que a História, queremos o sempre e não o passar do tempo, mais do que a memória queremos a eternidade. O sonho constrói-se como um caminho a percorrer onde nos temos como destino e simultaneamente, ponto de partida e forma de lá chegar. Caminhamos juntas porque somos uma no princípio, no meio e sem fim, caminhamos seguras, unas, indivisíveis. Amanhã conquistaremos mais um bocadinho e depois de amanhã o dobro desse bocadinho e todos os bocadinhos juntos fazem o universo inteiro onde Roma e Pavia são um acto de fé confirmado. Hoje o meu Natal aconteceu - ainda não é tudo, mas é muito e nesse muito moramos nós sem tempo nem distância, embrulhadas na certeza de que nos queremos mais do que infinitamente.
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Discurso indirecto
Quando te encostas a mim não sentes o que milhares de palavras falham em dizer? E os meus olhos não te dizem mais do que consegues ouvir? Hoje, ou porque as palavras me desertaram ou porque me perderam de vista, sinto tantas coisas para te dizer e uma tremenda falta de jeito a arrumar a escrita. E sinto o frio que está lá fora por um buraco no tecto que me mantém acordada há horas senão dias. Hoje conto as horas em abraços por dar e receber e espero que amanheça depressa, porque me cansam as noites sem dormir e porque é a luz do dia que me leva de volta a ti. Os sonhos são apenas sonhos e tudo o que acontece em pensamento fica apenas pela intenção. Tudo o resto é a vida e o que soubermos acontecer de olhos nos olhos, corpo a corpo, com a alma na mão. Quando te encostas a mim ouves, certamente, o que te diz o meu coração: 'sempre'.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
Milagre
Um dia, o que é preciso vai estar sobre a mesa de cabeceira e eu vou estender o braço e segurar um pequeno milagre entre os dedos. E sorrirás como eu te sorrio neste instante, com vontade de te viajar de alto a baixo para ter a certeza que estás bem por dentro e por fora. Porque sou egoísta, porque não te posso perder porque perder-te é perder-me a mim. Um dia, o que é preciso vai estar à distância de um beijo, sem desperdício de tempo, porque tempo é uma coisa que foge demasiado rápido e de foirma irreversível e envelhecemos entretanto. Um dia, o que nos falta deixará de nos faltar porque juntas temos tudo e não nos faz falta o resto que nos sobrar. Mas enquanto é hoje e amanhã não chega, embrulho-te num abraço que a espera não detém e na pele na pele que nos abraça o universo é nosso e nele brilha o sempre em cada estrela. No relógio de areia que nos separa do dia seguinte repousa a certeza do Amor que vale a vida e a vida que me falta quando me faltas tu. Creio em ti como o milagre da eternidade.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
Clareza de ser
Se tudo fosse tão cristalino quanto a certeza que nos abraça todos os dias desde o príncipio de nós, o mundo inteiro seria uma imensa gota de água mais pura do que a sede urgente que deseja saciar-se. Quando olho para ti reparo na forma translúcida em que te deixas acontecer em mim e, acontecendo assim, me tornas tão transparente no que existo, em que tudo começa e acaba em ti. E este Princípio de certeza, em que tu e eu somos termos de uma equação de resultado infinito, traduz a forma absoluta em que nos descobrimos em Amor. Se tudo fosse tão lúcido quanto a certeza que escolhe o Amor... Porque escolher o Amor é escolher a Vida - escolher-te a ti é escolher a eternidade.
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Coração quente
Cliff Wright, All for the love of it..., 2005
Ao pé de ti nunca tenho frio porque me embrulhas o coração numa manta cheia de calor, porque me seguras as mãos por debaixo da pele. Não sinto frio ao pé ti porque os teus lábios me queimam no mesmo beijo de sempre, porque na minha alma há uma fogueira acesa que alimentas noite e dia com a lenha do que somos. Quando os dias se tornam meses e os meses anos de amor, o único calor que me aquece és tu, porque és sempre sol e sempre chama em todas as estações do ano. Porque não tens fim em mim, hoje és mais do que eras ontem e menos do que serás amanhã. E quando me aninho no fogo infinito que és em mim, não há frio que me gele mesmo que me passeie descalça e nua. Porque me abraças o Inverno com a força de um velho ditado que fala de 'mãos frias, coração quente, amor para sempre'.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Buenas noches
Madrid - Plaza San Martin, 5
A cama tem o tamanho exacto das nossas noites sem dormir. Enquanto o sono não chegava, sonhei-te ao meu lado para abreviar o tempo da viagem e o frio de um quarto de hotel sem ti. Os lençois, tão infinitos quanto as saudades tuas que levei comigo, embrulharam-me o corpo que nunca aqueceu na falta do teu. O quarto pareceu-me tão grande quanto a distância física que percorri para lá chegar e os dias de ausência, poucos, foram longos, tão longos que o relógio parou enquanto não voltei. Mas os dias passaram, cheguei e a vida voltou-me porque vida é o tudo o que nos abraçamos e sentimos no corpo e na alma. E ainda que te sinta sempre comigo, os dias sem ti à distância de um beijo são agrestes e incompletos. Da próxima vez, o quarto será pequeno. Da próxima vez, partimos e chegamos juntas e tomaremos conta da cidade.
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Ida e volta
O que é estar longe realmente, a distância física entre duas cidades em dois países diferentes ou a dor das saudades que nos invadem a alma entre a partida e chegada? Estar longe é sofrer a ansiedade de um beijo nos lábios ausentes que ficaram à nossa espera. Parto porque tenho de ir, mas parto a ficar para trás, parto quase a chegar. Na verdade não parto realmente, ninguém parte de quem ama nem por dois dias nem por duas horas. O coração não viaja ao mesmo tempo que nós. O coração anda sempre mais depressa e, às vezes, tão depressa que suspende o tempo e só volto a existir quando te regresso. E quando estou nesse longe dos lábios que não te chegam, regresso-te milhares de vezes entre um minuto e outro. Desabituei-me de respirar sem te saber ao alcance dos meus braços, desabituei-me de andar por todo o lado sem te viver em pensamento e seguir-te cada passo. Estar longe é não suportar a certeza de que a distância entre dois pontos é mesurável para além da nossa ansiedade. Amanhã e depois vou perder a distância e encontrar-te a toda a hora porque estás em toda a parte e não apenas no que a minha vista vista alcança. Deixo-te o meu coração para que cuides dele até o meu corpo te voltar. Levo-te comigo tatuada debaixo da pele, bem no centro da alma.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Sonhar-te realmente
Sharon Rogers, Road Rules Series, 2006
Sonho tantas coisas a dormir e acordada que, por momentos, deixo de saber que realidade é sonho e do que sonho o que é realidade. E a vida acontece nessa intercepção de dois universos que assumem formas diferentes, umas vezes à luz da lua, outras vezes iluminadas pelo sol. E quando as noites se confundem com os dias, caminho entre o sonho e o real, onde a cada passo te encontro porque nada existe nem antes nem depois de ti. E enquanto os dias passam lentamente num relógio de saudades, sonho para me distrair da falta que me fazes. Sonho que um dia realizo o meu sonho de criança - vou à lua e volto no mesmo dia. Esse doce encanto de acreditar num truque de magia é um acto de fé, mais do que o sonho e muito para além da realidade. Se o sonho comanda a vida, sonho-te a ti a tempo inteiro, tu és a minha vida, incondicionalmente, antes e depois de tudo.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Bons sonhos
Eric Laflamme, Sem título, 2007
Se acordares sobressaltada, estende os lábios que eu estou sempre à distância de um beijo. Não durmo, fico entre cá e lá, para ter a certeza que dormes tranquila e que os lugares por onde tu passeias são seguros e feitos deste 'nós' absoluto e indivisível. Se acordares fora de sonhos que fazem feliz, refugia-te no meu abraço para além do sobressalto porque eu sou real, os pesadelos não o são. Adormece em mim com a certeza de que a minha mão te segura sem nunca te deixar cair. E sonha comigo. Acordada ou a dormir, estarei lá porque só onde tu estás existe vida, sabor e etermidade. Quero ser eu a acordar-te e não um sonho mal iluminado ou uma noite mal aconchegada. Quero despertar-te, como fiz esta manhã, no mesmo beijo em que nos adormecemos. O teu corpo no meu descansa e desassossega o suficiente para acordarmos ao mesmo tempo que o dia chega e o Amor recomeça o que fazia, ensonado, a noite passada.
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Antes de adormecer
Guido Meyer, From Dusk til Dawn, 2004
Aqui onde estou sentada está frio e eu arrefeço por entre palavras para ti cheias de calor. Por ti não desisto, porque gosto de te amanhecer com o mesmo sorriso com que adormeço em ti. Na alma com que escrevo tu és o meu sol e não tenho frio realmente, o frio é apenas uma distração. Logo a minha pele aquece e o corpo estremece à temperatura do coração. Há um ano atrás era inverno, hoje é eternamente verão. Porque o Amor é fogo e amar-te é este incêndio permanente dos sentidos que as palavras que te sussurro, durante a noite, ao ouvido são incapazes de conter. Não leves a mal as minhas noites sem dormir para estar aqui e aí ao mesmo tempo. A esta hora não estou aqui realmente. Deitei-me no beijo que me deste antes de adormeceres e nele viajo até aqui de lábios quentes para te abraçar o dia, porque acordas primeiro do que eu. De manhã durmo este bocadinho que me falta e tu sorris com o beijo que deixo agora na mesa de cabeceira. Há um incêndio em cada frase e mar alto em cada beijo. Anoiteces-me com meiguice, amanheço-te com alma plena. O amor que acontece sem intervalos é feito da saudade infinita que fica de nós entre o aqui e o agora e nos deixa o corpo em desassossego até eu voltar-te daqui para a nossa cama.
Aqui onde estou sentada está frio e eu arrefeço por entre palavras para ti cheias de calor. Por ti não desisto, porque gosto de te amanhecer com o mesmo sorriso com que adormeço em ti. Na alma com que escrevo tu és o meu sol e não tenho frio realmente, o frio é apenas uma distração. Logo a minha pele aquece e o corpo estremece à temperatura do coração. Há um ano atrás era inverno, hoje é eternamente verão. Porque o Amor é fogo e amar-te é este incêndio permanente dos sentidos que as palavras que te sussurro, durante a noite, ao ouvido são incapazes de conter. Não leves a mal as minhas noites sem dormir para estar aqui e aí ao mesmo tempo. A esta hora não estou aqui realmente. Deitei-me no beijo que me deste antes de adormeceres e nele viajo até aqui de lábios quentes para te abraçar o dia, porque acordas primeiro do que eu. De manhã durmo este bocadinho que me falta e tu sorris com o beijo que deixo agora na mesa de cabeceira. Há um incêndio em cada frase e mar alto em cada beijo. Anoiteces-me com meiguice, amanheço-te com alma plena. O amor que acontece sem intervalos é feito da saudade infinita que fica de nós entre o aqui e o agora e nos deixa o corpo em desassossego até eu voltar-te daqui para a nossa cama.
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Até já
Anabark, Bom-dia M.A. (JUN07)
Passo por aqui de fugida para te amanhecer outra vez quando saires da cama e enfrentares o dia. Porque é bom ter um beijo à chegada do dia que começa e nos afasta os olhos dos olhos. Porque é bom poder beijar-te por palavras enquanto a distância nos afasta o corpo e nos desassossega o coração pela ansiedade de voltar. Passo por aqui hoje quase a correr porque o cansaço desfoca-me a vista e atrasa-me o pensamento e preciso de fechar os olhos para te encontrar rapidamente. Porque estás à minha espera enquanto dormes. Porque sinto a tua falta entre esta palavra e a próxima. Apesar do dia que me pesa à noite, não posso deixar de vir ter contigo desta outra forma para que me sintas nos intervalos do que te digo pele na pele. Porque esta é a nossa história e estas são as páginas que se escrevem todas as noites, de dentro para fora do dia ao encontro de nós. Porque esta é a nossa vida e a nossa imortalidade. Porque o Amor que é nosso e aqui nos deixo nos garante a eternidade. Passo por aqui antes de adormecer embrulhada em ti e acordar-te ainda no mesmo abraço.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Maioridade
Ana Carloto, Playing with fire - You (Drawing With Light series), 2005
E à medida que os dias passam somos cada vez maiores, unas e indissociáveis. Crescemos no que agimos à altura do que sentimos. O Amor é esse milagre de força, certeza e luz e a felicidade, que nos espreita na nossa cama antes e depois de adormecermos, é feita dessa malha que tecemos todos os dias com absoluta devoção. Não vivemos de fantasias nem vivemos um sonho. Construimos os dias com o que queremos no futuro. O abraço é sempre mais forte e mais maduro e a nossa casa há-de ser um castelo feito do infinito amor que somos ontem, hoje e sempre. Incondicionalidade é amar por inteiro e cada vez mais o que se conhece e o que se vai descobrindo. Quando te beijo, encontras nos meus lábios o compromisso de eternidade e eu nos teus saboreio igual intensidade. Renascemos e crescemos em amor todas as noites e todos os dias nesse abraço que nos embrulha numa entrega total.
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Na parede do quarto
Irrompe do teu corpo iluminado
toda a luz de que o mundo sente a falta
Não a que mais reluz. Só a mais alta
Só a que nos faz ver o outro lado
toda a luz de que o mundo sente a falta
Não a que mais reluz. Só a mais alta
Só a que nos faz ver o outro lado
do bosque onde o Futuro e o Passado
defrontam o presente que os assalta
num combate indeciso a que nem falta
o sabor de saber-se ilimitado
defrontam o presente que os assalta
num combate indeciso a que nem falta
o sabor de saber-se ilimitado
irrompe assim a luz entre os extremos
da mesma renovada madrugada
E vibra a cada instante um novo grito
da mesma renovada madrugada
E vibra a cada instante um novo grito
Com essa luz do grito é que nós vemos
que Passado e Futuro não são nada
apenas o Presente é infinito.
que Passado e Futuro não são nada
apenas o Presente é infinito.
David Mourão Ferreira
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Entre agora e daqui a pouco
Nós, que coleccionamos saudades e adoecemos nelas, aprendemos que é impossível sobreviver nos intervalos de tempo em que não somos completamente. Às vezes são apenas minutos, outras vezes horas, pouco importa porque as saudades não se medem pela medida do tempo. As saudades são a expressão do Amor e o Amor não contempla intervalos. Tenho saudades tuas ainda antes de te beijar e dizer-te 'Até logo', as saudades são constantes antes, durante e depois disso, porque moras na minha cabeça e não te sei deixar um segundo que seja. És o meu primeiro e último pensamento do dia e os meus dias inteiros são feitos de ti numa contagem decrescente para nos voltarmos. E porque te sei na mesma ansiedade para abreviar o tempo no mundo que não é nosso, abraço-te vezes sem conta nos minutos contados que passam sem nós. A intensidade com que nos esperamos e feita de saudade e da impaciência do amor que nos faz sentir a vida como algo absoluto e eterno. Aprendi contigo o Amor e hoje tenho a certeza de que quem ama tão completamente vive para sempre.
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Carta
Analogic, Sem título, 2006
Desculpa, meu amor, pelos dias que faltei aqui, por tudo o que não escrevi mas que te fui dizendo baixinho e ao ouvido. Não me faltam palavras porque as palavras fazem parte de um sistema de arranjos e combinações infinitos com milhares de palavras para arrumar na ordem e no propósito mais próximo do que somos, do que queremos, ou muito simplesmente do que gostaríamos de dizer ou fazer saber. Tenho páginas e páginas em branco e muitas coisas para te dizer sob a forma de palavras, palavras de Amor porque te sinto tudo em mim e porque te amo para além de tudo. Mas por mais que se diga e que se explique fica quase tudo por dizer quando sentimos o universo inteiro dentro do coração. Porque as palavras são insuficientes e limitadas, não explicam o inexplicável nem a intensidade do arrepio que nos percorre. Porque as palavras são pequenas e nelas não cabe o que somos tão completamente uma na outra. Porque tu e eu somos o infinito.
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Debaixo de chuva
Enquanto te dispo em pensamento vezes sem conta durante o dia, no que te quero e vou dizendo chove um mar inteiro de desejo onde aprendemos a respirar debaixo de água. E na vontade que te assalta de me despires também, perco-me e encontro-me em ti. Abraço-te milhares de vezes entre uma hora e outra e, em todas as vezes que te abraço, sinto-nos esta urgência irremediável de corpo contra corpo. Enquanto te dispo mentalmente o tempo custa menos a passar e, quando passa, corro a vestir-me de ti e a embrulhar-te o corpo com a minha pele feita de água incendiada pelo que a imaginação nos permite. Regresso-te debaixo de chuva intensa e descubro-te no mesmo temporal e o mar onde, em pensamento, mareava a minha vontade de ti encontra agora um oceano feito do desejo que nos navega, em simultâneo, a realidade. Na intensidade do que te sinto e tu a mim, abandono-me ao que choves de ti, aninhada nessa entrega de saudade que nunca chega ao fim.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
D. Quixote
Porque sou, como diz a canção, o cavaleiro andante que mora no teu livro de aventuras, podes vir chorar no meu peito, pois, sabes sempre onde estou. E porque me imagino esse cavaleiro andante, finjo que não preciso do que me faz falta para te levar para longe de tudo o que é mau, fugir contigo no meu cavalo de pau. E enquanto choras no meu peito, pedes-me a paz e eu quero dar-te o mundo porque a solidão é dura e o Amor um fogo que a saudade não segura e a razão não serena. Deixa-me embrulhar-te o corpo nos dias em que, fraco de lutar, te apetece ser criança e ouvir histórias que te façam feliz. Porque sou o cavaleiro andante, quero ser o teu respirar nas horas em que o vento frio te navega a alma e te transforma as noites em madrugadas de cristal. No teu livro de desventuras encontrarás sempre o chão seguro que te estendo sem precisares de quebrar o silêncio.
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Menos do que amanhã
Mais do que ontem, menos do que amanhã, porque é sempre mais mesmo que pareça impossível ser mais do que o infinitamente já é. E nunca será demais, certamente. Os dias passam e a vontade que nos fica é que nunca acabem em nós, mesmo sabendo que ninguém vive para sempre. A eternidade é o presente, o momento que construímos único e nos sentimos por dentro com a alma maior do que ontem e pronta a crescer outro tanto no dia a seguir. Os versos em branco que os poetas chamam de futuro são promessas que se começam a cumprir no aqui e agora que nos damos. Hoje somos muito mais do que fomos ontem à mesma hora. Amanhã seremos um dia a mais. O mundo acontece num dia, amanhã somos o tudo de hoje e o resto que está para vir. São os beijos do presente que multiplico amanhã porque hoje, ao teu lado, quero sempre tudo e procuro sempre mais. Somos infinitamente mais na soma dos dias que acontecem em nós, somos o mundo em construção e a certeza absoluta de amor que nos junta inseparáveis na alma e uma só no coração.
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
No teu poema
No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da senhora da agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um canto
chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro
Letra: José Luís Tinoco
Voz: Carlos do Carmo
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da senhora da agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um canto
chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro
Letra: José Luís Tinoco
Voz: Carlos do Carmo
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
A caminho de sempre
Porque Deus escreve certo por linhas tortas, porque caminhamos por trilhos irregulares mas sabemos onde queremos chegar, porque seguir em frente é aceitar o piso como parte da aventura de caminhar, porque te sinto em absoluta certeza em cada passo desequilibrado, porque firme e seguro é o Amor que nos embrulha a alma, por isto e por tudo o que não escrevo incapacitada pelo sono que me encolhe o raciocínio e me leva de volta a ti, amo-te mais do que ontem e menos do que amanhã. O hoje que vive entre passado e futuro é a nossa aposta - apostamos no que temos para chegar ao que queremos e temos tudo para conseguir. Temos a força rara e inquebrável do sentimento em que o coração nos embrulha. Somos mais do que um episódio de tempo, somos 'sempre' sem anos nem dias. É infinita a vontade de sermos Roma no fim de todos os caminhos. Nos passos que damos, todos os caminhos vão dar ao nós que nos guia a alma e nos inspira na direcção certa. Amanhã somos mais do que hoje porque a distância até ao 'eternamente nós' se encurtou. Estamos mais perto a cada minuto que passa e a intimidade de mais um dia em que nos descobrimos abraça-nos com a meiguice de quem confia e é de confiança. Gosto infinitamente do que te descubro quase sempre espontaneamente. Este 'amo-te' em que te embrulho noite e dia é feito à tua medida e estreado por ti, o único amor da minha vida, para ti que guardei a palavra que nunca disse nem senti. Gostar muito não é amar - amo-te.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Alto (a)mar
Quando, a dois passos de ti, acontece um eclipse, o mundo à nossa volta desaparece e só nós existimos em estado de total urgência. E no eclipse que acontece todos os dias, quase a toda a hora e sem distância segura, a transparência do olhar é uma viagem inadiável ao centro do corpo. Quero o que me adivinhas e o que te sei urgente deixa-nos ainda mais transparentes. Nos teus olhos submissos à vontade de nós, eu navego de alto a baixo, por entre ondas de um mar que conheço bem e nelas me abandono com a mesma entrega e submissão. Sabemos de cor a força que nos empurra e a intensidade do nosso marear. A luz que nos guia vem do centro e, nesse mar adentro, somos o eclipse de qualquer outra claridade. Não há porto que nos abrigue o desassossego infinito em que nos viajamos. Somos a tempestade e a bonança num encontro apaixonado de oceanos.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Parte descoberta
Descubro-te por dentro e por fora ao mesmo tempo que te passeio de alto e baixo todos os dias como se fosse a primeira vez. Nunca te descubro por inteiro porque encontro sempre mais da próxima vez. Porque não tens fim em mim. Porque há sempre mais do que eu já sei. Porque te procuro em partes de ti que tu mesma desconheces. Porque a intensidade com que te vivo não tem princípio nem fim. Desassossego por tudo e por nada, pelo que sinto e pelo que imagino, porque, em mim, estás em toda a parte mesmo nos instantes em que não estás comigo. Porque és a pele da minha pele, a parte de mim que não sei despir. Desassossego por este tudo que de tanto é infinito. Desassossega-me o brilho dos teus olhos que, longe ou perto, sempre me adivinham. Porque nos sabemos bem demais mas não o suficiente ainda. Porque nada é suficiente em nós, tudo é pouco quando nos sentimos o infinito.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
O que não se vê
Quando fecho os olhos, observo-te noutros ângulos de visão não completamente evidentes e nem sempre fáceis de explicar. Fico a olhar-te numa dimensão fora de tempo, sem antes nem depois, porque em tudo o que te vejo se impõe a ideia de 'sempre'. Existes em mim desde que eu existo e o 'nós' que somos hoje aguardava o instante que nos fez encontrar. E aconteceu sem esperar nem planear, encontrámos o que procurámos sem dar conta da procura, mas sempre conscientes da falta. Nascemos ao mesmo tempo, nascemos no momento em que alma fixa o que sente o coração. Do ponto de onde te observo, não existe vida antes de ti porque a vida é o fogo que nos arde dentro do peito e uma vontade de entrega por inteiro, é sentir o corpo em desassossego permanente, guiado pela voz do coração. A vida é a certeza do encontro de almas que esperam sem saber e acreditam para além do que os olhos encontram. O Amor é encontrar por dentro tudo o que se quer dar, é embrulhar com braços fortes quem se ama na ideia de 'sempre' e acontecer todos os dias com essa intensidade. O Amor em que te seguro não tem tempo nem medida, é tudo o que me encontro ao encontrar-te a ti.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Casa
Inês, Por Ali, 2006
Casa
Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura
Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura
Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração
DAVID MOURÃO FERREIRA
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Mais do que tudo
Quase a chegar ao fim da noite, demoro-me um bocadinho a pintar, em cores vivas, um quadro de saudades. Desassossego em cada tom pela intensidade com que te vivo. Desenho-te vezes sem conta no que te sei de cor e sei-te muito, tanto que não haverá nunca obra acabada. Porque não tens princípio nem fim, és infinita por condição do que te sinto em Amor. Menos do que este tudo em mim seria nada e não seria Amor porque o Amor é tudo por definição. E todos os dias és mais, somos mais de nós pelo muito que amadurece na alma sempre insatisfeita. Demoro-me na ideia de que o 'sempre' é esta construção dos dias com a intensidade do primeiro beijo. Os lábios e o desejo são os mesmos e a certeza cresceu e crescemos nós. Somos perfeitas nesta vontade partilhada de vencer as fronteiras do tempo. Amar para além de tudo é também acreditar na eternidade e confiar nas razões do coração. Tudo em nós é a força dessa razão. Não sei amar-te menos do que 'mais do que tudo'.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Nas memórias do sonho
Daqui a pouco estarei a dormir o pouco tempo que falta para me levantar. Deito-me e adormeço e sonharei contigo porque não sonho com outra coisa que não sejas tu. Ou, se calhar, não sonho, penso adormecida, convoco memórias, porque os sonhos fazem-se combinando recordações. Amanhã não me vou lembrar das memórias encontradas que o sono combinou numa ordem qualquer que não sei entender acordada. Mas sei que, em tudo o que sonhei, estavas tu porque te guardo em mim de coração fechado a cadeado. Por grande que seja a alma, o Amor é exclusivo e nunca lhe sobra espaço. Sonho-te de noite para matar saudades e entreter as horas que, não sendo muitas, são infinitas de olhos fechados. Sonho-te de dia para enganar o tempo e ter-te sempre à distância de um beijo, porque sinto saudades tuas mesmo no intervalo dos nossos lábios. Amar-te é acumular saudades no aqui e agora e sofrer o tempo que, lentamente, vai passando entre um abraço e outro. Adormeço de vida suspensa à espera de sonhos que invento para te reviver neste tanto que somos, infinitamente, uma na outra.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Um ano dentro do copo
nnpc, Doin' the Dishes (Fluids Series), 2002
Há um ano e poucos dias atrás um copo entornado sobre a mesa media as horas de ausência que passavam em nós. O vazio não tinha fim nem a tristeza de um 'nós' interrompido lá no fundo. E eu morria e tu morrias fora do copo. Subitamente, ou nem por isso, no Inverno passado dobraste a esquina que nos separava e seguraste o vidro com duas mãos mais fortes, mais seguras e decididas do que eu conhecia. E os estilhaços do copo caído fizeram-se cálice cheio de história e um destino por cumprir. Seguro um brinde nesse cálice que transborda o que somos dentro. O 'nós' irreversível em que nos reconhecemos não se quebra, não se gasta nem se acaba. Por frágil que pareça o cristal na nossa mão, a vontade da alma e do coração com que brindamos o destino é indomável. E a vida é feita destas vontades teimosas em que nos cumprimos em tudo o que nos prometemos a nós mesmos. Merecemos o sempre em que nos coleccionamos dentro deste copo renovado e intacto. Acontecemos infinitamente mais para além das palavras de amor que o transbordam. Somos uma, como sempre fomos, dentro e fora do copo.
Há um ano e poucos dias atrás um copo entornado sobre a mesa media as horas de ausência que passavam em nós. O vazio não tinha fim nem a tristeza de um 'nós' interrompido lá no fundo. E eu morria e tu morrias fora do copo. Subitamente, ou nem por isso, no Inverno passado dobraste a esquina que nos separava e seguraste o vidro com duas mãos mais fortes, mais seguras e decididas do que eu conhecia. E os estilhaços do copo caído fizeram-se cálice cheio de história e um destino por cumprir. Seguro um brinde nesse cálice que transborda o que somos dentro. O 'nós' irreversível em que nos reconhecemos não se quebra, não se gasta nem se acaba. Por frágil que pareça o cristal na nossa mão, a vontade da alma e do coração com que brindamos o destino é indomável. E a vida é feita destas vontades teimosas em que nos cumprimos em tudo o que nos prometemos a nós mesmos. Merecemos o sempre em que nos coleccionamos dentro deste copo renovado e intacto. Acontecemos infinitamente mais para além das palavras de amor que o transbordam. Somos uma, como sempre fomos, dentro e fora do copo.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
O que não vem nos livros
Entre o sonho e a realidade estamos nós. Procuramos nos livros e encontramos sempre menos do que esperamos. Não temos explicação. Somos mais do que lemos ou ouvimos dizer. Somos tudo e o que resta para além disso. Quando fecho os olhos encontro-nos sempre em mil lugares não muito diferentes do mundo que te quero mostrar. Depois acordo e a luz da manhã devolve-me a graça de um beijo quente na pele dos lábios. Entre o sonho e a realidade acendemos dia após dia de improviso e intensidade. A nossa pressa de viver é a pressa do Amor que não vem nos livros nem se ensina porque o Amor vem da alma que se ilumina tocada pelo coração. O Amor estala-nos a pele de dentro para fora e faz-nos correr para além do espaço e do tempo. Sem explicação, entre o sonho e a realidade, vivemos duas vezes porque vivemos completamente o que poucos sabem sentir por inteiro e viver infinitamente. Somos esse inexplicável que vai de sempre à eternidade.
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Recados na janela
A janela de onde te escrevo é a tua, a minha, a nossa certamente, e as palavras que debruço todas as noites nela são pedaços de sol nascente que quero deixar nos teus olhos quando acordares, para que nunca te falte a luz com que me amanheces todos os dias. Esta janela que abro às escuras, devagarinho, para deixar entrar as estrelas por onde vagueia o meu sono, é a mesma por onde espreito para saber se já dormes. E enquanto me adormeces no mesmo abraço, aqui regresso entre sonhos para te deixar, de surpresa, beijos num recado. As minhas noites são mais longas porque estou mais tempo acordada a pensar em ti. Mas logo te volto sem deixar passar muito tempo entre o aqui e o agora, porque ainda que em nós não haja longe nem distância, tenho medo que acordes sem o meu abraço nos minutos que fico a abraçar-te por palavras nesta janela que te acolhe na paisagem infinita do meu Amor. Aqui somos o eternamente que nos prometemos e que vamos sabendo cumprir tal como sonhamos.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Je t'aime...
Je t'aime non seulement pour ce que tu es mais pour ce que je suis quand nous sommes ensemble.
Roy Croft (1919-1977)
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Em frente
Anabark, The only way is up, (OUT07)
Não conheço outro caminho senão aquele em que nos escolhemos para sempre e mais um dia. E caminhamos no sentido ascendente e a certeza de onde queremos chegar. Construimos cada dia mais perto do que sonhamos. Não é longa a caminhada, tem a medida exacta dos passos que sabemos justos e seguros. Caminhamos num abraço e a intensidade que nos embrulha marca o ritmo e aproxima-nos do horizonte. Para trás deixámos vidas em que nos entretivemos à espera de nós; para a frente ganhamos a vida por inteiro, a vida em que somos completamente, com total urgência e sem tempo a perder. Para a frente, acontecemos e cumprimo-nos neste infinito que somos. A vontade que nos orienta o passo é o Amor que nos descobrimos sempre mais e o Amor vai aonde quer chegar. E, para além duma saudade constante feita do que nos falta andar, somos nós o caminho e o Amor a nossa eternidade. Somos este tudo que sentimos e o que sonhamos vale toda essa saudade.
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Força
Não te sei explicar como nem porquê, sei apenas a força que vem de dentro e que é suficiente para mover uma montanha. Sei que querer muito é chegar a todo o lado. Sei que a vontade é mais forte do que a razão e que há em tudo uma razão, mesmo que não tenha lógica nenhuma. Sei que amar é ter força para dar e segurar ao mesmo tempo, mas também cair ao encontro de um abraço, porque, às vezes, precisamos mais dos braços de quem amamos do que de certezas em nós mesmos. Se te digo, meu amor, que a minha vida és tu, é porque te sinto, em mim, a própria vida. Antes e depois de ti é espaço vazio e tempo gasto em nada. Morri muitas vezes nos dias que ficaram entre nós e nesse intervalo de existência suspensa em que eu te adivinhava, animei a alma de uma força contrária à razão. É com essa força que te abraço a eternidade. Este querer que te embrulha noite e dia é absoluto e irreversível assim como a certeza de que somos mais do que razão, somos a força do Amor. Somos por inteiro no que acontecemos por força do Amor.
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Por dizer
Lee Rudd, The Chain, 2005
A pressa de te chegar é tanta que tropeço nos milhares de coisas que tenho para te dizer. E o que tenho para te dizer é tão simples que invento formas complicadas de o dizer só para demorar mais tempo contigo nessas coisas que te segredo ao ouvido. O que tenho para te dizer é simples e infinito. São coisas que sinto e que tenho urgência em revelar, mesmo que tu me saibas em pormenor. Tenho sempre pressa de te falar de amor - posso não ter tempo de te dizer tudo e, por isso, vivo a ansiedade de querer contar tudo de uma vez, ainda que saiba que nunca chegarei ao fim das frases que componho e descomponho à espera de te surpreender. Lembro-me de tudo que disse até agora e não tenho dúvidas quanto ao que te vou dizer amanhã ou no dia seguinte ou para o ano que vem. E quando me faltarem as palavras, os meus olhos nos teus falarão por mim. O infinito do que sinto não se fica nas palavras, alastra-se por debaixo da minha pele, desde a alma ao coração. Posso dizer que te amo de milhares de maneiras, mas continuo a começar todas as frases com 'Meu Amor'... tão simples quanto infinito.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Frágil
É porque amamos tanto que a alma, por vezes, adoece na ambiguidade da palavra ou num erro de cálculo de um gesto desastrado. Às vezes entramos numa loja de cristais e deixamos tudo em cacos. Às vezes julgamos o todo pelas partes porque estamos contrariados. Às vezes damos demasiado importância a coisas sem importância nenhuma e dizemos coisas em voz alta que nem nos passaram pela cabeça de mansinho. Ouvimos e dizemos coisas que não queremos nem ouvir nem dizer. Coisas sem sentido que sabemos que nos adoecem e não impedimos que o absurdo aconteça, porque acontece o absurdo cada vez que não te oiço nem te vejo. Porque o absurdo é esse instante entre duas verdades numa balança. Porque a verdade tem um peso absoluto, imesurável, em cada um de nós. Convencer-me do contrário é tornar-me surda ao argumento, andar em círculos em opiniões divergentes. Convercer-te a ti é desencontrar-te em cada ideia, perder-te nas palavras fora de contexto. Só porque amamos demasiado isto acontece, por vezes, sem razão. Porque te quero demasiado bem tudo tem uma importância do mesmo tamanho, mesmo a irrelevância das coisas sem sentido. Sei que falho ser inteligente e falo com o coração quente, mas em tudo o que falho há Amor para sempre, porque o Amor é a incondicionalidade de saber amar também a imperfeição. Amar-te tudo é saber-te humana e distinguir-te do resto do mundo como o Amor da minha vida. Assim desejo eu fazer tão completamente parte de ti, mesmo cheia de erro e abastada imperfeição. Amar por inteiro é abraçar a fragilidade e compreênde-la de alma e coração.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
A dormir
Adormeci e sonho. Sonho-te e sonho que adormeci. Longe é para dentro, por onde passo quando adormeço à procura de ti. Longe é a distância que percorro nesses lugares que não reconheço nem nunca vi. Longe é esse outro mundo onde o tempo pára e o espaço nem sempre tem sentido. Descubro-te numa paisagem diferente, como num pedaço de filme, e corro a agarrar o sonho que me abraça a ti. Aproximo-me até um beijo de distância e pergunto-te 'Estavas a sonhar comigo?', e espero que me digas que sim. E mesmo que não te lembres como chegaste a mim, pouco importa, aninho-te no que sonho, feliz, que te vivo enquanto o corpo descansa e espera por ti. Sonho-te dia e noite no desfilar das minhas horas lentas cheias de impaciência de te chegar. Longas são as noites que passo sem dormir. Lentos são os dias que passam sem me acordares.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Prisioneira
U-Turn / Anabark, Algemadas (SET07)
Voluntariamente prisioneira do que te descubro todos os dias e das vidas que me quero embrulhada em ti, adormeço num beijo sem tempo e espero-te em sonhos de olhos fechados. Não preciso de luz, a claridade com que te vejo vem de dentro, do que alma te colecciona em mãos cheias de assombro. Reparo-te mesmo a dormir pelo que te sinto o meu centro de gravidade. Reparo-te mesmo quando tu não estás pelas saudades que ficam em teu lugar. Não sei perder-te de vista, tudo és tu e a vontade de sermos nós infinitamente orienta-me os sentidos. Nem a noite te esconde nem o dia te ilumina, adivinho-te à luz do que te sinto em mim desmesuradamente. O sorriso dos teus olhos nos meus estende-me os braços que me prendem a ti. Amanhã quando acordares, chega-te a mim, desperta-me devagarinho e deixa-me ficar sempre assim, fechada no teu coração eternamente.
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Caminhar sobre as águas
Embrulhar-te no meu abraço é segurar o tempo à beira rio e dizer-te que os meus braços à tua volta não têm fim. Abraçar-te é garantir-te firmemente que não acabamos nas margens do rio. Seguro-te a certeza de um presente que é passado e futuro todos os dias com a mesma intensidade. Quando te encostas no meu ombro sentes-me a vontade de caminhar para além do sonho. E enquanto passeamos por cima e por debaixo de água, mergulhamos à procura do tempo perdido e, nesse entretanto, encontramo-nos completamente neste tudo com que erguemos pontes do sonho até nós. O rio navega-nos um sentir do tamanho de um mar infinito e intemporal. E se os nossos corpos se confundem embalados pela água é porque somos um só coração e uma mesma alma. Quando te espreito por dentro e te espero em cada beijo, regresso-me por inteiro por seres a minha melhor parte e porque parte de ti sou eu. Acontecemos no encontro e somos muito mais lado a lado, na soma das partes como um todo único e indivisível. Muito para além do tempo moramos nós, maiores do que a vida, eternamente Amor.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Quarto duplo
Anabark, Opera (SET07)
Para mais tarde recordar o que as paredes que nos observam seguram através dos anos, porque há momentos que fazem o tempo e a vida, porque é impossível esquecer pormenores que nos viveram e que testemunharam a nossa existência neste tudo que se estende como um mar sem princípio nem fim, colecciono-te em mil cores, formas e feitios. Porque existes em tudo à minha volta e eu só existo por inteiro no caminho que somos nós, porque és a parte de mim à qual me regresso depois de mil anos à espera de ser completamente, invento estradas de palavras em que todos os cruzamentos me levam a ti. Porque te adivinho sem saber como e te pressinto e sei porquê, porque me sei e sabendo-me sei-te a ti, porque nem a distância nos separou e nunca desistimos, aprendo a vida através do que me vai na alma e na alma tenho a calma do que me ensinou o coração. Amor és tu no que sinto tão completamente como o ar que respiro. Amor é a voz que oiço quando me falas ao ouvido. Amor é o que o coração explicou à alma num beijo que ficou para sempre tatuado debaixo da pele. Sinto-te inevitável, eterna, uma pedra precisosa que guardo num abraço que nunca chega ao fim. Colecciono-te milímetro a milímetro em pleno desassossego dentro e fora de mim.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
We will always have Paris
Porque te sonhei de mão dada pelas ruas de uma cidade do nosso tamanho e porque te quero com a mesma intensidade da luz eterna que a ilumina, passeei-te de corpo, alma e coração seguindo o mapa do Amor. Não pergunto direcções, sei o quero e por onde vou, mesmo quando baralho o norte com o sul. Em todos os meus pontos cardeais estás tu e tu és do tamanho do mundo. Passear-te é viajar-te apaixonadamente e sem destino porque é infinita a minha vontade de encontrar-te em cada esquina. E não existem distâncias impossíveis quando queremos tão intensamente a viagem. Todo o longe é perto quando o abraço não tem fim. Nos beijos com que nos celebrámos na cidade que inventou o perfume, caminhámos perfumadas pela certeza de que o tanto que temos é infinito e incontornável. Uma na outra somos a vontade de sempre em qualquer lugar do mundo.
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Quando o mundo mudar de sítio
De que serve um castelo no fim do mundo, quando o que queremos salvar e proteger fica do outro lado? A fortaleza, que será também a minha prisão, não é longe, fica à distância de um mundo de pernas para o ar. 'Longe' pode ser perto, ao virar da esquina ou até dentro da mesma casa. Mas 'longe' é também deixar de ter, ficar com menos, e ficar com menos quando se tem pouco faz a diferença de deixar de ser perto o tudo e o tanto que se tinha. Ainda que a distância seja um cálculo relativo que varia em função do que nos diz o coração, o 'longe' e o 'perto' medem-se na diferença entre uma mão cheia de coisa nenhuma e qualquer coisa sempre à mão. Ainda que o coração não meça a distância entre o ter e o não ter, sabemos que 'longe' é levar mais tempo a chegar, é escolher os dias para chegar, longe é ter a certeza da improbabilidade de te tocar ao virar da esquina. A esquina não estará lá porque o mundo vai mudar de sítio. Lado a lado continuaremos a inventar e a desenhar caminhos e pontes que abreviem o 'longe' que nos sobra da distância do tempo que não temos.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Ao mesmo tempo
Anabark, Auto-retratos (ABR07)
Mesmo que ninguém acredite, nós sabemos que é verdade. Por muito que pareça impossível, sabemos que é real. Por ser tão verdadeiro, talvez por isso pareça inacreditável. Acontece, acontece-nos quando nos acontecemos. Porque corpo obedece à alma e a alma conhece bem a vontade de sermos muito mais do que um momento, reconheço em nós um coração único. No Amor acontecemos ao mesmo tempo e o Amor é tudo, prazer e dor, tristeza, alegria e felicidade, e muito mais. Acontecemos ao mesmo tempo no tudo e no muito mais que é o Amor. Somos mais do que perfeitas uma para a outra, num tempo verbal de existência partilhada, mais-que-perfeito, somos infinito. Se te digo que o Amor é maior do que a vida é porque nem a morte, que é para sempre, detém o que se reveste de eternidade. Acontecemos ao mesmo tempo numa metafísica impossível de explicar. A consistência do que não se explica surpreende-nos talvez, mas a intensidade que nos transcende é um segredo da alma que o coração reconhece incontornável. Se acontecemos em simultâneo somos Uma no que está para além do palpável.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Lentamente
Adormecer lentamente, sonhar entre beijos e acordar devagar. As nossas noites começam e acabam em nós. Dormimos só às vezes e enquanto não dormimos vivemos intensamente um abraço debaixo de água sem pausas para respirar. O dia nasce depressa e nós acordamos sempre devagar. A única urgência que nos conheço é a de ficar de corpo e alma uma na outra. A cama vazia de nós perde a graça e nós morremos de saudades. Adormeço lentamente a pensar em ti, sonho-te se adormeço e acordo devagar, sem pressa de fazer a cama desfeita pelas horas em que nos desarrumamos tão completamente que amanhece e anoitece quase ao mesmo tempo sem nos darmos conta. Demora-me esta ansiedade de quem te quer voltar à velocidade da luz porque sei que nunca te chego depressa demais e cedo menos ainda. Demora-me saber que tenho de esperar. Demoram-me as memórias de nós encostadas na almofada e a antecipação do abraço em que nos quero infinitamente. Demora-me esta vontade de te mergulhar com a mesma urgência com que te respiro como sopro de vida. Na cama, demasiado arrumada, repousa a vontade de me perder contigo e de nos encontrarmos de corpo e alma em nós, acordando lentamente, vivendo intensamente. Adormecemos de cansaço, sonhando-nos amor sem fim... o coração não dorme.
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